Obrigado por tudo, Juju!
Juliana Cecília Mendes, para os amigos, simplesmente, Juju, remadora de longa data, tinha como principal ... leia mais
Como o bodysurf surgiu no Brasil? Em qual pico e em que ano foi praticado em nossas terras pela primeira vez?
Para essas e muitas outras perguntas ainda não se tem respostas embasadas em documentos que possam comprovar.
Como sabemos, a cidade maravilhosa, na verdade o Estado do Rio de Janeiro, é uma grande vitrine esportiva e cultural para o nosso país.
Alguns relatos levantados indicam que o bodysurf, aqui no Brasil, teria sido praticado pela primeira vez no Rio de Janeiro, mais precisamente na praia de Copacabana.
Isso porque no Brasil não existia ainda uma cultura de praia, ou seja, as pessoas não tinham hábito de ir à praia, muito menos para praticar esportes.
Foi no Rio de Janeiro que tal cultura passou a se desenvolver e pouco a pouco foi se propagando de praia em praia.
Mas como teria então surgido o bodysurf? Conversando com alguns bodysurfers cariocas “das antigas”, cheguei a algumas informações que, apesar de não possuírem comprovação, são muito interessantes.
Uma delas é a de que o bodysurf teria se manifestado de forma natural e que os índios que moravam próximo à praia no Rio de Janeiro brincavam nas ondas dessa forma.
Inclusive, havia uma tribo de Tupinambás chamada Yacaré, que significa jacaré, que habitava a região da Zona Sul.
Esses índios eram guerreiros nadadores que viviam da coleta e da pesca, arpoavam os animais pelas pedras e encontravam frequentemente jacarés na praia devido o movimento das marés.
Por outro lado, Luiz Antonio Pereira, experiente bodysurfer carioca, relata que durante a Segunda Guerra Mundial já existia o bodysurf no Rio e que inclusive seu pai pegava onda na praia do Leme, na década de 40.
No entanto, era praticado sem pé de pato e de uma forma muito simples: descendo a onda e seguindo reto em direção à praia (famoso “retoside”).
Quando o mar ficava grande os praticantes usavam uma prancha estreita de madeira compensada, de aproximadamente um metro de comprimento, com duas alças serradas no meio da própria madeira para se segurar.
Essa prancha era confeccionada por um shaper que morava no Leme e sua finalidade era exclusivamente para a galera que surfava de peito.
Após a Segunda Guerra Mundial, os norte-americanos fizeram um projeto de expansão da cultura americana, onde através dos meios de comunicação o tal “american way of life“ era propagado, em vários países.
Mas anos antes, em 1940, o marinheiro americano Owen Churchill deu uma grande contribuição para o bodysurf.
Churchill projetou e patenteou o pé de pato que levou seu sobrenome.
E foi no ano de 1946 que chegaram os primeiros pés de pato ao Rio de Janeiro. Assim, as pessoas passaram a surfar com esse equipamento e não seguiam mais reto na onda, mas sim escolhiam o “lado” (direita ou esquerda) tendo um aproveitando muito melhor.
E qual a explicação para chamar se o bodysurf de “jacaré”? Luiz afirma que o termo surgiu da seguinte forma:
“Pessoas que estavam na areia da praia ou que estavam passando pela praia perceberam que quem pegava onda assim, ou seja, somente com o corpo, parecia um jacaré porque ficava apenas com a cabeça na superfície“.
O olhar distante permitia enxergar meros pontos na água, como cabeças de jacarés.
Sob outra perspectiva, o bodysurfer Kleiber Sequeira relata que na década de 40 e 50 rolavam altas ondas na chamada “vala de Constante Ramos” em Copacabana:
“Era um local muito frequentado por ‘Tubarão’, um bodysurfer carioca das antigas e também muito frequentado por jacarés, sim os animais.
Nessa época, os militares que ficavam distantes observando a região de cima, no forte, notavam pessoas que ficavam boiando apenas com a cabeça aparecendo e que pareciam jacarés.
Foi aí que surgiu um outro termo, o ‘jacarezeiro’, dado àqueles que iam à praia pegar onda, coisa que naquela época não era visto como lazer, mas sim como falta de ocupação”, relata Kleiber.
Diferente do passado onde as únicas praias frequentadas eram Copacabana e Leme, o “jacaré” ou bodysurf, como queira chamar, se propagou e tornou-se parte da cultura do Estado do Rio de Janeiro como um todo.
Para Rodrigo Bruno, bodysurfer carioca há muitas décadas, “O Estado do Rio de Janeiro é populoso, porém, infelizmente pobre.
Mas, ao fazer uma comparação com as demais modalidades de surfe, você percebe que o bodysurf é a que demanda menos recurso para ser praticada.
Você não precisa nem de um pé de pato. Pode realmente surfar apenas com o corpo.
Portanto, a facilidade com que a cultura do bodysurf se expande no mundo e se faz presente no Rio de Janeiro ocorre devido à pouca necessidade de recursos para a sua prática”, poderá Bruno.
Atualmente, no Brasil a modalidade é conhecida como bodysurf, surfe de peito ou jacaré.
Mas se você quer se comunicar sobre o esporte como uma pessoa não-adepta e que seja do Rio de Janeiro, o nome que se usa é o jacaré.
Isso porque Rodrigo afirma que há uma identificação do esporte muito maior com esse termo, ou seja, as pessoas sabem perfeitamente o que é “pegar jacaré”, mas muitas das vezes não tem ideia do que seja bodysurf ou surfe de peito. A força do nome “jacaré” é muito interessante.
Porém, nem tudo são rosas e o mesmo vale para o bodysurf. Luiz afirma que o surfe de peito é o underground do surfe:
“É o último da fila. Não há revistas especializadas (nem impressas e nem virtuais), patrocinadores, etc. E é assim também nos picos, quero dizer, se tiver surfistas de prancha e bodyboarders geralmente nós só pegamos as ondas que sobram”.
Na minha humilde opinião, pouco a pouco, temos ganhado o devido respeito no mar.
Vemos bodysurfers “disputando” onda no outside com outros surfistas, completando tubos, realizando manobras e tantos outros feitos que muitas pessoas duvidavam serem possíveis apenas com um par de nadadeiras.
E para se ter uma ideia da importância do bodysurf para o Rio de Janeiro, em 2017 foi aprovado um projeto de lei que declarou o surfe de peito como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Estado.
Mas, acima de tudo, o mais interessante é observar a ascensão, ou melhor, o retorno do bodysurf, que a cada dia tem ganhado adeptos ao redor do mundo.
E “lá fora”, o Brasil é visto como um dos países que melhor representa essa cultura do bodysurf, tendo o Rio de Janeiro como um grande destaque e considerado por alguns como o “berço” verde e amarelo do jacaré.
Aloha
Letícia Parada
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