Entrevista | Fernando Bonfá

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O principal locutor de eventos de paddle sports do Brasil, Fernando Bonfá, troca uma ideia com nosso editor e fala sobre sua trajetória profissional, planos para o futuro e sua paixão pelos esportes de água

“Olha essa fera aí meu!”. O bom humor e a sagacidade são a marca registrada de Fernando Bonfá, hoje o locutor mais requisitado do Brasil em provas de paddle sports. Foto: Green Pixel

Um dos maiores equívocos que existem quando falamos sobre o universo esportivo é o de acreditar que a visão sobre determinado evento deva ser focada apenas nos atletas.
Obviamente eles são os ‘atores’ de maior destaque nesse grande palco, razão pela qual merecem destaque. Porém, se o atleta é a estrela que brilha, isso acontece em grande parte porque há muita gente ao seu redor trabalhando duro para fazer a coisa acontecer.
É por isso que nossa missão no Aloha Spirit Club é a de dar voz a todos que de alguma maneira contribuem para o fomento do esporte e apresentar a nossos leitores uma visão completa sobre esse universo.
Um desses personagens chama-se Fernando Bonfá. Um paulistano bem humorado de 38 anos que nos diverte com suas locuções originais e sagazes. Mais recentemente ele também se revelou um grande entrevistador através do “Water Chats”, programa exibido periodicamente em seu perfil no Facebook que nos ajuda a conhecer um pouco mais da história de pessoas que contribuem para o fomento da cultura dos esportes de água.
Na entrevista a seguir, Fernando Bonfá fala sobre sua trajetória profissional, seus planos para o futuro e de sua paixão pelos esportes de água.

O cara também manja dos paranauês! Brincado de flying ama em Santos, onde costuma remar: “Eu me divirto muito remando”. Foto: AP

Quando foi que você se deu conta de que era um comunicador?

Eu trabalho no mercado da publicidade e comunicação há quase 20 anos, e desde a adolescência tinha vontade de trabalhar com isso. Já a minha entrada no mundo da locução foi totalmente acidental. Literalmente (risos). Em 2010 eu remava na Raia da USP com o Alessandro Matero e estava treinando para o campeonato de canoa havaiana que iria acontecer ali em algumas semanas. Acontece que acabei fraturando a mão em um acidente doméstico e então o Matero me convidou para fazer a locução.

Achamos o culpado! (risos)

Eu cheguei para ele e disse que não iria competir, mas que gostaria de contribuir de alguma forma pra realização da prova. O Matero então me propôs uma série de atividades e entre elas a locução. No final deu tudo certo e eu ganhei até cachê! Foi um evento muito legal e rolou também uma prova de stand up paddle. Depois eu fui convidado pelo Ricardinho (Munhoz, da Tempo Wind Club) pra fazer a locução de um evento que ele iria realizar por lá, uma das primeiras provas de SUP Race do Brasil. E a partir de então comecei a trabalhar em mais eventos e também a me aperfeiçoar na locução.

No Battle of the Paddle Brasil eu notei uma sintonia muito boa entre você e o Dreu Murin. Ele é a sua principal referência?

Ele é uma grande referencia pra mim. Foi um grande prazer trabalhar com o Dreu do BoP Brasil. Na minha opinião é o principal locutor do stand up mundial. A gente trabalhou junto no Battle of the Paddle Cabo Frio, em 2013, e foi muito bacana. Depois fizemos a edição de Floripa.

Ao lado de Dreu Murin fazendo a locução do BoP Brasil. Foto: AP

Em quem mais você se espelha no trabalho de locução?

Nesse segmento “paddle” além dele, curto muito o trabalho do André Vohi que faz as transmissões do Tahiti Nui Tv.

E de uma maneira geral?

Bom, a locução tem muitas vertentes e sou fã de muitos profissionais desse setor, fica difícil citar apenas um. Na TV, gosto muito do Sérgio Maurício, Milton Leite (ambos do Sportv), do Rhoodes Lima (canal combate) e do eterno Silvio Luís, que já tive o prazer de conhecer pessoalmente.

