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A trajetória vitoriosa de Lena. Coube à Lena Guimarães Ribeiro a marca histórica de conquistar a primeira medalha de ouro da história do SUP Race nos Jogos Pan-Americanos.
O feito, realizado na última sexta-feira, projetou a remadora e o stand up paddle competitivo a lugares nunca antes alcançados, incluindo até mesmo uma inserção no Jornal Nacional da Rede Globo.
Muita gente se pergunta agora quem é essa remadora, mãe e professora universitária que acaba de entrar para o rol das grandes figuras do esporte nacional.
A trajetória vitoriosa de Lena no esporte começou longe do mar, nas quadras de handebol, onde chegou a integrar a seleção nacional sub-16 e ser campeã brasileira defendendo o time do Vasco da Gama. Porém, após o nascimento do primeiro filho, Kauai, Lena, que é natural de Niterói e vivia na cidade, abandonou as quadras e mudou-se para Arraial do Cabo para viver na terra de seu marido, Américo Pinheiro.
Educador físico e treinador de atletas, Américo também dedicava-se à carreira de competidor em uma modalidade que começava a surgir no Brasil: o SUP Race.
Sob influência de seu marido, Lena começou a praticar o esporte “apenas por diversão”, porém, em 2012, segundo ano do circuito brasileiro da CBSUP, ela, novamente influenciada por seu marido, resolveu competir na categoria Fun Race.
Já na primeira prova ela chegou entre as três primeiras colocadas e, uma vez que iria acompanhar Américo nas demais etapas, resolveu correr o circuito até o fim. Resultado: campeã brasileira de Fun Race em 2012.
Nesse momento fica clara a postura de campeã, mais motivada pelos desafios do que por títulos. Ao invés de se acomodar na categoria, ela optou por migrar para a Race Profissional já no ano seguinte. Uma aposta ousada, mas que certamente fez toda a diferença em sua evolução como atleta e competidora.
Em 2013, a baiana Babi Brazil, até hoje a maior detentora de títulos da história do SUP race brasileiro (cinco), estava no auge. Lena e Américo sabiam que alcançar a primeira colocação naquele ano seria praticamente uma utopia. Então, estabeleceram a meta de ficar entre as Top 5 do circuito. Porém, ao final, Lena terminou a temporada como vice-campeã profissional.
No ano seguinte, Babi continuava imbatível e o SUP vivia um verdadeiro boom em termos de popularidade. A entrada de novas competidoras no circuito fez de 2014 um ano bem puxado, mas Lena conseguiu novamente ser vice-campeã nacional e, pela primeira vez, vencer uma etapa do circuito entre as atletas da elite.
Lembro de que na época fiz uma matéria com Lena para a revista Fluir Standup, na qual trabalhava como editor, e perguntei a ela se acreditava que o título brasileiro estava próximo, e a resposta veio com uma boa dose de humildade e também maturidade: “Nós, meninas, brigamos mesmo é pelo vice-campeonato brasileiro, pois a verdade é que Babi continua imbatível”.
Naquela época, Américo constantemente me descrevia a dedicação de sua esposa aos treinos. Poderia até ser exagero de um marido apaixonado, porém, em 2015, cobrindo o campeonato brasileiro por mais um ano, percebi que ela estava, de fato, chegando cada vez mais junto de Babi. Na última prova do ano, elas brigaram lado a lado pela primeira colocação, e Babi venceu mais uma vez, conquistando novamente o título brasileiro, só que agora por uma pequena margem de diferença.
Após três vice-campeonatos brasileiros consecutivos, Lena encarou o ano de 2016 decidida a vencer o circuito. Mesmo estando em uma ascendente e com equipamento de primeira, ela teve um ano duríssimo, e brigou, remo a remo, com Babi Brazil e Aline Abad pela primeira colocação. As três chegaram praticamente empatadas na última etapa do ano, porém, dessa vez, o tão sonhado título brasileiro finalmente se tornava realidade.
A trajetória vitoriosa de Lena. Foi o começo de uma nova dinastia no SUP Race profissional feminino, e Lena foi campeã brasileira nos dois anos seguintes, dando início a uma bem-sucedida carreira internacional, integrando a equipe internacional da Mistral SUP e conquistando resultados expressivos lá fora, com destaque para a primeira colocação na holandesa 11 City Tour.
Para além das provas, Lena também se destaca por sua atuação nos bastidores. Ela sempre fez questão de prestigiar e fortalecer o circuito brasileiro e os circuitos independentes importantes, como o Aloha Spirit Festival. Além disso, esteve presente em momentos decisivos do esporte no Brasil, como no caso do movimento em prol da igualdade de premiação entre homens e mulheres nas provas de stand up paddle, do qual foi uma das lideranças.
Chegamos então à conquista da medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos e uma vitória que entra para a história de nosso esporte.
Um amigo estrangeiro, também ligado ao stand up paddle, me chama para uma conversa no whatsapp. Primeiro, ele me parabeniza pela vitória de Lena, mas, em seguida, de forma bem-humorada, dá uma alfinetada dizendo que o ouro foi sorte, afinal, a norte-americana Candice Appleby, que liderou a prova na maior parte do tempo, somente foi ultrapassada pela brasileira na reta final, após cair do SUP, derrubada por uma onda.
A minha resposta vem na forma de uma foto. Nela está estampado o drop vertical de Lena em uma onda “buraco”, no inside de Punta Rocas.
Nessa situação, uma “simples mortal” teria muito provavelmente se apavorado, abandonado a prancha e tomado uma vaca horrível. Mas a brasileira, e veja você que ironia, que é considerada “fraca” no surfe de Race, cravou o remo na água, fazendo um eficiente leme, e manteve-se firme, em alta velocidade, até ser engolida pela espuma poucos metros à frente.
A trajetória vitoriosa de Lena. Ao final, essa onda surfada, ainda que brevemente, foi o que garantiu à Lena a vantagem necessária para conquistar o ouro. Já o drop mostra para todos nós de que são feitos os campeões. Valeu Lena!