Naufrágio em Florianópolis: Remadora da OC-6 conversa com nossa redação
Remadora que estava à bordo da OC-6 que naufragou em Florianópolis (SC) na última sexta-feira (9) fala ... leia mais
Olá queridos amigos leitores!
Com muita alegria volto a escrever, e dessa vez para o Aloha Spirit Mídia.
Comecei a remar em dezembro de 2005, quando havia apenas duas canoas em Niterói, no clube chamado Niterói VA’A!
Depois vieram outros clubes, como o Praia Vermelha, o False Creek Canoe Club, em Vancouver, o Hoa Aloha, e por fim o Icarahy!
Ao longo desses anos muitas transformações ocorreram no esporte. As canoas, que antes eram inteiriças, se tornaram bipartidas e depois tripartidas, o que facilitou muito o crescimento do esporte, especialmente no âmbito competitivo.
Houve o crescimento das OC1, das V1, clínicas com estrangeiros, clínicas com brasileiros, grandes travessias, ondas surfadas, e alguns acidentes também!
Hoje o esporte vive seu momento áureo, com brasileiros sendo reconhecidos mundo afora seja no âmbito competitivo ou de navegação clássica!
Ao longo desses 15 anos vivi e experimentei muitas coisas: fui atleta no tempo de Praia Vermelha e depois no Canadá, e ainda hoje, de vez em quando, me arrisco em algumas provas mais longas com amigos na canoa!
Contudo, minha grande paixão são as grandes travessias e navegação clássica, as vezes com uso de instrumentos, mas cada vez mais focado na navegação astronômica, na busca da essência pura de conectar com os elementos da natureza.
São tantos casos e acasos para contar aqui, e o primeiro deles será sobre uma experiência positiva que rolou entre os amigos da expedição Anamauê, que saiu de Niterói e chegou em Santos em 11 dias, com os remadores Jose Paulo, Caio Guerra, Ubajara, Lucas Mion, Chico Viniegra e eu, Douglas Moura.
Durante o ano de 2016, resolvemos buscar algo que nos fizesse ir além do que já havíamos feito.
Todos os remadores em questão tinham inúmeras horas de água, muitas travessias e, acima de tudo, um grande respeito e amizade entre si!
Qual o destino? De Niterói a Santos, em um percurso de 450 km, e o que uniria às bases de todos que estavam na canoa.
O nível de preparação foi alto, muito desgaste, muitas duvidas, muitas incertezas, mas uma única certeza levava a gente a seguir em frente: nós conseguiríamos!
E qual era o objetivo da viagem? Antes de tudo, nos tornarmos mais amigos na chegada do que éramos na partida!
Havia muita coisa em jogo, uma canoa emprestada V6 pelo amigo Celso Filletti, a expectativa de todos que apoiaram o projeto, e também a nossa própria pressão em partir!
O partir é sempre o mais difícil, levantar ancora! Colocar tudo o que usaríamos em 11 dias em uma canoa polinésia, malas, águas, comida, e ir autossuficiente.
Saímos de Niterói dia 27/12 para nossa primeira perna, até Guaratiba. Canoa pesada, cerca de 200 kg a mais, e 60 km de remada! Mar grande e duro, avançamos e chegamos ao fim do dia.
Dia seguinte, mais 60 km até Palmas, condições mais tranquilas, mas uma tempestade teimou em nos ameaçar.
Raios caindo lá na frente, mas à medida em que avançávamos, a tempestade gentilmente abria seu caminho.
No final de tarde chegamos em Palmas. Estávamos cansados e ainda não tinha nem começado.
A partir daí uma remada linda entre Palmas e Aventureiro, mais 40 km; no outro dia mais 50 km até Martim de Sá passando pelo trecho mais exposto de toda a nossa expedição!
Ao chegar em Matim de Sá a gente estava no limite psicológico. Todo aquele peso parecia que tinha desabado, e ninguém se entendia com ninguém mais.
O incomodo físico estava chegando, o espaço confinado que passávamos horas do nosso dia estava começando a pesar – e o peso de seguir em frente com tantas expectativas também.
Tudo estava indo para um rumo que não fora traçado pela gente, e aí foi onde o Zé chamou todos antes de seguirmos viagem, para alinharmos e reajustamos o nosso Leme.
Foi incrível ter vivido esse momento, um momento transformador na viagem. Um por um, todos fomos colocando nossos medos, anseios, angústias em um gesto de pura camaradagem, de irmãos para irmãos.
As emoções foram expostas e o coração ficou leve. Todos se olhavam nos olhos, e aceitavam o que era dito como uma forma de melhorar o passo seguinte, o próximo trecho da viagem!
Ou seja, entendemos ali que a proposta da viagem estava sendo descumprida, que não estávamos sendo mais amigos do que havíamos saído, e que pararíamos ali se esse propósito não fosse alcançado! Fizemos um real Hooponopono.
Desse momento em diante, o que entrou na canoa foi um sétimo remador (Mana) totalmente diferente do anterior e conseguimos por em prática a filosofia polinésia de seis remadores, uma canoa e um só espirito até depois lá em Santos, em uma travessia épica, entre amigos e que ficou na memória de todos nós para sempre!
Mas o desfecho, os acertos e erros dessa expedição, os aprendizados serão papo para alguma outra edição da nova coluna, “Casos e Acasos na coluna polinésia”.
O próximo artigo será sobre como um simples carbogel gerou uma situação totalmente inusitada!
Aloha!
Douglas Moura
Capitão Amador