De olho na largada!
Samir Barel fala sobre a hora da largada em competições de natação em águas abertas, um momento crucial e ... leia mais
Olá, leitores (as) do Aloha Spirit Mídia, espero encontrá-los (as) bem! Nos dias 17 e 18 de junho aconteceu o Campeonato Brasileiro de V6 em Niterói e todos nós fomos premiados com lindos e desafiadores momentos, seja participando dentro d’água ou acompanhando as transmissões ao vivo.
No sábado, primeiro dia de competição, na largada das equipes master 50+ e posteriormente 40+, todos puderam ter uma ideia das condições desafiadoras encontradas na boca da barra da Baía de Guanabara em frente ao paredão do Forte Santa Cruz. Diversas canoas foram inundadas pelas condições difíceis encontradas naquela região do percurso.
Geralmente, uma equipe espera e se prepara para defender a canoa de um possível huli e esquece de se preocupar com uma possível inundação. Na inundação, as diversas ondas que castigam o costado da canoa, acabam por encher a canoa de água. Durante a transmissão realizada no youtube do Aloha Spirit foi possível observar que algumas equipes, estavam com dois ou até mesmo três remadores esgotando água da canoa. Na contramão deste procedimento, foi possível ver outras equipes que não se preocuparam em esgotar a água, até o momento em que isso não foi mais possível, restando apenas provocar intencionalmente o huli e iniciar com todo o procedimento de recuperação.
Vendo isso, logo pude perceber o quanto ainda precisamos estar atentos aos diversos procedimentos de segurança em nosso esporte. Mesmo já tendo escrito diversos artigos sobre segurança no va’a, achei que seria interessante escrever mais detalhadamente sobre os procedimentos de esgotamento de água da canoa. Para isso, voltei ao livro Outrigger Canoeing: The Ancient Sport of Kings – A Paddlers Guide do renomado Steve West para estudar um pouco mais e trazer aqui para vocês as minhas percepções com relação a este assunto.
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Agora, vamos entender um pouco mais sobre o esgotamento de água de uma va’a!
Algumas dúvidas devem ser respondidas durante esse artigo, como por exemplo: quando, quem, como e por quanto tempo devo esgotar a água de uma canoa? Qual o melhor momento? Quem deve dar o comando de retirada da água? Devo usar a saia de proteção?
Bom, vamos começar explicando neste contexto o que é um bailer e o que é um balde e quando usar um ou outro. Um “bailer” é um recipiente de plástico que pode ser traduzido como balde em português. Para ser mais especifico o nome seria “hand bailer”, ou seja, balde de mão, aqui no Brasil é comum chamar o hand bailer somente de bailer.
Antigamente os bailers eram feitos de madeira e de forma rústica, mas hoje em nossa comunidade do va’a encontramos bailers feitos com recipientes de material de limpeza, geralmente de sabão líquido de 3 ou 5 litros. Ao cortar o fundo deste recipiente temos um excelente bailer reciclado. Veja na imagem abaixo:
Além do bailer, é bem comum encontrarmos nas OC6 baldes maiores, que também tem a função de retirar a água do casco da canoa. Geralmente é utilizado um ou dois baldes de 15 litros. Um balde fica atrás/embaixo do banco 2 ou a frente do banco 3 e o outro fica atrás/embaixo do banco 4 ou a frente do banco 5. Eles ficam nesta posição para serem amarrados na “wae” da canoa para em casos de huli, os baldes (e também os bailers), não serem perdidos (isso foi visto na transmissão ao vivo) ou não ficarem rolando pelo casco. É comum aproveitar estes baldes para colocar os hand bailers, além de outros objetos como borrachas de reserva, garrafas de água e bolsas estanques.
Importante entendermos que não adianta termos estes equipamentos na canoa, sem que tenhamos a noção de quando eles devem ser utilizados.
Pois bem, então sabemos que ambos são usados para esgotar a água que entra em uma canoa, seja ela uma OC6, V6, V3 ou até mesmo uma V1. Mas qual o melhor momento para usar um bailer ou o balde?
QUANDO DEVO USAR O BAILER E/OU O BALDE?
Entendo que o ideal é não deixar chegar em uma situação de ser necessário usar o balde, isso porque, o balde é um recipiente grande e mais difícil de ser manuseado em uma situação de esgotamento de água. O ideal é sempre ir retirando a água da canoa com o objetivo de não deixar uma grande quantidade acumulada. Acredito que é melhor perder pouco tempo retirando água em vários momentos, do que, ter que despender um longo período de tempo esgotando uma grande quantidade de água, você concorda? E para isso usaremos sempre o bailer que é um equipamento menor e que proporciona maior rapidez e agilidade nos movimentos.