No rádio, o maior nome de todos os tempos sempre será o José Silvério, imbatível, a grande referência.

Nos eventos outdoor, gosto muito do Douglas Grimaldi e do Leandro Pricoli, são ótimos MCs.

Na locução comercial, cito aqui duas vozes com quem aprendi bastante quando trabalhei com eles: Ricardo Fleury e Fred Benuce, certamente você já ouviu bastante a voz deles por aí. (risos)

Mas a grande referência que tenho em misturar humor com esportes vem da dupla Marco Bianchi e Paulo Bonfá, narradores da época memorável do MTV Rock & Gol. Eles transformavam uma peleja de pernas de pau em algo imperdível!  (risos)

A locução é a sua principal atividade?

A locução na verdade é uma atividade complementar. Boa parte desses quase 20 anos trabalhando com comunicação foi através de veículos da área. Hoje eu trabalho no departamento de publicidade da editora Abril. Infelizmente não dá pra viver só de locução. Seria o mundo ideal!

A proximidade com os atletas já rendeu momentos épicos, como quando o locutor foi jogado na água pelos competidores durante uma edição do Aloha Spirit Festival. Mas essa proximidade também já rendeu algumas “broncas”: “Se ofendi alguém, sou o primeiro a pedir desculpas”. Foto: AP

Já teve alguma vez em que você pensou: “Putz, exagerei na brincadeira”?

Curiosamente, nas vezes em que eu achei que tinha exagerado, todo mundo deu bastante risada e a pessoa a quem eu me dirigia levou na brincadeira. Mas aconteceu de eu fazer uma brincadeira que eu achei tranquila e a pessoa não curtir. Então é uma coisa meio subjetiva.

Como fez pra corrigir a situação? 

Olha, eu sou uma pessoa falível e cometo erros como todo mundo. Acho que o mais humano a se fazer é pedir desculpas a quem se sentiu ofendido. Acontece que existem pessoas que propositalmente levam uma piada a sério.

A gente vive em tempos de “politicamente correto” em que um humorista faz uma piada e pessoas levam a sério. Acho que tá faltando mais leveza, as pessoas aprenderem a rir de si mesmas. Porém, se alguém se sentir ofendido com alguma brincadeira que eu tenha feito, sou o primeiro a pedir desculpas, pois essa não é a minha intensão.

Pra quem te acompanha nas provas é nítido que você curte muito o que faz, mas conta uma coisa que te deixa “P” da vida durante a locução…

Eu já fui mais intempestivo e mais reativo, mas o tempo e a experiência ajudam você a saber como lidar melhor com as situações e ser mais resiliente.

Agora, duas coisas que me deixam um pouco chateado: quando atletas vêm reclamar comigo sobre algum problema relativo à prova que não é da minha alçada e quando atletas se dirigem a mim com desrespeito, começam a dar barraco em cerimônia de premiação por causa de atraso ou algum erro na colocação. Esse desrespeito me deixa “P” da vida!

Competindo de SUP na Guarapiranga (boné branco, à frente) durante uma das primeiras provas de SUP do brasil. Foto: AP

Qual foi o seu primeiro contato com esse universo dos “paddle sports”?

Eu comecei a me aventurar por esse universo remando de caiaque na Guarapiranga, em 2005. Eu frequentava um clube de Wake board que já não existe mais, o KD2. Fui me animando, pois cada vez conseguia ir mais longe e tomando gosto pela coisa.

Mas eu comecei a treinar mesmo quando passei a frequentar a Raia da USP sob as orientações do Alessandro Matero, que é um grande amigo que vou carregar por toda a vida. O Serginho Pietro que também dava aula lá também teve grande influência e me incentivou a participar de competições. Os dois tem um papel muito importante nesse processo.

Teu irmão, o Antônio “Totó” Bonfá, foi um cara que competiu por anos na elite do SUP. Você nunca se interessou em manter uma carreira de competidor?

