Lua de mel & remadas na Polinésia Francesa
Larissa Noguchi e Alan Bordallo, fundadores do Clube Caruanas Va’a de Belém (PA), viajam em lua de mel ... leia mais
Desde sempre o homem busca se superar em desafios extremos em relação ao ambiente em que vive. A lista é longa e focando somente nos esportes aquáticos, temos recentemente a travessia do sul-africano Chris Bertish, que cruzou o Oceano Atlântico a bordo de um Stand Up Paddle (SUP). No Brasil um outro exemplo é a quebra do recorde brasileiro pelo remador Ricardo Padovan, em uma remada extrema de 24h ininterruptas a bordo de um Surfski.
Espelhados nestes exemplos e vendo o potencial do SUP de ultrapassar grandes distâncias, tanto em mar, rios ou represas, bem como sua imensa interação com o meio ambiente, vimos aí uma oportunidade de elaborar uma travessia extrema, ligando trechos preferencialmente de águas abrigadas, entre os litorais de São Paulo e Paraná e que foi intitulada de Travessia de Águas Abrigadas, com cerca de 250 Km.
A primeira parte deste projeto foi realizada no dia 11 de março de 2018 pelos remadores Ricardo Padovan, Ulisses Bicudo e eu, Caio Coutinho. Neste dia remamos por cerca de 72 Km a bordo de nossas pranchas de SUP race, descendo o rio Ribeira de Iguape, no trecho entre os municípios de Registro até Iguape, no estado de São Paulo.
Originalmente este trajeto seria realizado em dois dias, com uma parada estratégica no meio do caminho, para montagem de acampamento. A data já estava marcada para o final do ano passado, mas a expedição foi abortada devido a uma condição meteorológica desfavorável.
O projeto voltou a ganhar vida no sábado dia 10 de março, após um telefonema do Padovan para mim e acabamos decidindo realizar a travessia no dia seguinte. Assim, os preparativos começaram e no tardar da noite o remador Ulisses também se juntou ao grupo.
Como só tínhamos um dia para esta travessia, o planejamento mudou e a remada passaria a ser no estilo chamado de ‘non stop’, com pequenas paradas somente para hidratação e suplementação. Apesar de não termos nenhum barco de apoio, tínhamos um plano B e poderíamos acessar as estradas e fazendas da região em caso de alguma intercorrência, além de dois contatos em Iguape e Registro para maior suporte.
Sendo assim, já na madrugada do domingo, eu parti sozinho de Santos por volta das 01h30 e de Sorocaba saíram o Ulisses e o Padovan. Nos encontramos na cidade de Iguape as 04h30 da manhã. Como parte da estratégia deixamos um carro em Iguape (para ser utilizado no final da expedição) e subimos com as três pranchas no outro carro para Registro, onde chegamos às 07h00.
Após organizarmos os equipamentos, mochilas e pranchas, deixamos o carro na Pousada Ribeira, local onde também foi realizada nossa última refeição. Entramos na água as 08h30 da manhã, com o sol já mostrando suas caras. Devido às chuvas de dias anteriores o rio estava cheio, com uma correnteza bastante proeminente.
Decidimos realizar paradas estratégicas a cada 10 Km para alimentação e hidratação. O rio Ribeira de Iguape possui uma morfologia peculiar, bastante sinuoso, com muitas voltas e isso fazia com que tivesse sempre um lado do rio com maior velocidade de corrente e o lado oposto mais raso, formando praias de rio, praias estas que utilizamos também como pontos de descanso e alimentação.
Existem por toda a região inúmeras fazendas de gado, principalmente nelores e búfalos, além de extensas plantações de bananas. Este desmatamento acabou chegando até às margens do rio, retirando toda a sua mata ciliar. Atualmente o que existe são poucos núcleos de mata bastante isolados entre eles. Com a ausência destas árvores, foi difícil escapar do sol, mesmo nas praias do rio. Não vimos nenhum animal selvagem, apesar da proximidade da Estação Ecológica da Juréia.
