PASA 2018 | Entrevista Karin Sierralta
Karin Sierralta, presidente da Pan American Surf Association, troca uma ideia com o nosso editor e fala ... leia mais
Apesar de jovem, Igor Lourenço Oliveira, aos 26 anos de idade, tem uma bagagem e tanto no va’a. O carioca acumula temporadas no Havaí e no Taiti, tendo a oportunidade de beber da água da canoagem polinésia direto da fonte.
Na entrevista a seguir, concedida logo após seu retorno do Taiti, onde participou, juntamente com a equipe brasileira, do Mundial de Sprint, ele fala sobre esse e outros assuntos.
Como é a sensação de passar mais uma temporada no Taiti?
Incrível. Essa temporada, apesar do ocorrido na Te Aito, foi ainda melhor que a última (Igor quebrou a canoa ao colidir com outro remador logo na largada e teve que abandonar a prova). Eu pude fortalecer amizades antigas, fazer novos amigos, conhecer lugares novos, evoluir minha técnica de remada, fiz alguns treinos memoráveis como o dia em que por acaso treinamos com Kevin Jerusalemy, Tupuria King e Manutea Millon. Estar remando e observando eles ‘in loco’ foi bem legal.
Fala um pouco sobre a receptividade dos taitianos
Os taitianos são incríveis neste quesito, muito acolhedores. Eu novamente fiquei na casa do meu amigo Hotuiterai Poroi (Leme da Air Tahiti) e me senti ainda mais em casa, assim como outros brasileiros que ficaram em casas de outras famílias. Os taitianos têm sempre o prazer de apresentar um pouco da cultura local e isso é muito importante para o crescimento de todos nós como seres humanos, eles têm uma grande humildade no esporte e são bem ligados à família e amigos.
Dizem que enquanto no Brasil uma criança ganha uma bola de futebol, no Taiti ela ganha um remo! É isso mesmo?
É mais ou menos por aí! Podemos observar diversas crianças com 11,12 anos remando juntas de V1 e V6, esse é o verdadeiro segredo! Existe até um modelo de V1 para crianças!
Os grandes ídolos esportivos do Taiti são os remadores como Rete Ebb, Steve, Kevin e a multicampeã Hinatea. As principais provas como a Te Aito e Hawaiki Nui são transmitidas ao vivo na TV. Tudo isso mostra o grande valor do Va’a na Polinésia Francesa.
Você que já tem experiência em competições internacionais, inclusive no Taiti, o que achou desse Mundial?
O nível dos atletas estava incrível! Pela primeira vez em alguns anos que boa parte da elite do Va’a do Taiti estava junta, temos de destacar a Nova Zelândia, Rapa Nui, Nova Caledônia, Austrália e Wallis and Futuna.
Uma boa oportunidade para a equipe brasileira remar em um nível tão alto…
Sem dúvida. Essa experiência vai ser muito importante para que no próximo mundial estejamos mais fortes!
E quanto à estrutura do mundial?
A estrutura estava muito bonita, grande e bem organizada, mas devemos sempre fazer as críticas construtivas quando necessárias. Nós, atletas, não tínhamos água e alimentação fornecida pelo evento. Eu entendo que por ser um evento enorme há essa dificuldade, porém, o atleta precisa ser valorizado nesses quesitos também.
Nesse mundial ficou claro que a Nova Zelândia está se estabelecendo como uma grande potencia mundial do Va’a, inclusive dando um “calor” nos taitianos nos primeiros dias de Mundial. Dá pra avaliar porque eles chegaram nesse nível?
Organização, foco e treino. O preparo deles é sensacional. Conversei com alguns e eles destacaram bastante os camps de treino realizados para a preparação dos atletas da elite. Além disso, eles chegaram um pouco mais cedo no Taiti e tinham V1 e V6 apenas deles para treinar e não depender das canoas do mundial, as quais só poderiam ser utilizadas por um determinado tempo por cada delegação. Devemos destacar também que grande parte dos atletas de elite são muito experientes internacionalmente e em provas desse tipo, até os mais jovens.
E como o Brasil está sendo visto entre as outras nações do va’a? Estamos ganhando moral lá fora?
Aos poucos estamos ganhando uma moral, infelizmente bons remadores do Brasil não conseguiram viajar pra lá e isso teria nos ajudado em algumas provas, mas pelo menos os presentes mostraram raça e se esforçaram e tivemos alguns bons resultados.
Um fator importante para ganharmos moral é a presença brasileira em algumas provas internacionais.
A minha impressão é a de que o Havaí preserva um pouco mais algumas questões em relação à tradição, como as canoas de madeira
Você que já remou também no Havaí, poderia traçar um paralelo entre a cultura de canoagem deles com a dos taitianos? O surfe também exerce influência no va’a do Taiti ou é mais característico do Havaí?
“Ambas as culturas tem uma ligação fortíssima com o mar e isso pode ser visto através do respeito e do desempenho deles nas mais variadas condições de mar, seja flat, upwind, downwind, vento lateral. A minha impressão é a de que o Havaí preserva um pouco mais algumas questões em relação à tradição, como as canoas de madeira.”
Quanto ao surfe, com certeza é mais influente no Havaí segundo a minha impressão, até porque eu remei no North Shore de Oahu, Meca do surfe.
Pra encerrar, os clubes de va’a tem crescido muito no Brasil e teremos um circuito brasileiro de V6 chancelado pela CBVAA que será realizado Ecooutdoor, que já é conhecida por fazer o Aloha Spirit Festival. Qual a sua expectativa em relação ao circuito?
Tenho uma grande expectativa, a CBVAA vem se esforçando muito para atender bem aos atletas e organizar um bom circuito. Acredito que a Ecooutdoor tem uma enorme possibilidade em realizar duas provas inesquecíveis, visto que os locais de prova são muito bons e a empresa tem uma grande bagagem na realização de eventos, como o Aloha spirit.