Na verdade eu competi durante uns quatro anos na canoa e peguei ainda o começo das provas de SUP race no Brasil, mas então comecei a exercer a atividade de locução. Hoje eu prefiro focar mais no aspecto da saúde e do lazer porque o esporte é sem dúvida apaixonante e eu me divirto muito remando.

E como você vê o crescimento da canoagem polinésia no Brasil?

De uma maneira muito positiva, principalmente porque eu acho que o crescimento da canoagem polinésia está ocorrendo de forma muito orgânica por aqui. Aos poucos foram surgindo mais bases, mais professores e mais alunos e fomos aumentando o número de praticantes.

Eu brinco dizendo que isso aqui antigamente era um esporte de comadres, onde todo mundo se conhecia e hoje a gente vê que o esporte cresceu bastante. Mas acho que pra coisa crescer de forma mais sustentável, a gente precisa ter um número maior de players nesse mercado. Acho que a gente tem uma demanda muito maior do que oferta. Seria muito positivo se conseguíssemos aumentar a oferta de equipamentos por parte de fabricantes e importadores.

Fazendo o leme ao lado dos irmãos Santacreu em uma equipe formada por amigos durante competição na Guarapiranga. Foto: AP

Falando no teu programa, o Water Chats, como que surgiu a ideia de fazê-lo?

O Water Chats aconteceu de uma maneira completamente espontânea. Eu vinha observando essa movimentação de transmissões ao vivo no Facebook, e como essa ferramenta vinha se popularizando, resolvi fazer o meu pra promover alguns eventos que eu iria fazer e acabou dando um resultado muito interessante. A audiência e o engajamento me surpreenderam e alguns amigos me incentivaram a fazer isso outras vezes.

Eu comecei então a trazer convidados pra oferecer mais conteúdo durante as transmissões e percebi que o grande lance era contar a história dessas pessoas que fazem o esporte acontecer. O Water Chats não tinha um nome e a gente fez uma promoção e o mais legal é que o nome foi dado pelos próprios telespectadores.

Dá muito trabalho produzir?

Eu gostaria de ter mais tempo pra produzir porque é muito prazeroso, mas por conta do meu trabalho eu não consigo me dedicar ao Water Chats como eu gostaria. Tanto que tive que diminuir a frequência de transmissões.

Mas tem toda a parte em que eu pesquiso pra decidir quem vai ser entrevistado, depois pesquisar sobre a história dessa pessoa, produzir o roteiro com as perguntas e também fazer as parcerias com os anunciantes, as marcas que participam dos sorteios. A hora da transmissão ao vivo é a mais fácil.

Hoje eu sigo em busca de mais parcerias pra fazer o projeto crescer mais, pois eu acredito que com mais estrutura é possível alcançar maiores resultados.

Entrevistando Pedrinho Weichert, atleta e colunista do Aloha Spirit Club, em uma das edições do Water Chats. Foto: AP

Quem você gostaria de entrevistar e ainda não conseguiu?

É muito difícil falar um nome só. No Brasil tem duas pessoas que eu gostaria muito de entrevistar. Um deles eu já convidei, e ele se esquivou, que é o Picuruta Salazar. Outro é o Fabinho Gouveia. Acho que são dois caras que são a cara do programa e eu sem dúvida quero muito fazer uma entrevista com eles!

Internacionalmente, tem um projeto que eu gostaria muito de viabilizar que é uma viagem ao Havaí para fazer uma série de entrevistas por lá. Espero que um dia eu consiga viabilizar esse projeto. É um sonho que tenho.

Pra encerrar, como você vê esse segmento dos paddle sports no futuro?

Acho que o Brasil tem um potencial enorme não só por conta do clima, mas também pela oferta de água que o país tem. O desafio é aumentar o número de praticantes, fomentar o mercado e estimular a massa crítica que é formada por praticantes que são apaixonados pelo esporte como eu e você!

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