A ideia é sempre manter a canoa com a menor quantidade de água possível dentro do casco, mas sem perder muito tempo com essa ação, isso porque, se você está retirando água você não está remando. Importante entender também, que água dentro da canoa é peso extra e isso vai influenciar no rendimento da canoa, ou seja, quanto mais água estiver acumulada no casco maior é o peso que estamos carregando. Outro ponto importante é que, quanto maior for esse peso, mais a canoa afunda e uma maior parte deste casco fica em contato com a água provocando um maior arrasto e por consequência, diminuindo a velocidade da canoa. Além do que, com a canoa mais pesada, mais próxima a borda fica do mar aumentando a entrada de água causada pela ação das ondas.
Então, fica evidente que o equipamento que deve ser usado com maior frequência é o bailer. Mas o balde tem sua importância. Penso que o balde deve ser usado em momentos distintos.
O primeiro momento é para evitar a inundação da canoa, ou seja, mesmo retirando continuamente a água acumulada com o bailer, a quantidade no interior é muito grande, então o uso do balde pode ser mais apropriado, retirando uma maior quantidade em cada movimento. O outro momento de uso do balde é após recuperar a canoa de um huli, onde a quantidade de água pode ser muito maior, justificando o uso do balde, até ser possível trocar para o bailer.
ATENÇÃO! Não deixe o balde muito tempo sob a ação do sol, chuva e água salgada. Com o passar do tempo ele se torna quebradiço e frágil e ao utilizá-lo com movimentos rápidos, bruscos e com muito peso da água, ele irá quebrar deixando você sem o balde.
QUEM DEVE USAR O BAILER E/OU O BALDE?
Geralmente, o melhor banco para esgotar á água do casco da canoa é o banco 4 e ele pode fazer a retirada sempre que necessário, garantindo que não fique muita água e depois seja mais demorado para retirá-la, ou ter outras consequências.
O banco 4 fica em uma posição mais favorável de acordo com o design do casco da canoa, mas outras situações como por exemplo, o balanço da canoa de acordo com a ondulação e direção do vento podem fazer com que outros bancos realizem essa função. Os remadores dos bancos 3 e 5 podem auxiliar nessa retirada de água, sendo importante que todos eles comuniquem esta ação aos outros remadores, isso porque, os outros bancos a frente deles vão sentir a canoa pesada sem saber o porquê.
Em situações extremas, como a que foi vista na região em frente ao Forte Santa Cruz neste brasileiro, justificaria que dois ou até mesmo mais remadores desempenhassem essa ação de esgotamento de água tentando evitar a inundação. Claro que cada caso é um caso e não quero aqui julgar qualquer equipe ou remadores.
COMO DEVO USAR O BAILER E/OU O BALDE?
O primeiro ponto a se refletir é que, se estamos em uma situação de utilizar o bailer e o balde, devemos fazer isso com rapidez e segurança. A rapidez justifica-se pelo fato de quanto mais rápido retirarmos a água, mais rápido poderemos voltar a remar e sair da situação de risco de uma inundação ou huli. A segurança deve-se ao fato de realizar este procedimento de forma segura, ou seja, evitar usar movimentos bruscos e sem balançar o corpo para os lados no movimento de retirada de água, isso porque, o movimento lateral para a direita pode resultar em um huli.
Outro ponto importante a ser observado é com relação ao vento, procure jogar a água para fora da canoa observando para onde o vento possa estar jogando essa água, evitando assim que ela volte para dentro da canoa.
Ao retirar a água utilizando o bailer, você poderá fazer essa função com apenas uma das mãos, sendo assim, a outra mão pode estar segurando o remo. Deixar o remo no fundo do casco pode ser ruim, isso porque, o remo vai obstruir o espaço de retirada da água. Já ao utilizar o balde você vai precisar usar as duas mãos, então precisa encontrar uma forma de segurar o remo. Uma das formas possíveis é segurar o remo com sua coxa ou perna pressionando o remo na lateral da canoa. Ao fazer isso, faça com sua coxa ou perna esquerda, isso porque, se fizer com a direita você poderá estar exercendo uma força do lado direito da canoa, podendo ocasionar um novo huli.
QUAL O MELHOR MOMENTO PARA USAR O BAILER E/OU O BALDE?
Temos aqui mais um ponto de reflexão, o momento de retirar água é importante? Claro que sim, retirar água em um ponto do percurso onde estamos com o vento contra (upwind) não seria o melhor momento. Remar com o vento contra já torna a remada mais pesada e um remador parar de remar para retirar a água não seria um bom momento, a não ser que não tenhamos uma outra opção. Então, se a quantidade de água não é tão significativa e se em um curto período de tempo já estaremos em uma posição do percurso que o vento estará a favor (downwind), é melhor aguardar para fazer esse esgotamento a favor do vento.
