Vem ai o Va’a Pro Brasil 2018
Novo circuito brasileiro de V6, fruto de uma parceria entre Ecooutdoor e CBVAA, tem duas etapas ... leia mais
Olá queridos amigos leitores!
Essa semana abordaremos alguns pontos importantes e necessários para uma navegação segura no fim de ano evitando os riscos que a temporada de verão traz aos remadores.
Estava chegando em Angra (RJ), depois de uns 35 km já remados vindo da praia do Aventureiro, Ilha Grande, um local que desde a minha adolescência frequento e que a partir do momento em que comecei a ter mais liberdade e confiança na OC1, passei a não mais precisar das traineiras locais, era botar a canoa no carro, chegar em Angra e me desconectar do mundo, da babilônia, para me conectar comigo, com o oceano, com a Ilha Grande.
Era dia 03/01/2013 e estava sozinho, voltando, quando vi um navio transatlântico fundeado. O sol era de matar e ali havia uma sombrinha muito boa.
Antes da aproximação, porém, analisei que ele estava ancorado e com o motor desligado, portanto, perfeito para um descanso e último Carbogel para a perna final.
Estava tudo certo, até que veio uma lancha muito rápido em minha direção. Eu estava parado e sem saber o que fazer, fiz o gesto universal para mostrar que tinha gente ali, sacudindo o remo e de repente a lancha veio bem pertinho, fez uma curva fechada e me deu um banho de água, quase me acertando!
Fiquei com o coração na boca, pois qualquer mínimo erro de cálculo, ele teria me acertado. Nisso, olho e vejo que logo atrás havia uma embarcação da Marinha do Brasil que tinha visto tudo e veio em minha direção.
A primeira pergunta era se eu estava bem. Com a resposta afirmativa, eles então fizeram uma série de perguntas: de onde vinha, para onde estava indo…
Expliquei minha derrota (rota no mundo náutico) e ele percebeu que eu estava completamente de acordo com as Normas, e mais.
Estava de colete, com apito, além da prancha de surf, que expliquei para eles ser mais que um acessório, mas sim um equipamento de savatage caso minha canoa quebrasse.
Com todas as regras em dia, a Marinha foi atrás do infrator da lancha para autuá-lo e ainda disse: “Você vai ver quando estiver chegando no continente, e vou atrás de todo e qualquer erro desse cara”.
Chegando no continente, perto do cais de Angra, lá estavam os dois: Autoridade Marítima e infrator, juntos.
A Autoridade Marítima autuando o infrator. Ele quando me viu passando olhou, acenou, enquanto segui meus últimos quilômetros até a praia.
Começo narrando este fato pois no final de ano muitos remadores têm o hábito de ir para o mar afim de navegar para passar o réveillon ou mesmo dar uma remada mais longa, passando o dia no mar.
Nessa época o mar tende a ficar flat na maioria dos dias, sendo o ideal para essas remadas mais longas.
Contudo, nem só de mar grande vem os perigos do mar. Nessa época do ano pessoas com suas embarcações tendem a sair, beber e voltar – muitas vezes sem olhar.
Ligam o motor, aceleram, colocam o piloto automático e vão embora… Com a velocidade, a proa da lancha sobe e se não houver uma atenção plena do condutor, ele não conseguira enxergar o que vem pela frente.
Isso já acontece frequentemente aos finais de semana. Quem rema fim de tarde certamente já passou por algum susto assim.
Quem não se lembra do acidente com nosso medalhista olímpico Lars Grael? Que foi atropelado por uma lancha e ficou sem uma das pernas?
Certamente o caro leitor sabe ou já soube de acidentes envolvendo na grande maioria dos casos dois tipos de embarcações: Jet Ski e Lancha. Isso ocorre devido a velocidade e falta de habilidade dos condutores. Mesmo conhecendo as regras, como foi o caso do Lars, ele não teve chances.
Em 2020, em São Vicente (SP) um remador amigo de muitos foi abalroado por um Jet Ski e nada aconteceu com o condutor, já com nosso amigo foi parar no hospital.
Existem as preferências legais pela RIPEAM (Regulamento Internacional para Evitar Abalroamento no Mar), que muitos acreditam ser do maior para o menor barco. Contudo, isso é parcialmente verdade, pois a RIPEAM fala em manobrabilidade.
Ou seja, quanto mais manobrável uma embarcação, menos preferência ela terá. Portanto, a questão de tamanho é relativa.
Pode-se ter um veleiro pequeno em uma lancha grande, e quem terá preferência será o veleiro (quando estiver navegando com os panos, e não à motor), pois a curva de um veleiro depende de uma serie de fatores, ajuste de velas, mudança de tripulação de bordo entre outras.
Outro exemplo citado também na RIPEAM são as embarcações engajadas na pesca. Ora, um pescador está trabalhando e muitas vezes ele liga o piloto automático e vai para a popa largar a rede.
Vejam, caros leitores, neste caso, este profissional não está vendo o que esta à frente, e convenhamos, dificilmente estará em alta velocidade…
Portanto, mais fácil de prever e antecipar uma manobra. E neste caso específico a RIPEAM diz que “embarcações engajadas na pesca tem preferencia independente do seu tamanho”.
