Entendendo a Classificação Funcional da Paracanoagem
Entenda como funciona a classificação funcional da Paracanoagem, suas diferentes classes, regras e critérios
Aloha Galera! Chegamos em uma parte importante da nossa série de artigos desenvolvidas especialmente para o Aloha Spirit Mídia. Esta série de artigos é subdividida em quatro grandes blocos, onde no primeiro estamos trazendo para vocês assuntos da origem, cultura e tradições do va’a. Neste quinto artigo, vamos fechar este bloco falando da anatomia das canoas polinésias, mais especificamente das canoas havaianas.
Você consegue identificar cada parte de uma canoa? Tenho certeza que o casco, ama e iakos você identifica rapidamente, mas e as outras diversas particularidades de uma canoa havaiana?
Neste artigo vamos aprender em detalhes as diversas partes de uma canoa long boat (de passeio e competição) e sendo uma embarcação consideravelmente grande, ela tem muitos detalhes. Possui partes principais como um casco, um estabilizador e braços de ligação entre este casco e o estabilizador.
Veja a seguir o conceito para cada parte de uma canoa havaiana com algumas imagens de exemplo.
Por: André Leopoldino, capitão do Tribuzana Va’a e instrutor/desenvolvedor do Curso Básico de Va’a
Kino: É a parte principal da embarcação, ou seja, o casco da canoa que mede aproximadamente 14 metros de comprimento, 50 centímetros de largura e 50 centímetros de altura. No dicionário havaiano dos autores Mary Kawena Pukui e Samuel H. Elbert, o significado de hull (casco em inglês) tem duas traduções, sendo Kino e Ka’ele. Kino é traduzido como algo além de um casco de uma embarcação, com um sentido maior que leva a entender o casco como se fosse uma pessoa, um indivíduo, algo espiritual.
Ama: É um estabilizador ou flutuador que geralmente fica do lado esquerdo do casco, fazendo um contrapeso necessário para estabilizar a canoa. Estabilizador em inglês significa outrigger, ficando fácil de entendermos por que o esporte é oficialmente chamado Outrigger Canoe (canoa com estabilizador) pelos americanos desde meados dos anos 70. A parte da frente da ama é chamada de lupe, enquanto, a parte de trás é chamada de kanaka.
‘Iako: São os braços de ligação entre o casco (kino) e o estabilizador (ama). Geralmente feito em madeiras arqueadas para deixar a ama no ângulo correto em relação ao casco e para que as ondas passem livremente por baixo dos iakos. Os taitianos chamam os braços de ligação das suas canoas de iato e na Nova Zelândia de kiato. Aqui no Brasil podemos encontrar uma forma aportuguesada da palavra como iaco.
Wae: A wae é uma peça em madeira laminada com fibra de vidro juntamente com o casco (kino) onde amarramos as extremidades dos iakos. Essa amarração iako/wae pode ser feita da forma mais tradicional havaiana com cabos em diversas técnicas de fixação (rigging). Nos clubes de va’a é muito comum realizar a amarração com câmara de pneus de bicicleta ou fitas com catracas para maior agilidade na montagem/desmontagem das canoas. A wae precisa ser uma peça muito forte, visto que, por ser o ponto de ligação do casco e ama através dos iakos, ela recebe toda a pressão durante as ações das ondas e ondulação. Uma outra função importante da wae é manter a parte aberta do casco firme e segura.
Puka: São os furos na lateral do casco da canoa, utilizados para passar os cabos de amarração da wae com os iakos, quando feitos pelas fitas com catracas ou tradicionalmente por cabos (‘aha).
Muku: É a parte extrema direita do iako que fica para o lado de fora da canoa. É no muku que o remador apoia o seu pé para iniciar o procedimento de huli. Quanto maior for o muku, mais próximo a ama está do casco e isso poderá deixar a canoa mais rápida, mas também ela poderá ficar mais instável e suscetível ao huli.
Mo’o: São as bordas laterais superiores da parte aberta do casco. É comum que o mo’o tenha uma ripa de madeira laminada em fibra de vidro juntamente com o casco da canoa, servindo como uma sustentação longitudinal em toda a borda superior do cockpit aberto da canoa havaiana. Logo abaixo do mo’o existe um espaço aberto que é usado para fixar a capa (ou saia) que protege da entrada de água na canoa em competições em mar aberto.
