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Já foi o tempo em que o bodysurf era tido apenas como uma brincadeira que qualquer pessoa fazia quando ia à praia. Claro que ainda qualquer um pode chegar na beira do mar e pegar algumas “marolinhas”, mas o esporte tem passado por uma revolução e isso é incontestável.
E por “revolução”, quero dizer, desde a realização de eventos nacionais e mundiais, criação e combinação de manobras, programas de televisão e também o desenvolvimento de técnicas e equipamentos para melhorar a performance.
Nesse sentido, uma galera do Rio de Janeiro tem atraído a atenção de muita gente. Fundada há pouco mais de um ano, a Lifeguard Bodysurfers surgiu de uma forma espontânea, quando o carioca Adilson notou que seus amigos estavam se dispersando em função da convocação de alguns para o cargo de guarda-vidas.
O trabalho e a responsabilidade começaram a falar mais alto no mesmo ritmo que causava o afastamento da turma. Com isso, Adilson criou um perfil no Instagram e logo de cara ganhou 100 seguidores. Após terem combinado uma queda de bodysurf no posto 10 da praia do Recreio, esse número mais que dobrou e veio então a pergunta: “Vocês dão aula de bodysurf?”.
Ao enxergar a oportunidade que tinha em mãos para alavancar o esporte e ir muito além de um clube de bodysurf, Adilson contatou seus amigos mais próximos e propôs a formação de uma empresa. Imediatamente, Bruno Rocha, Isabele Lopes e Laércio Almeida abraçaram a ideia, uma vez que todos são extremamente apaixonados pelo bodysurf.
E por que não transformar um quarteto em quinteto? Foi exatamente o que fizeram ao convidar Marcelo Amaral “Cabelo”, um bodysurfer de 44 anos de idade, adepto do esporte desde seus 8 anos e, por sinal, fundador do projeto Andorinhas do Mar — a primeira escola de bodysurf que se tem conhecimento no estado do Rio de Janeiro.
Mas onde pretendo chegar contando tudo isso? Bem, para entendermos a contribuição da Lifeguard Bodysurfers para a evolução do bodysurf é importante termos a percepção de sua trajetória. Se apenas dar aulas fosse o suficiente para essa galera, hoje não teríamos em especial duas coisas.
Para quem não sabe, tow-in surfing é uma uma técnica criada nos anos 90 na qual se utiliza uma moto aquática para rebocar o surfista, facilitando sua entrada na onda assim como seu resgate caso venha a sofrer um caldo. Pensando no bodysurf, isso é fantástico uma vez que a dificuldade de realizar a entrada em ondas maiores acaba se tornando um empecilho para surfar a onda em si.
Inclusive, a ideia surgiu após uma trip para a Ilha da Caveira ter sido realizada pela Lifeguard bodysurfers, Soul Bodysurf, juntamente com Mauricio Jordan e Ricardo dos Santos da LeblonFins. Juntos, cogitaram a hipótese de adaptar a técnica de tow-in para aplicar no bodysurf visando superar os limites do esporte, mas sem fazer o uso de roupas especiais como fez Henrique Pistilli, conhecido como Homem Peixe, um tempo atrás.
Como toda ajuda é sempre muito bem-vinda, a turma contou com o apoio da experiente Surf Resgate que é um nome muito forte quando se fala em infraestrutura e segurança no mar. A propósito, a Surf Resgate é quem realiza a o apoio e a segurança aquática da etapa brasileira da World Surf League (WSL).
E se é com os especialistas que devemos aprender, nesse caso não seria diferente. Logo após um treino no Pontão do Leblon com Mauricio e Ricardo da LeblonFins, a Surf Resgate proporcionou aos integrantes da Lifeguard Bodysurfers a incrível oportunidade de fazer o curso K38 — curso de formação de operadores de resgate de moto aquática.
Esse foi o combustível ideal para uma veia pioneira pulsar mais intensamente. E desde então, a equipe da Lifeguard Bodysurfers está buscando o aperfeiçoamento da técnica em conjunto com os bodysurfers de ondas grandes do Rio de Janeiro.
Segundo o bodysurfer Mateus França, que conquistou o 3º lugar no ranking do Kpaloa Brasileiro de Bodysurf 2019 e é patrocinado pela Lifeguard Bodysurfers “A melhor maneira de entrar na onda até o momento foi se lançando da moto aquática na parede da onda, com e sem o auxílio da handplane.”
Mas, ainda assim, o impacto do corpo na água ocorre e acaba por frear a velocidade do atleta na onda.
Sabendo que nada se constrói do dia para a noite e que quando falamos em mar precisamos ter a consciência de que se algo der errado vidas serão colocadas em risco, o entrosamento de uma equipe se faz crucial.
