Va’a: a evolução da transmissão e o desafio da narrativa

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Narração va'a
A transmissão de competições de va’a evoluiu tecnicamente, mas enfrenta desafios de narrativas, avalia Alfredo Piragibe em sua nova coluna. Foto: Imagem gerada através de I.A.

As transmissões dos eventos de va’a evoluíram de um jeito impressionante nos últimos anos. Hoje tem YouTube ao vivo, drone raspando a água, câmera embarcada, replay bonito, patrocinador aparecendo… um verdadeiro espetáculo visual. Quem assiste de fora quase sente que está na canoa. E, do ponto de vista tecnológico, a parada realmente virou outro nível.

Mas como em qualquer área que cresce rápido, alguns ajustes ainda precisam acompanhar o ritmo. Um deles é o desafio real do narrador. Não é mole identificar quem é quem no meio de um mar de canoas: tem embarcação alugada com logo de outro clube, barco de apoio limitados para cobrir todas as equipes, atleta usando uniforme de outros clubes… é um caos organizado. E, convenhamos, às vezes a confusão é inevitável.

Isso não apaga, no entanto, uma queixa feita por muita gente dentro da comunidade: algumas equipes acabam ganhando mais atenção que outras. Acredito que isso ocorre não necessariamente por má vontade, mas porque narrador também é humano, tem referências, reconhece vozes, rostos, histórias que já conhece e depende muitas vezes dos próprios atletas e organizadores para organizar as informações sobre as equipes. E aí, naturalmente, algumas canoas acabam ficando invisíveis. Não é sempre, mas também não é raro.

Outro ponto é o foco das câmeras. Em alguns eventos, a transmissão gruda em uma ou duas canoas por boa parte da prova. Quando isso acontece, a justificativa, do ponto de vista técnico, é que, em determinados pontos da prova, a única imagem possível é a do barco madrinha. Mas, do lado de quem está remando ou assistindo, isso pode passar a sensação de que o restante virou figurante — mesmo com centenas de atletas ralando igual.

E a narração entra nesse pacote. Já aconteceu várias vezes de uma chegada ser narrada com “emoção olímpica” enquanto outras equipes, que vêm segundos atrás, passam quase no silêncio. Não por descaso, mas porque o narrador está tentando entregar uma história ali, ao vivo, com informações limitadas e decisões rápidas. Só que, no fim, parece que só algumas histórias importam — e isso o público percebe.

E aí que mora o ponto central: o va’a brasileiro tem histórias fantásticas sobrando. Tem projeto social que muda destino, tem equipe pequena que faz milagre com pouca estrutura, tem mulheres levantando comunidade, tem master que ensina o que é disciplina. Tem conteúdo pra uma transmissão inteira sem repetir uma única narrativa.

Com o esporte crescendo e a tecnologia voando, talvez o próximo passo seja justamente esse: ampliar o repertório da narração e da própria transmissão em si. Digo, o formato como a transmissão é feita. Ouvir mais equipes, conhecer mais histórias, olhar mais pro todo. Não é sobre apontar culpados — é sobre acompanhar a evolução natural do próprio esporte.

O va’a já é gigante. E a narração tem tudo pra refletir essa grandeza também.

Este é um artigo de opinião. As ideias aqui expressas são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a posição editorial do Aloha Spirit Mídia.

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