Casos e acasos da Canoa Polinésia: Como um carbogel quase naufraga uma canoa

Compartilhe
Canoa polinésia quase naufraga
Quando se entra no entra no mar, é preciso deixar desavenças fora da canoa. Foto: Reprodução

Dando continuidade à nossa coluna, a matéria dessa semana vai ser de um fato que pode parecer engraçado, mas que foi uma das grandes lições da minha vida. Alguns nomes ficarão ocultos.

Caso: Como um carbogel quase naufraga uma canoa.

Era um fim de tarde no ano de 2008, talvez 2009, já não me recordo tão bem. Uma época em que as canoas ficavam na Praia Vermelha, saudoso tempo diga-se de passagem.

Era muito legal nessa época com apenas os clubes Rio Va’a, Carioca e Praia Vermelha, além do Clube Carioca de Canoagem, da galera do Caiaque Oceânico.

Nessa época eu remava no Niterói VA’A, um braço do Carioca Va’a na cidade de Niterói, e invariavelmente nos juntávamos para umas remadas, churrasco, provas…

Marcelo Depardo um dos pioneiros da Canoagem Polinésia do Brasil gerenciava essas duas bases, e nesse fim de tarde especificamente saí para a Praia Vermelha, para encontrar com Depardo, Pedro Ceglia, Chico Viniegra e mais dois outros remadores.

O mar não estava grande, não estava ventando nem nada disso. Então, ia ser mais uma remada costumeira para a galera.

Saímos da Praia Vermelha perto das 15h00 e fomos em direção ao Leme. Não sei porque, mas a energia da canoa estava torta, ninguém se entendia nesse dia.

Os comandos não eram executados, tudo estava incomodando… Mas fomos assim mesmo, afinal, poderia ser só mais um mal dia da galera e que o mar poderia renovar.

Estava tudo bem até que um de nós pediu um carbogel. Estávamos entre a Ilha da Cotunduba e a pedra do Leme, um local que tem muita corrente.

Para se ter uma ideia, foi onde um barco chamado Bateau Mouche naufragou em um réveillon dos anos 1980.

O banco 1 jogou, só que o vento empurrou para a direita. O banco 2 foi pegar; o 3 idem… E aí, Iako para o alto, Huli.

Ok, só mais um Huli da galera, vamos desvirar tranquilo… Usando a expressão moderna, “Só que não”… A água nesse dia estava extremamente gelada, e nesse meio tempo dois dos nossos ficaram paralisados pelo frio.

Demos os coletes e remos para eles e fomos para a manobra de desvirar a canoa.

Ali estava vindo ondas de tudo o que era lado. Virávamos e desvirávamos a canoa, mas a água sempre cobrindo a borda…

Fazíamos tudo o que podíamos, equilibrávamos a ama no ar para esperar o melhor momento, canoa alinhada com ondulação e nada dava certo.

Estávamos começando a perder as esperanças e já pensando em ter que sair nadando na praia, quando tivemos o insight de ir, eu e Chico, para a popa da canoa, tentar sustentar ela batendo pernas, como no polo aquático, e daí criar peso para a agua não entrar tanto… Uma, duas, três tentativas e aí, de repente, conseguimos uma chance!

Entra na canoa e tira água … foi tudo muito rápido. Os outros remadores estavam totalmente em choque pela temperatura da água, e foi uma sorte termos conseguido.

Já estava no final do dia quando regressamos para a praia vermelha com um sentimento amargo na boca, como tudo tinha dado tão errado?Como passamos um perrengue daquele de bobeira? A solução mais fácil foi: O mar é traiçoeiro!

Lá na Praia Vermelha tem um pescador muito antigo chamado Catarina, e ele ouvia tudo.

Catarina ainda é muito amigo da galera, e começou a ficar meio irritado com aquilo que a gente conversava. Até que ele não se aguentou e veio falar conosco:

Vocês estão falando um monte de besteira sobre o mar. Vocês não deveriam ter saído hoje! Refaçam o caminho de vocês e verão que houve sinais, sutis, e vocês não souberam interpretar”.

Ficamos ali pensando, e realmente, a energia da canoa estava errada. Até acontecer o Huli, a gente só discutia, portanto, não prestamos atenção nos elementos do mar.

E aí o mar veio e mostrou para a gente: ou a gente está ligado ou não podemos estar em seu ambiente!

Catarina continuou:

O mar não é traiçoeiro! Ele é intolerante!

… e saiu com aquele jeito de lobo do mar.

Essa frase, para mim, se tornou a minha frase da vida de quando vou para o mar. Ele é intolerante com abusos, e vai avisar que estamos passando do ponto! Cabe a nós nos atentarmos e, aos sinais de aviso não ir, termos a sabedoria de voltar!

Aloha!

Na próxima matéria, um caso de como um fim de semana em que fui dar um curso em Santos, e comecei sendo o aluno!

Não perca! Aloha!

Douglas Moura

Capitão amador

Compartilhe