Não se trata de apostar apenas em equipamentos de alto padrão, mas sim contar com pessoas alinhadas e preparadas para tudo que pode acontecer. E é essa linha de raciocínio que a Lifeguard Bodysurfers tem percorrido como confirmado pela fala de Isabele Lopes: “Estamos investindo em moto aquática, treinamentos para os atletas e os operadores (da moto), pois acreditamos que muito em breve teremos uma nova modalidade para as ondas grandes, elevando assim o nível do surfe de peito no mundo e mostrando a evolução do nosso esporte”.
Atualmente no Brasil, diga-se de passagem, há somente duas mulheres operadoras K38 e uma delas é Isabele. Extraordinário!
Claro que para alcançar tais feitos e colaborar para a visibilidade do esporte, a Lifeguard Bodysurfers recebeu apoios fundamentais como da Apneia Surf Brasil, LeblonFins, Raízes Training, dos fotógrafos Sidney de Barros (@dbarros06) e Thiago Katona (@minhas_observações) e tantos outros. E quem diria que o reconhecimento viria a nível nacional? Adilson revela que: “Hoje a galera toda do Brasil conhece a Lifeguard Bodysurfers e a filosofia de vida da equipe, mas isso aconteceu graças a uma combinação de pessoas que amam o esporte e que juntas estão trabalhando dispostas a expandir o bodysurf”.
E se o tow-in já era um motivo para as pessoas olharem para a Lifeguard Bodysurfers enxergando um futuro promissor, não precisou de muito para ter certeza que o futuro já era, na verdade, o presente com o lançamento de uma roupa de neoprene.
Ao se tornar a primeira bodysurf shop do estado do Rio de Janeiro comercializando bermudas, camisetas, lycras e sungas, a equipe desenvolveu em parceria com a Mormaii e os bodysurfers Briguitte Linn e Juliano Dias, o wetsuit BSL-Mormaii específico para o bodysurf.
E qual a novidade? De acordo com Marcelo Cabelo e Bruno Rocha, respectivamente, atleta de bodysurfer e o outro aluno de curso de guarda-vidas militar CBMERJ, que inclusive faz uso do wetsuit para auxiliar no salvamento aquático: “Nas configurações as quais essa roupa foi desenvolvida, a mesma proporciona o dobro de deslize do atleta na onda e oferece 100% de flutuabilidade, sem a necessidade de mover um único membro”. Isso porque a maior parte do material utilizado é totalmente emborrachada atendendo às peculiaridades exigidas pela modalidade.
Considerando não apenas seu lazer, mas também seu trabalho, o guarda-vidas civíl Laércio Almeida atesta que a roupa é um diferencial para os profissionais de resgate, pois sua extrema flutuabilidade ajuda a sustentar a vítima de afogamento de uma forma menos cansativa. Sem mencionar o fato ser capaz de chegar mais rápido e com menos esforço até a vítima já que o deslize é uma de suas vantagens.
Em outras palavras, a pessoa que vestir esse wetsuit sentirá conforto e verá sua performance acontecer sem que a roupa possa influenciar negativamente. Aliás, preciso pontuar aqui o quão desagradável é para nós bodysurfers quando temos que vestir roupas de neoprene.
Geralmente não gostamos porque nos sentimos presos, sem mobilidade alguma, mas como praticamos um esporte onde o nosso corpo fica a todo o tempo quase que totalmente debaixo d’água o wetsuit é essencial. Mas, creio em uma reviravolta em nossas preferências com a chegada desta roupa produzida sob detalhes especialmente para a nossa modalidade.
Diante disso tudo e analisando a evolução do bodysurf percebemos o quão a modalidade tem a ganhar com todas essas invenções. Invenções essas que talvez muitas pessoas possam ter desacreditado no início, principalmente aquelas que não estavam envolvidas no processo. Mas a mente humana é criativa e brilhante quando se fala em quebrar paradigmas, superar limites e transformar realidades. Nesse momento estamos vivendo um dos melhores momentos do bodysurf.
Para finalizar, escolho o relato de um praticante de vários esportes náuticos e ex-atleta de Ironman, que ao lado de Mauricio Jordan criou o método LeblonFins de aquacidade extrema. Para Ricardo: “O bodysurf é um complemento essencial para qualquer atividade praticada no mar. Com esse esporte você atinge a sua verdadeira capacidade de enfrentar situações adversas no mar, com total segurança e suporte. Daí a importância em nos unirmos para estudar e criar meios, técnicas e equipamentos a fim de desenvolver o surf de peito progressivamente”.
Em suma, temos então o que chamo de ascensão do bodysurf sem a perda de sua real essência: a diversão e adrenalina de surfar uma onda com o próprio corpo.
Aloha
Letícia Parada
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