A partir da metade do trajeto os ventos começaram a soprar mais forte e as variações de marés foram mais perceptíveis do que antes. Esta conjunção de fatores como vento contra e maré subindo formaram condições de ‘up wind’ (remando contra o vento) que dificultaram enormemente o nosso avanço por quilômetros.
Os barqueiros e pescadores eram presença constante, com suas voadeiras correndo pelo rio ou mesmo trabalhando na colocação e retirada de suas redes de pesca. Redes estas que às vezes tomavam toda a largura do rio e que causaram até uma queda do Ulisses quando uma dessas prendeu na sua quilha.
No trajeto até Iguape não existem muitas bifurcações que possam causar problemas de localização e navegação, porém, nos últimos quilômetros existe um trecho de braço de rio que pode ser confundido. Neste local acabamos errando a entrada e perdemos valiosos minutos até retomarmos nosso caminho correto.
Após um pôr do sol fenomenal as águas que até então estavam calmas se tornaram muito turbulentas devido a um vento de ‘up wind’ que soprou forte. Anoiteceu rápido e envolto nestas condições estressantes, entramos por um braço estreito do lado direito do rio, um verdadeiro labirinto, e finalizamos a travessia. Desembarcamos na praia, do lado esquerdo do rio, debaixo da primeira ponte do município de Iguape, onde pescadores retiravam os peixes oriundos de um dia abençoado de trabalho.
BALANÇO DO DESAFIO
Uma boa organização é essencial em desafios deste porte e extremamente importante para o seu sucesso. A logística no transporte das pranchas entre as cidades. O que levar durante a remada, a relação dos itens de segurança, equipamentos e os alimentos e a quantidade deles. As estratégias utilizadas antes, durante e após a remada. A preparação física e técnica é um pré-requisito. Não esquecendo do plano de contingência, essencial para a nossa integridade física.
Em desafios de endurance o diferencial foi saber dosar tudo, dosar o nosso esforço, pois estávamos sozinhos e tínhamos que chegar ao final do dia, sem machucar. Tivemos que dosar nossa hidratação, pois a água era limitada. Tivemos que entender como lidar com o desânimo, surgimento de bolhas, sede e calor excessivo, que se misturavam sem hora e nem padrão definido, com a alegria, o sentimento de liberdade e força. Todo este transe às vezes só era quebrado após uma brincadeira feita por alguém, na hora em que você mais necessitava.
Remamos por quase 11 horas desde Registro até Iguape. Foram cerca de 9h30min de tempo efetivo de remada. Na escuridão da noite, ao lado da ponte em Iguape, colocamos as pranchas, as mochilas e os remos dentro do carro e com os pés cheios de lama vermelha do rio, subimos novamente até Registro. Após algumas horas, com tudo organizado em seus devidos carros, três caras voltavam para suas famílias com uma bagagem emocional e um autoconhecimento que não tem preço.
Agradeço imensamente aos meus irmãos de remada Padovan e Ulisses por este dia maravilhoso, que como um grupo bastante unido, uma família, cuidando uns dos outros com carinho, atenção e bastante comprometimento.
Agradecemos a Pousada Ribeira por todo o apoio recebido. Agradecimentos especiais vão para as nossas famílias, filhos, amigos e apoiadores que nos incentivam e nos dão todo o suporte necessário para continuarmos em busca de novos desafios.
Não podemos esquecer de deixar registrado que estamos em busca de apoiadores, parceiros e/ou patrocinadores para os nossos projetos de travessias de SUP RACE, entre eles o de Travessia de Águas Abrigadas, citado no início do texto. Agora é descansar e sentar para discutir os próximos desafios. Boas remadas e pá na água!
Contato com o grupo: Pelos telefones (13) 9 8134-2538 com Caio Coutinho; (11) 9 5027-7878 com Ricardo Padovan e (15) 9 8140-7577 com Ulisses Bicudo, ou pelas redes sociais nos perfis de Facebook e Instagram dos remadores.
Contato Pousada Ribeira (em Registro – SP): Tel.: (13) 3821-1408 (www.pousadaribeira.com.br)
VÍDEO DA REMADA