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Uma pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Nutrição (PPGN) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) demonstrou que o consumo do fruto juçara tem efeitos antioxidantes e pode trazer benefícios para o desempenho de atletas. Os testes foram realizados com 20 ciclistas treinados e fizeram parte da tese de doutorado de Cândice Laís Knöner Copetti, orientada pela professora Patricia Faria Di Pietro, coordenadora do Grupo de Estudos em Nutrição e Estresse Oxidativo (Geneo), e coorientada pelo professor Fernando Diefenthaeler, do Programa de Pós-Graduação em Educação Física.
Nativa da Mata Atlântica, a juçara é um alimento parecido com o açaí em aparência e sabor. Altamente nutritivo, o fruto é rico em compostos bioativos (substâncias que não são essenciais para o funcionamento do corpo, mas fazem bem para a saúde), especialmente em antocianinas.
“As antocianinas são pigmentos encontrados em vegetais, frutas e flores, responsáveis pelas cores vermelha, azul e roxa, e têm sido associadas a benefícios para saúde pelos seus efeitos antioxidantes”, explica Cândice. Outros estudos já indicaram que as antocianinas aumentam o fluxo sanguíneo durante o exercício, reduzem os efeitos dos mecanismos de fadiga e melhoram o consumo de oxigênio e o desempenho, especialmente de exercícios praticados por um longo período de tempo.
Com o objetivo de avaliar o efeito do consumo das antocianinas presentes na juçara sobre biomarcadores de estresse oxidativo, fadiga e desempenho, os pesquisadores reuniram 20 homens, com idades entre 21 e 45 anos, com histórico de participação esportiva e que praticassem ciclismo por, pelo menos, seis horas ou 200 quilômetros por semana. Mulheres não foram incluídas porque estudos anteriores mostraram alterações nos biomarcadores de estresse oxidativo durante o ciclo menstrual, e para possibilitar comparações, seria necessário que todas estivessem no mesmo período do ciclo menstrual durante toda a pesquisa – algo difícil de se controlar.
Realizado em parceria com laboratórios, pesquisadores, profissionais e alunos das áreas de nutrição, educação física, enfermagem e farmácia, o trabalho envolveu duas etapas, com um intervalo de 14 dias entre elas. Em uma das etapas, os participantes realizaram um teste em um equipamento chamado cicloergômetro, até a exaustão, após o consumo de dez gramas de juçara em pó durante sete dias. A quantidade do fruto em pó equivale ao consumo de cem gramas de juçara na forma de polpa.
Na outra etapa, o teste de ciclismo até a exaustão foi realizado após o consumo de dez gramas de placebo em pó por sete dias. O composto continha carboidratos, proteínas, lipídios e fibras em quantidades equivalentes às encontradas na juçara, mas sem as antocianinas – abundantes nesse fruto, e ausentes no placebo.
O tempo médio de duração do teste de ciclismo até a exaustão foi 8,4% maior após o consumo de juçara em relação ao placebo. O fruto também levou ao aumento de um antioxidante, chamado glutationa reduzida. Fundamental para o metabolismo e o funcionamento das células, a glutationa ajuda a estabilizar a produção excessiva de espécies reativas de oxigênio que ocorre após exercícios físicos intensos e prolongados. Essas espécies reativas, quando em excesso e em desequilíbrio com as defesas antioxidantes, podem levar ao estresse oxidativo (danos por radicais livres) e à fadiga durante exercícios intensos. A juçara, portanto, pode ajudar a reduzir os danos causados pelos radicais livres e melhorar o desempenho durante a prática de atividades físicas.
Cândice salienta que mais estudos são necessários para esclarecer a dose ideal, frequência e duração da ingestão de juçara, bem como para verificar possíveis efeitos em outros parâmetros que não foram afetados nesse trabalho e que possam influenciar positivamente em outros tipos de exercícios.
O foco da tese de Cândice foram as antocianinas. Ela ressalta, contudo, que a juçara possui diversas propriedades que podem ser consideradas boas para a saúde. “O fruto juçara possui uma rica variedade de substâncias ativas e compostos antioxidantes, como os ácidos fenólicos, carotenoides, ácido ascórbico, vitamina E, zinco e selênio, que podem agir naturalmente de forma sinérgica, modular a biodisponibilidade dos compostos antioxidantes e potencializar seus efeitos sobre os parâmetros de estresse oxidativo, fadiga e desempenho do exercício.”
Além disso, apesar da pesquisa centrada em ciclistas homens, os benefícios do fruto se estendem a outros públicos, como mulheres, idosos e não atletas. “Os efeitos antioxidantes do fruto juçara já foram comprovados em seres humanos saudáveis, sem o contexto do exercício envolvido no estudo”, enfatiza a pesquisadora, lembrando que foram observados efeitos positivos em parâmetros de adultos obesos, aumento das concentrações de HDL, o colesterol bom, e redução de gordura corporal. “O Grupo de Estudos em Nutrição e Estresse Oxidativo (Geneo) da UFSC pretende investigar ainda os efeitos do fruto juçara em mulheres sobreviventes do câncer de mama”, comenta.
O Geneo realiza estudos com o fruto desde 2011. Foi o grupo, aliás, que realizou a primeira pesquisa publicada internacionalmente acerca do efeito da ingestão de juçara em humanos. O trabalho constatou efeitos antioxidantes após uma ingestão única de suco de juçara. Estudos mais recentes também identificaram que o fruto pode promover aumento do colesterol bom e melhora da defesa antioxidante de adultos saudáveis e reduzir o estresse oxidativo e a fadiga após a prática de exercício intervalado de alta intensidade. Esta última pesquisa foi desenvolvida durante o mestrado de Cândice. Até o momento, os estudos do Geneo com o fruto originaram duas dissertações de mestrado, três teses de doutorado, dois trabalhos de conclusão de curso e sete artigos científicos.
Tese de doutorado
A tese de Cândice está disponível no repositório da UFSC: Efeito do consumo do fruto juçara (Euterpe edulis Martius) sobre biomarcadores de estresse oxidativo, fadiga e desempenho em ciclistas treinados: um ensaio clínico randomizado, placebo-controlado, cruzado e triplo cego.
Fonte: UFSC