Canoagem brasileira ganha galeria dentro do eMuseu do Esporte
Lançado nesta quinta-feira (16), o eMuseu do Esporte conta com tecnologia inovadora e galerias dedicadas ... leia mais
Ao longo desta década, o caiaque oceânico de Freya Hoffmeister será sua casa na maior parte das horas. A exploradora alemã de 54 anos está prestes a concluir a metade de um projeto plurianual no qual pretende circunavegar, remando, toda a América do Norte. O que equivale a aproximadamente a distância de 50.000 quilômetros.
Quem acompanha as matérias do Aloha Spirit Midia sabe que não é a primeira vez que essa remadora casca grossa realiza uma grande travessia. Entre 2011 e 2015, ela remou por toda a extensão da América do Sul, concluindo uma das mais extraordinárias expedições de remada da história.
Em seu respeitável currículo ainda constam circuvagações da Islândia (2007), Nova Zelândia (também em 2007), Austrália (2009) e Irlanda (2016). Agora ela está “Mastigando o elefante da América do Norte”, como disse em entrevista à revista Go Outside.
Para concluir seu novo projeto, Hoffmeister remará pela América do Norte, ano após ano, por três a cinco meses, depois passará três meses na Alemanha trabalhando e descansando, e então fará tudo de novo.
Ela começou a expedição em 2019 e acaba de concluir a primeira fase massiva do projeto. Três longos anos, começando em Seattle e terminando no extremo sul de Baja, no México. Em breve ela voltará a Seattle e apontará seu caiaque para o norte, navegando ao longo da costa do Alasca rumo ao Ártico.
“Remar com ursos polares será interessante”, diz Hoffmeister. “Entendo os riscos, mas trata-se de dar espaço a eles. Outras pessoas já remaram na terra dos ursos polares antes e ainda estão vivas. Comigo não será diferente.“
Como a maioria de suas expedições anteriores, Hoffmeister está viajando em alguns trechos acompanhada por outros remadores e, na maioria do trajeto sozinha e sem apoio. Ela empilha todo o seu equipamento, comida e água em um caiaque oceânico especialmente desenvolvido para essa expedição. Carregado, o barco pesa cerca de 100 quilos.
Ela não ouve música enquanto rema (mas carrega um e-reader para ler nas horas em que está acampada), faz xixi em uma esponja dentro de sua roupa seca e come tudo o que está estocado nos supermercados de cidades costeiras por onde passa. Quando possível, ela gosta de encontrar uma praia isolada para montar acampamento, mas passou muitas noites dormindo em seu caiaque.
Hoffmeister calcula que poderá levar até doze anos para poderia terminar sua circunavegação na América do Norte. A remadora diz que é impossível estimar exatamente quanto tempo vai demorar, pois é muito dependente das condições meteorológicas e do mar.
Em um dia bom, ela passará uma média de nove a dez horas remando ao longo da costa, apreciando a vista e cobrindo cerca de cinco quilômetros por hora. Às vezes, ela irá para águas mais profundas e calmas se o litoral for muito rochoso ou agitado.
Hoffmeister, que começou a remar em um lago na Alemanha em 1995, quando ela estava grávida de seu filho, e sua paixão pelo esporte só cresceu a partir daí.
Após concluir a volta da Islândia, sentiu uma vontade de encarar desafios cada vez maiores e que ninguém nunca completou antes. “É a mesma coisa com os montanhistas. Essa é a natureza dessas expedições”, diz a remadora.
Ao longo de sua trajetória, não foram poucos os percalços e situações realmente extremas, quando foi surpreendida pela pororoca na delta do rio Amazonas, sendo arrastada por 15 minutos, rio adentro, sem conseguir se desvencilhar da onda, no meio da noite. “São situações-limite, mas essas coisas não a afetam. Gosto dos desafios”, revela.
Hoffmeister está confiante de que ninguém repetirá sua circunavegação na América do Sul – ou sua jornada na América do Norte. Mas confessa que o maior desafio dessas expedições plurianuais é perceber que ela não está ficando mais jovem:
“Não me recupero tão rápido como antes”, diz ela. “Tenho 54 anos agora, terei 60 anos quando terminar a América do Norte. Eu nunca quis acreditar, mas aos 50 anos seu corpo parece diferente”.
Ainda assim, Hoffmeister é mais do que capaz. Ela diz que sua força e resistência aumentam conforme ela rema, e quando volta para casa na Alemanha, ela se esforça para ficar em forma, principalmente com o treinamento cruzado. Isso inclui ciclismo, levantamento de peso e natação, atividades que proporcionam ao corpo descanso dos movimentos repetitivos da canoagem. “Essas expedições são viáveis na minha idade. O segredo é nunca parar de fazer isso. É fácil ficar enferrujado, preguiçoso e triste. Portanto, você nunca deve parar”, ensina.
Seu conselho para outras pessoas que buscam entrar no universo das expedições de remada é começar pequeno – embora a definição da palavra “pequeno”, para Hoffmeister, possa ser diferente da média das pessoas. “Não comece com um continente. Comece com uma pequena ilha ”, diz ela. “Eu remei pela Islândia, que é uma pequena ilha, só para ver se meu corpo gostaria. E funcionou”, conclui.