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No litoral paulista, a profissional de Educação Física e especialista em Educação Ambiental Leticia Parada, agora doutoranda em Ciência e Tecnologia Ambiental, utiliza o esporte como ferramenta de enfrentamento da problemática dos plásticos nas praias
O esporte sempre esteve presente na vida de Leticia Parada, pesquisadora e professora de Educação Física nas escolas da Prefeitura de Praia Grande (SP). A arte de desafiar ondas surfando com o próprio corpo ao mesmo tempo em que é proporcionado um contato especial e direto com o oceano fez com que Leticia se apaixonasse pelo bodysurf, tornando-se uma praticante assídua do esporte.
No entanto, a presença massiva de lixo nas praias que frequentou ao longo de muitos anos levou a um incômodo que se transformou em uma missão. No caminho para o mar e até mesmo em dias que não havia onda, Leticia coletava os lixos que encontrava nas praias e compartilhava no Instagram para estimular outras pessoas a fazerem algo semelhante, de modo a zelar e preservar a natureza.
Seu apreço pelo ambiente natural, em especial pelos oceanos, serviu de motivação para ingressar no curso de Doutorado em Ciência e Tecnologia Ambiental (Universidade Santa Cecília) com o intuito de estabelecer uma aproximação maior entre o esporte e o meio ambiente, a ponto de propor mudanças práticas e efetivas. Nesse sentido, seu projeto de pesquisa do Doutorado conta com o monitoramento de resíduos que alcançam a praia do Sangava (Guarujá, SP), local muito frequentado por remadores amadores e profissionais. Assim como a doutoranda desenvolveu uma metodologia de reciclagem mecânica, sem o uso de aditivos químicos, que envolve a transformação dos plásticos coletados nas praias em handboards, pranchas para a prática de bodysurf.
Desde 2019, quando foi voluntária no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha e morei na ilha, Leticia começou a estudar sobre a reciclagem de plástico e passou a buscar financiamento em prol de uma proposta de reaproveitamento deste material, onde a economia local, o esporte e os oceanos seriam os grandes beneficiados. “Quatro anos depois, muita coisa mudou na minha vida e esse propósito não se perdeu ao longo do caminho, pelo contrário, cresceu muito. Felizmente conseguimos desenvolver pranchas 100% compostas por plásticos retirados dos mares e areias das praias do litoral brasileiro, sem a necessidade de aplicação de aditivos”, conta a bodysurfer.
Além das handboards, Leticia está desenvolvendo outros materiais para a prática de esportes de praia, que em breve serão compartilhados nas redes sociais. O fato é que a presença de plástico nas praias e nos oceanos é uma preocupação mundial e, portanto, requer múltiplas soluções, não se restringindo somente a reciclagem. Com isso, o projeto de Doutorado prevê o desenvolvimento de uma metodologia de educação ambiental capaz de estimular a percepção ambiental de frequentadores de praias (participe da pesquisa AQUI).
Para tal, o esporte é utilizado como instrumento de engajamento e conexão do ser humano com o problema da poluição plástica, já que ao interagir com a natureza o indivíduo tende a se preocupar com a preservação do ambiente em questão, conforme comprovado anteriormente por pesquisadores.
E considerando que as crianças e os adolescentes também são peça-chave no enfrentamento da poluição plástica nos oceanos, as etapas seguintes do projeto abrangem a participação do público escolar nos processos de coleta de plástico, reciclagem e vivências no campo da educação ambiental.
“Somos responsáveis pela manutenção dos bens e serviços ecossistêmicos, sendo que o contato com o ambiente natural através do esporte está incorporado nessa perspectiva. A luta pela sobrevivência humana envolve um olhar inteligente e consciente frente à problemática do uso e descarte dos plásticos. Afinal, a existência da vida humana tem conexão direta com a ‘saúde’ dos oceanos”, afirma Leticia.
Sob orientação da Profa. Dra. Helen Sadauskas-Henrique (LEBIO-Unisanta) e a colaboração de Caio Reis, engenheiro civil e mestrando em Ciência e Tecnologia Ambiental (Unisanta), o projeto de pesquisa do Doutorado de Leticia Parada está previsto finalizar no ano de 2025.