
Tríplice Coroa de Downwind | Ranking após a segunda etapa
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Existem lugares que mexem com a alma da gente. E o Desafio Yacht 40k foi exatamente isso: uma travessia que ficou na memória de todos nós que tivemos o privilégio de participar. Foram 40 quilômetros descendo o Rio Paraguaçu, uma prova desafiadora, intensa e cercada por uma beleza natural e histórica e impressionante. O evento reuniu atletas de todo o país em categorias como V1, OC1, OC2, OC6, V3, Paddleboard e Surfski individual, um desafio que tem potencial de se tornar uma das maiores competições de canoagem do Brasil.
A largada aconteceu na cidade de Cachoeira, um lugar que respira história. Lá funcionou a primeira Casa da Moeda do país, foi construída a primeira ponte do Brasil e ocorreram confrontos marcantes da luta pela Independência, quando tropas brasileiras enfrentaram os últimos soldados portugueses remanescentes no país. É uma cidade viva em significado. Até mesmo o lugar em que me hospedei era incrível. A Pousada Convento do Carmo é um edifício histórico que já abrigou freiras carmelitas em clausura. O lugar é um verdadeiro mergulho no passado, o que trouxe um tempero especial para o desafio.
Durante o percurso, consegui entrar ao vivo pelo Instagram em alguns trechos onde o sinal de celular permitia. O Rio Paraguaçu sofre forte influência de maré, mesmo a 40km de distância da Baía de todos os Santos. A força da maré baiana nunca decepciona, e deu a tônica na estratégia de navegação das equipes. Um destaque especial foram os saveiros, rústicas embarcações típicas da região, centenárias, que cruzavam trechos do rio Paraguaçu em que passavam as canoas e surfskis de fibra de carbono – um contraste entre o antigo e o moderno. O destino final foi a singela cidade de Salinas da Margarida, uma das mais seguras do Estado. Uma baía dentro da baía de todos os Santos, com um visual de tirar o fôlego.
Falando em performance, é impossível não destacar o atleta Cleverson Sacramento, do surfski, que conquistou a fita azul individual, sendo o primeiro a cruzar a linha de chegada entre os atletas solo. Também brilhou a Juliana Siqueira, que foi a primeira mulher a completar a prova, remando na categoria V1.
Entre as equipes, a OC6 Open masculina Kyrymurê garantiu a fita azul liderando a prova de maneira absoluta e impecável, enquanto o CB Paddle Team, com formação mista, ficou com a segunda colocação geral. Foi surpreendente ver uma equipe mista na frente de outras equipes masculinas, resultado de um bom trabalho do atleta e coach Cláudio Britto. O Clube Gamboa Va’a foi destaque ao levar quatro times para a competição, mostrando organização e força no coletivo – fiquei muito feliz em ver o trabalho do Capitão do clube Ziggy Marley prosperando; quando o conheci, era um menino que fazia parte de um projeto social, hoje é um homem feito, formado em educação física e empreendendo com sucesso. A equipe feminina do Yacht Club da Bahia não só cruzou a linha de chegada na primeira colocação feminina e quarta do geral, deixando canoas mistas pra trás, mostrando total propriedade em representar o Brasil no Mundial de Canoa Polinésia na categoria master 50.
É inevitável fazer uma comparação com a tradicional Chattajack, competição que acontece há anos no Rio Chattanooga, nos Estados Unidos. São 54 quilômetros de remada no coração do sul norte-americano — uma prova de enorme sucesso. Assim como no Paraguaçu, ela mostra que os grandes desafios da canoagem não estão restritos ao mar aberto.
E por trás de tudo isso, estava uma organização impecável. Deixo aqui meu reconhecimento ao Danilo Guimarães, coordenador de canoagem do clube; à diretora de canoagem Vanessa Castro; ao gerente de esportes Luis Pato; e ao comodoro Ricardo Dantas, do Yacht Club da Bahia. O trabalho de vocês foi digno de aplausos – e fez com que essa experiência fosse ainda mais especial para todos.
O Desafio Yacht 40k foi mais do que uma competição. Foi um reencontro com a natureza, com a história do nosso país e com a paixão que nos une: a canoagem. Que esse seja apenas o começo de muitas outras jornadas inesquecíveis pelo Rio Paraguaçu.