Já nos canais de navegação, quem tem a preferência será quem só tiver aquele caminho para passar. Assim, no canal do porto de Santos, que é um “caminho” aberto pelo homem para que navios de grande calado (parte que fica abaixo da linha d’água) possam transitar. Portanto, neste caso, estes grandes navios terão preferência sobre todos os outros.
Falando em navio, vale ressaltar um aspecto extremamente importante no que tange a segurança: o repuxo de água do motor é imenso e cria uma corrente muito forte puxando para seu costado.
Uma vez que se perde o controle, que se cai, as consequências podem ser sérias. Um navio não vai sentir uma pessoa, uma canoa. Ele foi feito para aturar grandes tempestades, Iceberg, troncos de árvores gigantescas. Uma canoa é nada.
Uma pessoa é facilmente dragada para debaixo. Uma vez, eu e meu amigo, Irio Dutra, entramos numa de pegar uma esteira em um navio desses.
Estávamos nos divertindo, até que um dei mole e caí para dentro da AMA. Olha, confesso a vocês que foi a pior experiência em caldo que tive na minha vida.
Fiquei submerso uns 15 segundos, totalmente no escuro e com muito medo de estar sendo dragado para as hélices.
Irio, na canoa, meio também sem saber o que fazer, onde me achar… até que emergi muito assustado!
Foi um ‘caldão’! Nos olhamos e voltamos quietos, em silêncio, aprendendo… Nunca mais fiz e não aconselho a ninguém esse tipo de “diversão” em navios.
Diferentemente do transito terrestre, em que o acidente tem em principio um culpado e um lesado, no mar isso não se aplica.
As Normas partem do princípio de que ambos estão errados e a partir dai sim vem a investigação para se achar um culpado.
Mas pense. Se somos embarcação a remo, especialmente em canoas pequenas, o elo mais fraco seremos nós e no caso de acidentes, independente de quem tenha a razão, o remador sairá sempre perdendo, equipamento ou mesmo a vida.
Existem também as regras de passagem, quem tem preferencia sobre quem nos casos de Rumos cruzados (por exemplo quem tem a preferencia, quem vê o outro pela esquerda ou pela direita) ou Rumo de roda a roda (quando um vem de frente para o outro).
É dever do remador que vai para o mar conhecer essas regras e evitar se colocar em risco ou colocar outrem em risco.
Portanto, fiquem atentos ao irem para o mar neste fim de ano.
Outro fator importantíssimo nesta época do ano para quem vai para o mar é um conhecimento profundo das condições meteorológicas.
As chuvas de verão normalmente vêm do Norte. Formam-se em cúmulos e avançam para a direção sul, sudeste.
Essas tempestades normalmente vêm com grandes descargas elétricas, ou seja, raios, um dos grandes perigos da navegação.
Conhecer onde é o Norte, as formações de nuvens (não precisa saber o nome, mas sim suas consequências -o famoso rabo de galo, na verdade chama-se Cirrus e não indicam tempestade, mas sim mudança de tempo mais branda.
Outro exemplo são os cirrustratus, ou céu de leite, as nuvens deixam o céu com uma aparência meio branca, espessa, leitosa e anunciam chuva nas 24, 36 horas subsequente.
Saber que a virada de tempo vem do quadrante sul, e a ronda do vento é no sentido anti-horário (Exemplo: Nordeste, Norte, Noroeste, Oeste, Sudoeste) pode salvar sua vida!
Já o calor excessivo provoca outros males como insolação, desidratação, e a consequência pode ser até os desmaios – e no mar ninguém quer passar por isso. Nosso corpo vai dando sinais e com o tempo vamos nos habituando a eles e como reverte-los.
Na noite da virada muitos remadores vão para o mar assistir à queima de fogos. Ora, se de dia já é um risco navegar devido ao tráfego marítimo, de noite nem se fala… mesmo com luzes de navegação o risco é imenso.
Nesse dia especialmente as pessoas perdem o controle na bebida alcoólica e isso faz com que a percepção seja alterada.
A dica é: de noite, um abalroamento traz consequências ainda mais graves. Não navegue à noite e evite remar por entre aglomerações de embarcações a motor.
Ir para o mar nesta época do ano é pura essência, aproveitar o mar calmo para aumentar os limites, conhecer novos lugares, fazer novos amigos, conquistar novos lugares.
Contudo, a falta de preparo físico, psicológico e intelectual para as possibilidades que viveremos pode fazer com que o sonho de uma navegação se torne o pesadelo de um verão, ou de uma vida, como novamente podemos citar o lamentável episódio ocorrido com Lars.
E no fundo a pergunta que devemos fazer é: Para que me colocar em risco? Estou capacitado ou apenas empolgado?
Na dúvida, não vá. Temos uma vida inteira para aumentarmos gradualmente nossos limites e conhecimentos. No caso de um acidente mais grave, um segundo fará com que uma vida no mar possa ser comprometida! Pense nisso!
Agradeço demais aos amigos João Castro e Luciano Meneghello pela oportunidade que me foi dada de ser colunista do Aloha Spirit Mídia, uma plataforma que a cada dia gera mais conteúdo!
Desejo a todos um natal abençoado e um ano de 2021 repleto de boas energias!
Um grande Aloha, do seu colunista,
Douglas Moura
Capitão Amador