Noho: São os bancos da canoa, e aqui é importante analisarmos que os bancos não possuem somente a função de servir de assento para os remadores. O noho serve para dar sustentabilidade a toda a parte aberta do casco, juntamente com o mo’o e a wae. Como o noho é laminado às laterais da canoa, ele serve justamente como uma ligação entre um lado e outro e como existem vários bancos essa ligação acrescenta em sustentabilidade para toda a canoa. Chamamos de pepeiao a estrutura que fixa o banco na lateral do casco da canoa, como se fossem “orelhas”.
ATENÇÃO! Teremos um artigo para falar somente sobre as funções de cada banco, além de outros detalhes importantes de cada posição.
Kupe: O kupe é a parte da canoa que funciona como um deck, fazendo o fechamento superior do casco em sua proa e popa. Distintamente, existe o deck dianteiro e o deck traseiro, ou também podemos chamar de deck da proa e deck da popa. Os nativos havaianos chamam estas partes da canoa de kupe ihu (proa) e kupe hope (popa).
Manu: O manu é uma extensão do kupe que se eleva de forma harmônica para cima nas extremidades da canoa em sua proa e popa, fazendo uma junção do deck (kupe) com o casco (kino). Na frente da canoa (proa) o manu é chamado de manu ihu e na traseira da canoa (popa) o manu é chamado de manu hope.
Olhando a grosso modo, podemos pensar que o manu é uma peça decorativa, visto que, em muitas canoas polinésias antigas os manu ihu e hope possuem formas identificando principalmente um pássaro (significado de manu em havaiano), mas além deste caráter decorativo, o manu é uma peça rígida e construída para absorver os impactos das ondas ou de possíveis obstáculos. Observando a canoa, não existe uma divisão entre o kupe e o manu visível a olho nu, onde muitas vezes ambos são chamados de manu.
Moamoa: Para os nativos havaianos o moamoa é um tipo de ornamento ou desenho localizado ao final do manu hope. No Brasil é muito comum chamar o “banco 7” da OC6 de moamoa. Nos clubes, muitas vezes quando já existe seis alunos para remar, o leme senta no início do kupe hope como se fosse um sétimo banco, onde muitas vezes identificamos esse banco de moamoa.
Pale kai: É uma peça extremamente útil que funciona como uma proteção contra a entrada de água pela proa da canoa, principalmente em mares mais agitados e com ondas vindas de frente.
Pika’o: São tanques de flutuação ou caixas estanques, localizados na proa e na popa da canoa para mantê-la flutuando em caso de inundação ou huli. Em algumas canoas é comum encontrar uma pequena peça (bujão) para saída do ar que durante o dia aquece devido ao calor. Outras canoas possuem uma caixa de inspeção.
Existem canoas com tanques de flutuação com todo o seu espaço vazio, mas também canoas que possuem materiais como isopor ou até mesmo garrafas pet. Esses materiais ajudam a manter a canoa flutuando em caso de choques com pedras que possam causar uma rachadura e a entrada de água nos tanques.
Interessante saber identificar cada parte da uma va’a não é mesmo? Em sua próxima remada tente identificar estas partes na canoa que você irá remar, isso lhe ajudará a consolidar esse conhecimento.
Nestes primeiros cinco artigos fechamos um bloco de assuntos muito importante para que todos os remadores possam entender a origem do va’a no Brasil e no Mundo, bem como, os diversos detalhes referentes as canoas polinésias. Para os próximos artigos teremos um bloco de assuntos que envolve diversos detalhes sobre a remada, como por exemplo: conceitos, fundamentos, as fases da remada, a posição do corpo e as funções de cada banco. É muito assunto importante que ainda vamos ver por aqui galera, não deixem de ler com atenção cada um destes artigos ok? E não se esqueçam que todo esse material tem origem no Curso Básico de Va’a e lá você poderá se aprofundar em todos estes assuntos, bem como, assistir videoaulas iradas e testar seus conhecimentos em exercícios de avaliação para cada capítulo do curso. Um big aloha!
WEST, Steve. Outrigger Canoeing The Ancient Sport of Kings – A Paddlers Guide. 2ª Ed. Batini Books, 2010.
Pukai, Mary Kawena and Elbert, Samuel H. Hawaiian Dictionary – Hawaiian language and English language. Edição Revisada e Ampliada, 1986.