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De 22 a 24 de março, Ilhabela mais uma vez se tornará o palco do icônico Aloha Spirit, um festival que não apenas transformou a narrativa dos esportes aquáticos no Brasil, mas também deixou sua marca em toda a América do Sul e tem um papel central na consolidação da va’a em todo território nacional. São 15 anos desde a primeira edição, uma trajetória rica em história.
Quando o Aloha Spirit teve sua estreia em 2009, era muito distante da grandiosidade de um “festival”. Naquela mesma praia do Perequê, que agora abriga uma megaestrutura e atrai milhares de atletas de diferentes partes do Brasil e do continente, aproximadamente 60 remadores de canoa polinésia se reuniram para participar de um campeonato da modalidade na paradisíaca ilha do litoral norte de São Paulo.
Aquele primeiro Aloha, que mais pareceu uma reunião entre amigos, cresceu, conquistou seguidores e solidificou sua estrutura. O evento evoluiu de um modesto encontro para uma celebração grandiosa, mas com fundamentos muito bem estruturados, refletindo não apenas a paixão pelos esportes aquáticos, mas também a união e amizade que permeiam o ambiente do Aloha Spirit Festival até os dias atuais.
Competições de va’a em território brasileiro são comuns e populares nos dias de hoje, mas nos seus primeiros anos, eram uma verdadeira raridade. Fora do eixo Rio-São Paulo, com a exceção de Santa Catarina e Brasília, não existiam campeonatos dessa modalidade e praticamente ninguém estava familiarizado com o conceito de canoagem polinésia. A Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa) havia acabado de abraçar a modalidade e dava seus primeiros passos na organização de um campeonato nacional, mas as opções de canoa e remo eram extremamente limitadas. Faltava um impulso para que a canoagem polinésia pudesse ganhar a popularidade que desfruta nos dias de hoje e, nesse contexto, o Aloha Spirit Festival desempenhou um papel crucial. Inclusive aceitando o pedido para que realizasse o brasileiro dentro das suas etapas por algumas vezes.
João Castro, criador e organizador do festival conta que a situação começou a mudar a medida em que o Aloha foi crescendo, se estruturando e incorporando outras modalidades:
“Com o crescimento do Aloha, passamos a colocar novas modalidades junto da va’a. Isso foi muito importante para promover um intercâmbio entre públicos supostamente diferentes, mas que tinham o mesmo amor pelos esportes aquáticos. Tenho muito orgulho em afirmar que muita gente viu e remou pela primeira vez em uma canoa havaiana em nossos eventos”, conta, com alegria.
João acredita que a entrada do stand up paddle no Aloha foi decisiva para popularização da va’a no Brasil: “O SUP explodiu de popularidade por volta de 2012 e chegamos a fazer largadas com mais de 500 competidores em Ilhabela. Muitos remadores de SUP, que nunca tinham ouvido falar em canoa polinésia, descobriram ali uma nova paixão. Vi muita equipe de va’a nascer nesse contexto”, pondera.
A história da baiana Nicole Wicks Saback, que participa da nova gestão da CBVA’A, é um exemplo clássico do que afirma João Castro. Praticante assídua de stand up paddle, ela conta que teve seu primeiro contato com a canoa através de eventos do Aloha:
“O Aloha Spirit foi o primeiro grande evento de Va’a que participei, há uma década. Foi o festival que fez com que eu me apaixonasse pelo esporte, ao ver tantas raias cheias de gente de todo o Brasil e até de outros países”, revela Nicole.
A remadora da Bahia também destaca o importante papel do festival para atrair novos adeptos para a modalidade: “Até hoje, o festival permite que as pessoas que estão ingressando no esporte tenham a experiência de participar de uma competição, mas também de acompanhar de pertinho os seus ídolos do esporte. É no Aloha que se vive a cultura dos povos polinésios, por meio da dança, música, clínicas e cerimônias”.
No dia 22 de março, Nicole estará mais uma vez presente nas águas de Ilhabela, competindo junto de sua equipe, Kirymurê, em uma etapa do Aloha:
“Como o evento está sempre se reinventando, eu continuo tendo muito prazer em participar, um exemplo disso foi o retorno da prova Triângulo de Fogo. Em 2024 a base Kirymurê participará novamante, com seus atletas assíduos das etapas, mas também com os que estão chegando, para essa imersão na Va’a”.
Ao lado de Nicole, atletas de todo Brasil marcarão presença nas águas de Ilhabela. Representando 11 estados confirmados, incluindo remadores do Pará, que há muitos anos encaram uma longa viagem e brilham nas provas do Aloha. Uma grande comissão da Argentina também estará presente.
Ironicamente, remadores moradores de estados bem mais próximos, na mesma região Sudeste que receberá a competição em março, como é o caso do vizinho Rio de Janeiro e do Espírito Santo, enfrentam um dilema entre participar ou não do Aloha Spirit. Isso porque, mesmo com o festival tendo confirmado a data da etapa de Ilhabela desde setembro do ano passado, as federações de va’a do RJ e ES anunciaram, em janeiro, que realizarão etapas do estadual na mesma data do festival.
“O conflito de datas com outras competições prejudica a participação de muitos atletas e tira um pouco o brilho do evento”, lamenta o veterano Ivan Mundim, multicampeão fluminense, brasileiro e pan-americano de va’a. O remador do Rio de Janeiro, juntamente com diversos atletas do estado, foi surpreendido pela decisão da FEVAARJ de realizar uma competição estadual na mesma data que o Aloha Ilhabela, etapa que costuma atrair o maior número de participantes do RJ devido à sua proximidade geográfica.
Ivan, assim como Nicole e tantos outros competidores de va’a, tem a noção exata da importância do Aloha Spirit na sua formação como atleta e no fomento da modalidade, desde um a época em que competições de canoa polinésia eram raras:
“O Aloha Spirit pra mim tem um significado enorme no cenário dos esportes de água. Desde que me envolvi com as competições de Stand Up, há mais de 10 anos, enxerguei no Aloha o cenário perfeito, não só para alavancar a va’a, como principalmente pra difundir valores essenciais de convívio que o esporte traz, interagindo com pessoas de todo o Brasil e exterior. O festival deu um grande impulso nessa modalidade e trouxe um universo enorme de atletas, que reforçaram ainda mais esse círculo de amizade e convívio que virou marca registrada do Aloha Spirit”, avalia Ivan Mundim.
Assim, apesar de conflitos que não deveriam existir, sobretudo com um festival que tanto contribuiu para a va’a ser o que é hoje no Brasil, o Aloha Spirit persiste como uma força inspiradora pelo poder de sua própria história. De 22 a 24 de março atletas da América do Sul se encontrarão mais uma vez em Ilhabela, para viver experiências únicas e manter viva a chama da paixão pelos esportes aquáticos. O Aloha Spirit Festival continuará a ser um farol, guiando novos e experientes remadores em suas jornadas aquáticas.