
Aloha Spirit Festival ao vivo
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“Durante anos, ela remou em um clube de canoa havaiana. Estava presente nos treinos, participava das competições, aprendia aos poucos. Como tantos outros, acreditava que o colete era dispensável — um excesso de zelo, talvez. Afinal, nunca tinha acontecido nada a anos. Nunca… até o dia em que a canoa virou.
O mar estava agitado, com ondas quebrando. Os remadores eram até experientes, mas não invencíveis. No momento do huli (capotagem), a remadora, que sempre evitava o uso do colete, entrou em pânico. O que poucos sabiam — e talvez nem ela mesma soubesse — é que, apesar dos anos de prática, ela também não sabia nadar com segurança em mar aberto agitado.
Sem o colete, flutuar se tornou um desafio. A crise de ansiedade se instalou rapidamente. Respirava de forma descompassada, mexia os braços sem coordenação, afundava. Os colegas tentaram ajudá-la, mas não conseguiram colocá-la de volta na canoa: ela estava em pânico, exausta, o mar balançava com força e o esforço de resgate se arrastou por minutos que pareciam horas.”
Embora o relato acima seja uma ficção criada por mim, para esse artigo, ele reflete com precisão situações reais vividas em muitos clubes de canoa havaiana. Infelizmente, é comum subestimar o fato de que nem todos os remadores têm preparo para lidar com o mar agitado — seja por falta de habilidade na natação, seja pela possibilidade de entrarem em pânico ou sofrerem crises graves de ansiedade em momentos de tensão.
É comum ouvir frases como: “Mas eu sei nadar”, “Me sinto preso com o colete”, ou ainda — e talvez a mais absurdo — “No Havaí ninguém usa”. Esses argumentos ignoram fatores fundamentais da segurança náutica. Saber nadar não significa estar preparado para enfrentar uma situação de emergência em mar aberto. O cansaço, o frio, a correnteza, o susto, a desorientação ou uma crise de pânico podem comprometer a reação de qualquer um — até mesmo de atletas experientes.
O colete salva-vidas não é um símbolo de inexperiência, é um recurso essencial de proteção. Justamente por causar certo desconforto em terra firme, ele deve ser incorporado aos treinos, ajustado ao corpo e testado com naturalidade. Porque, no mar, conforto de verdade é ter a certeza de que, se algo der errado, você permanecerá flutuando.
A segurança em esportes náuticos não pode jamais ser tratada como questão de escolha pessoal. Confiar na percepção individual de risco é uma irresponsabilidade — e clubes que agem assim estão abrindo espaço para tragédias anunciadas. Cabe aos clubes estabelecer regras claras, rígidas e inegociáveis. O uso do colete salva-vidas não é opcional, deveria ser obrigatório. Abrir mão dessa exigência para agradar atletas, parecer “descolado” ou evitar reclamações é simplesmente negligência.
Mais do que um item de segurança, o colete representa o compromisso coletivo com a vida. Sua obrigatoriedade educa, previne e protege. Quando todos usam, o uso deixa de ser motivo de vergonha ou resistência — vira parte do uniforme e um sinal de responsabilidade. Qualquer clube sério precisa entender: flexibilizar o básico não é liberdade, é imprudência.
Todo protocolo de segurança nasce de aprendizados — alguns teóricos, outros vividos na pele. O problema é quando o aprendizado vem tarde demais. A maioria dos incidentes graves no mar poderia ser evitada com medidas simples, sendo o uso do colete salva-vidas a mais básica e eficaz delas.
Esperar que algo aconteça para, só então, adotar regras mais rígidas é caminhar no limite da irresponsabilidade. Quando uma canoa vira e alguém entra em pânico, não há tempo para arrependimentos, apenas para ação. E é justamente nesse momento que o colete se torna a diferença entre o resgate e o desastre.
Clubes que realmente respeitam seus remadores não podem seguir ignorando o risco real que existe em cada saída para o mar. A obrigatoriedade do colete salva-vidas não é um exagero. É um ato de respeito à vida — e deveria ser uma política inegociável.