Preparação física em véspera de prova
Nossa colunista, Carol Morelli, fala sobre um momento crítico e essencial na vida de todo esportista: a ... leia mais
A busca pela excelência no esporte vai muito além do treino físico e das habilidades técnicas. Manter o foco e calma em momentos decisivos desempenha um papel vital no sucesso dos atletas de alta performance, e sua importância está sendo cada vez mais reconhecida e discutida nos circuitos esportivos. A capacidade de gerir melhor o estresse no ambiente esportivo pode ser a diferença entre o ouro ou quarto lugar, por exemplo.
Os atletas olímpicos enfrentam uma pressão enorme para alcançar o sucesso. A expectativa de suas equipes, torcedores e países pode ser esmagadora, adicionando uma carga significativa ao seu bem-estar. À medida que grandes competições se aproximam, a ansiedade pode aumentar, afetando diretamente a capacidade de um atleta de se concentrar e manter o foco durante a competição, e lidar com ela de forma saudável pode ser um desafio.
Distrações, preocupações e problemas pessoais podem prejudicar a performance, mesmo que seu condicionamento físico e técnicas sejam impecáveis. Neste cenário, surge uma dúvida: há como treinar a mente e acalmá-la para alcançar o melhor desempenho? Felizmente, há uma crescente conscientização sobre a importância de técnicas que colaboram positivamente nesse sentido. Exercícios de meditação, respiração e visualização podem ajudar os atletas na preparação para as disputas.
A meditação é uma prática antiga que tem sido cada vez mais reconhecida por seus benefícios à saúde mental e vem ganhando cada vez mais destaque no mundo do esporte de alto rendimento. Ela pode ajudar a reduzir o estresse, a ansiedade, melhorar a atenção e a concentração, além de promover um maior senso de bem-estar. Para atletas olímpicos, que enfrentam pressões intensas e demandas físicas e mentais extremas, a meditação pode ser uma ferramenta poderosa para promover o foco, a clareza mental e a resiliência emocional.
Um estudo de 2018 conduzido por Goya et al., publicado no “JAMA Internal Medicine”, descobriu que a meditação pode ser tão eficaz quanto os antidepressivos no tratamento da depressão e da ansiedade. O estudo envolveu a revisão de 47 ensaios clínicos com um total de 3.515 participantes e descobriu que a meditação mostrou melhorias na ansiedade.
Ao dedicar tempo para desconectar do mundo exterior e cultivar uma atenção ao momento presente, os atletas podem desenvolver uma maior consciência de si mesmos e de suas emoções, o que pode ajudá-los a lidar melhor com o estresse da competição.
Além disso, a meditação tem sido associada a melhorias na qualidade do sono, na capacidade de recuperação e na gestão da dor, todos aspectos essenciais para o bem-estar geral e o desempenho atlético de elite. Incorporar práticas de meditação como parte do treinamento e preparação de um atleta pode ser uma estratégia valiosa para aqueles que buscam alcançar seu máximo potencial tanto dentro quanto fora das disputas.
Desde as Olimpíadas de Londres, Giuliano Milan, especialista em meditação, vem ensinando e aplicando meditação com atletas olímpicos. Giuliano trabalhou com o nadador Thiago Pereira na sua preparação para os Jogos Olímpicos em 2012. Thiago vinha de muitos quartos lugares, e isso acabou aumentando sua ansiedade e minando o seu desempenho. Giuliano trabalhou com ele em técnicas de respiração e visualização de rotinas em meditação. Em 2012, Thiago venceu a prova dos 400 metros medley, levando para casa a medalha de prata. Durante a prova, ele não deixou que o desempenho dos seus adversários o atrapalhasse, saiu do quinto lugar, assumiu o segundo e não deixou que ninguém roubasse sua medalha, superando Phelps, que por ironia do destino, ficou em quarto lugar na prova em questão.
Em 2016, Giuliano também trabalhou aplicando a meditação em alguns atletas da seleção brasileira de vôlei. Ele atuou na preparação de Bruninho, Lucarelli, Lucão e Éder. Apesar da diferença de modalidade, as preocupações dos atletas são bem semelhantes e todos acabam passando pela pressão pré-jogos. Mas com eles, Giuliano encontrou um clima de tensão ainda pior: as Olimpíadas aconteceram em casa (Brasil) e isso resultou em pressão dobrada e uma ansiedade gigante. “Através da prática da meditação e visualização conseguimos contornar esses a pressão dos jogos, ajudando-os a lidar com as expectativas e demandas do evento”, finaliza.