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Se tem uma coisa que muda totalmente a vida do remador é o tamanho da pá do remo. Em tese: cada centímetro a mais é um “plus” de água que você vai empurrar — e também um plus de dor no ombro se você não souber o que está fazendo. Há quem aposte em uma fórmula de que quanto menor, mais eficiente.
Comecemos pelo menorzinho da turma produzido pela Quickblade. Eles apostam que nem sempre o maior é mais eficiente — e lançaram o Stingray, com lâmina mini 25 cm x 29 cm — estilo quase “raquete de ping-pong”. Resultado? Tempo de entrada e saída na água reduzido pela metade. Ou seja, o catch e release viram algo ágil. Na prática? Você rema mais vezes por minuto, sem transformar seu ombro num trator quebrado. E ainda afirmam aumentar a velocidade: testes mostraram que a canoa fica até 2% mais rápida. Mas se não tiver uma técnica apurada, melhor nem tentar!
Agora vamos para o tamanho inicial oferecido pela fabricante Viper de 22 cm x 45 cm. Ele é tipo aquele carro 1.0: não arranca suspiros, mas leva você longe. Com ele você pode remar horas, cadenciar bonito, terminar a travessia inteiro e ainda postar foto sorrindo no Instagram. Agora… não espere que ele faça milagre contravento forte ou mar brabo. Aí ele sofre.
Subindo a escadinha, aparecem os 23 cm x 45,5 cm e 23 cm x 47 cm. Eles já dão um gás a mais, algo como colocar o pé no acelerador sem medo. Ainda dá pra aguentar longas distâncias sem se sentir um trator, mas já começa a pedir mais braço.
Chegando nos 24 cm x 46 cm e 24,5 cm x 48 cm, entramos na categoria “coringa”. São pássaros de duas plumagens: aguentam uma travessia sem te matar e ainda entregam potência se você precisar acelerar. Aqui não tem como errar muito: se você é um remador experiente, escolhe um desses.
Porém, se você é daqueles que acha que treino bom é treino que deixa o braço tremendo na hora de levantar o copo d’água, então se prepare para os grandalhões: 25 cm x 48 cm e 26 cm x 48,5 cm. Esses não brincam. Eles não pedem força, eles exigem força. Quer arrancar no sprint? Quer mostrar que é o “cavalão” da equipe? Essa é a sua praia. Só não venha chorar se no meio da prova longa o ombro pedir arrego e os parceiros olharem feio.
Porque não basta só falar — aqui estão os números para provar o tamanho da encrenca:
Utilizei como base os tamanhos dos remos do fabricante Viper.
Modelo (cm) | ÁreaTotal | Diferença vs. menor | Tradução prática |
22 × 45 | 990 | Base (100%) | O carro 1.0 — vai longe, mas não corre. |
23 × 45.5 | 1.046 | +6% | Já pede um pouco mais de braço. |
23 × 47 | 1.081 | +9% | Equilíbrio: não mata, mas entrega. |
24 × 46 | 1.104 | +11% | Aumenta a pressão, cansa mais rápido. |
24 × 47.5 | 1.140 | +15% | Potência equilibrada, bom pra tudo. |
25 × 46.5 | 1.162 | +17% | Quase igual ao de cima, muda pouco. |
24.5 × 48 | 1.176 | +19% | O meio-termo clássico. |
25 × 48 | 1.200 | +21% | Pede físico, explode no sprint. |
26 × 48.5 | 1.261 | +27% | O trator. Braço de ferro obrigatório. |
Olhar para números e porcentagens é interessante, mas o mar não liga para tabelas. Na prática, cada aumento de área da pá exige menos remadas para mover a mesma quantidade de água — só que cobra mais do seu braço e do seu ombro a cada stroke. E é aí que entra a polêmica: alguns juram que a pá menor, apesar de exigir mais remadas, mantém a cadência leve e o corpo inteiro no jogo por mais tempo. No fim, não é sobre quem empurra mais água de uma vez, mas sobre qual estilo seu corpo consegue sustentar até a linha de chegada.
Traduzindo: a cada 17 remadas do 23 cm × 45,5 cm, você precisa de 18 remadas no 22 cm × 45 cm pra mover o mesmo volume de água. Parece pouco, mas em 1.000 remadas (um treino longo), o cara do remo menor vai remar quase 60 remadas a mais.
Agora imagina uma competição de apenas 10 km. Em média, cada remador manda ali suas 3.000 remadas até a linha de chegada. Só que, dependendo da pá, isso pode virar um pedágio salgado: quem está com uma 22 cm × 45 cm pode ter que dar cerca de 177 remadas a mais do que o concorrente do lado com pá maior. Parece um detalhe? No braço, pode não ser.
Nas grandes competições — Pan-Americano, Mundial e afins — existe uma regra clara: todas as canoas precisam ser do mesmo modelo e ter o mesmo peso. A ideia é simples: garantir que ninguém largue com vantagem de material e que a disputa seja decidida no braço (literalmente).
Só que tem um detalhe que fica no ar: e o remo? Porque, convenhamos, uma equipe com pá menor pode precisar dar mais remadas; outra, com pá maior, pode imprimir mais potência a cada stroke. No final, essa diferença pode custar segundos preciosos — e numa final de Mundial, segundos são medalha ou fora do pódio.
A pergunta que fica é: será que não valeria a pena padronizar também o tamanho das pás? Ou o charme do esporte é justamente esse: deixar o jogo aberto para estratégia, perfil físico e até ego de cada remador?
Porque, no fim das contas, a canoa pode ser igual pra todo mundo, mas o braço que segura a pá nunca é.
No fim das contas, não existe “remo perfeito”. Existe o remo que combina com o seu estilo — ou com o tamanho do seu ego. Nas competições oficiais, a canoa é padronizada pra todo mundo, mas a pá continua sendo o vale-tudo do esporte. Um time pode remar de colherinha, outro de pá de pedreiro… e adivinha? Quem decide se isso vai virar vantagem ou castigo não é a Federação, é o mar.
Ele é o juiz que não aceita recurso: no final, é sempre ele quem escolhe se você vai cruzar a linha sorrindo… ou rezando pra nunca mais errar na pá.