Canoa e Meio Ambiente, somos todos responsáveis!
Na coluna desta semana, Douglas Moura conta como os remadores de canoa são partes fundamentais na luta ... leia mais
Arqueólogos e historiadores há muito debatem as origens do povoamento das ilhas da Polinésia, uma gigantesca área marítima que ocupa um terço da superfície da Terra e um dos últimos lugares habitáveis a ter sido colonizado por humanos.
São milhares de quilômetros de oceano que separam as populações das Ilhas Marquesas, Ilhas de Páscoa e Taiti e, apesar de uma evidente semelhança cultural entre essas regiões, ainda se sabe muito pouco sobre sua ocupação.
No entanto, mais um mistério sobre essa incrível aventura pelos mares foi desvendado e graças aos genes desses povos. É o que revela um estudo que traça, através do DNA, as primeiras rotas destes pioneiros pela vastidão do Pacífico Sul.
Os resultados desse estudo foram publicados na última quarta-feira, na revista Nature:
“Este é um dos capítulos mais fascinantes da história da expansão humana, que deixou poucos vestígios tangíveis”, disse Andrés Moreno-Estrada, coautor do estudo publicado pela Nature.
Ao explorar a área no final do século 18, o capitão britânico James Cook notou que os povos indígenas do Arquipélago da Sociedade (incluindo o Taiti) e de ilhas localizadas a mais de 1.000 quilômetros (chamadas de Ilhas Cook pela continuação), falaram a mesma língua: austronésio, a maior família linguística do mundo, que tem origens longínquas em Taiwan.
Esta investigação linguística, assim como as descobertas arqueológicas, permitiram estabelecer um elo entre estas populações dispersas.
Mas a história permaneceu incompleta. “Nenhum estudo conseguiu localizar até agora a origem precisa das primeiras instalações polinésias”, afirma Andrés Moreno-Estrada, pesquisador do Laboratório Nacional de Genômica para Biodiversidade da Cidade do México.
Os rastros foram borrados por uma expansão muito rápida. E foi no final das contas cavando no DNA das populações atuais que a equipe de pesquisadores desenterrou a peça que faltava no quebra-cabeça.
Eles sequenciaram o genoma de 430 habitantes de 21 ilhas no Pacífico Sul – algo sem precedentes em escala tão grande nesta parte do mundo.
“Os genomas dessas populações insulares codificam a história de seus ancestrais”, decifra Alexander Ioannidis, o outro co-autor do estudo.
“Ao comparar essas assinaturas biológicas de uma ilha a outra, você sabe quando os genomas divergiram e estima o momento em que as populações coabitaram pela última vez”, continua o especialista em genética da Universidade de Stanford, na Califórnia.
Os resultados de suas pesquisas traçam uma cartografia detalhada desses assentamentos pioneiros, que vão de oeste a leste, entre os séculos IX e XIII.
As primeiras migrações teriam deixado as Ilhas Samoa no oeste, rumo ao sudeste para chegar a Rarotonga, a maior das Ilhas Cook, por volta de 830 DC. Os navegadores teriam avistado seus altos relevos de longe, graças às nuvens emitidas por seus vulcões.
A migração seguiu para o nordeste, para pousar nas Ilhas da Sociedade (incluindo o Taiti) por volta de 1.050. Então, por volta de 1.110, no arquipélago de Tuamotu, composto por várias dezenas de atóis hoje muito escassamente povoados.
Na época, esses ilhéus recém-saídos da água apresentavam terras agricultáveis e florestas jovens – enfim, condições de vida mais favoráveis.
O arquipélago Tuamotu, que faz parte da Polinésia Francesa, assim como o Taiti, teria dessa forma “desempenhado um papel decisivo no processo de colonização do Pacífico Sul”, insiste Alexander Ionnidis.
“Tuamotu tem uma área gigantesca, equivalente à que se estende da Inglaterra à Grécia. Seus primeiros ocupantes precisavam ter uma cultura marítima muito rica para poder navegar de ilha em ilha”, diz o Dr. Ionnidis. Esse domínio tecnológico teria permitido aos navegadores se aventurarem a milhares de quilômetros de distância.
É também a partir de Tuamotu que o estudo apresenta as migrações mais distantes que se seguiram: umas para o Norte, para as Ilhas Marquesas, outras para o Leste, via Mangareva (arquipélago das Ilhas Gambier) no século XII, seguindo até ao fim, no extremo leste, para a Ilha de Páscoa.
“Este estudo é um feito genético que permite traçar um cenário hiper refinado” desse épico, comemorou Florent Détroit, paleoantropólogo do Museu Nacional de História Natural de Paris, que não participou da pesquisa.
Essas correspondências genéticas vão na mesma direção das descobertas arqueológicas, observa o pesquisador francês. E o estudo levanta a hipótese de que as grandes construções megalíticas – os gigantes da Ilha de Páscoa, as estátuas “tiki” de Raivavae e as das Marquesas – todas carregam uma assinatura ancestral comum, vinda dos Tuamotus.
Com informações de AFP.