Outro momento ruim é deixar para retirar a água já nos quilômetros finais de uma prova ou travessia, isso porque, se estivermos em uma situação de disputa de colocação, seria frustrante ter que parar de remar para retirar água. Lembrem-se, quanto mais água na canoa maior é o peso carregado, o arrasto e o risco de sofrer uma inundação.
QUEM DEVE DAR O COMANDO PARA RETIRAR A ÁGUA?
Tudo o que parece simples no va’a se torna complexo não é mesmo? Aqui cabe mais uma reflexão. A responsabilidade nesta ação de parar de remar para retirar água é de quem? Do leme? Do banco 4? Do capitão?
Primeiro temos que refletir sobre qual situação estamos falando? Se estamos falando de uma competição, com uma equipe e seus remadores supostamente treinados para competir, no meu entendimento a responsabilidade é do banco 4. Além disso, todos os remadores, independente do banco, precisam estar atentos a cada situação que possa exigir a sua participação neste esgotamento de água. Se existe dúvida com relação a isso, a equipe não está treinada como deveria.
Em situações de aulas normais no clube, entendo que, a responsabilidade é do capitão, instrutor ou leme. Cabe aqui uma outra reflexão, nem sempre o capitão ou instrutor é o leme.
DICA IMPORTANTE: Para entender mais sobre as funções de cada banco e procedimentos de segurança, acesse os artigos que escrevi sobre estes assuntos de grande importância para todo remador de va’a.
ACESSE AQUI => As funções de cada banco
ACESSE AQUI => Remando com segurança
ACESSE AQUI => Aplicativos e procedimentos para remar com segurança
ACESSE AQUI => Aprendendo sobre huli
EXISTE ALGUM OUTRO EQUIPAMENTO UTILIZADO PARA EVITAR AS INUNDAÇÕES?
A resposta é sim, temos a “saia”. Praticamente todas as situações que vimos acontecer no brasileiro de V6 em Niterói poderiam ter sido evitadas se as equipes estivessem utilizando uma saia de proteção. Claro que não é somente isso que devemos analisar com relação ao brasileiro, mas o uso teria sido altamente recomendado para aquela situação de mar em frente ao Forte Santa Cruz e arredores. A saia faz o fechamento da parte aberta da canoa, evitando assim, que a água entre e se acumule internamente.
Mesmo com o uso da saia, ainda pode ocorrer a entrada de água, mas em uma quantidade muito, mas muito menor que sem a saia. Além disso, em situações de huli, como existe uma maior vedação das partes abertas da canoa, a quantidade de água acumulada após a recuperação do huli é menor, facilitando no tempo de retirada de água.
Claro que, ao se decidir pelo uso da saia, os procedimentos que passamos neste artigo poderão ser um pouco diferentes exigindo treinamento e familiarização com o uso da mesma.
Na figura acima podemos observar a técnica utilizada pelo banco 2 ao esgotar a água de uma V6 com saia. Com a mão esquerda a remadora segura seu remo, aproveitando para manter a saia aberta desobstruindo o espaço necessário. Veja também que a remadora sobe no banco, encaixando seu corpo nos castelos da wae dianteira da canoa, liberando maior espaço para retirada de água.
Para saber mais sobre a utilização deste equipamento assista a live “USO DE SAIA NA CANOA” transmitida recentemente no canal do Aloha Spirit Mídia com a participação de Serginho Prieto e Marcelo Dias, com intermediação de João Castro.
ACESSE AQUI => https://www.youtube.com/watch?v=xBz357AEPjw
REFLEXÕES E CONCLUSÕES
Vejam como ser um remador de va’a não é algo simples, não basta sentar-se na canoa e sair remando. Nossa prática envolve diversos ensinamentos, procedimentos, estudos, preocupações e responsabilidades.
Com certeza não escrevi tudo o que precisa ser estudado, como por exemplo, para esgotar água de uma OC6 pode ser menos complexo do que de uma V6, concordam? Na V6 (e também V3 e V1) temos um espaço menor com o cockpit fechado. Esgotar água de uma canoa com saia também pode ser mais complexo, exigindo outras técnicas não demostradas aqui.
Além disso, temos que estar preparados fisicamente, pois retirar água é cansativo e vai exigir preparação do remador. Mais importante ainda é estarmos preparados psicologicamente para situações mais extremas as quais ainda não fomos expostos e não sabemos nossa reação.
Então é isso meus queridos(as) leitores(as) do Aloha Spirit Mídia. Neste artigo tentei trazer para vocês minhas percepções sobre o esgotamento de água de uma va’a. Espero que tenham gostado.
Um big aloha e até mais!
WEST, Steve. Outrigger Canoeing The Ancient Sport of Kings – A Paddlers Guide. 2ª Ed. Batini Books, 2010.