O espírito Va’a foi remar… e não voltou!

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Espírito va'a
“Resgatar o espírito Va’a significa voltar ao essencial”. Foto: Alexandre Weiss / Pexels

Não vou mentir: nunca fui um verdadeiro defensor da cultura havaiana. Não tenho tatuagem de tartaruga ou polinésia, meu clube e minhas canoas não têm nomes em havaiano e, sendo bem sincero, até acho meio forçado quando vejo “alguns” cantando E Ala Ê como se fosse um ritual obrigatório.

Mas sempre admirei — e muito — o espírito de irmandade que existia no mundo da Va’a. Aquele sentimento real de união, de querer estar junto, de estender a mão sem perguntar de que clube você é. Era diferente. Enquanto outros esportes se afogavam em vaidade e rivalidade, a canoa polinésia parecia um refúgio de respeito mútuo, de troca genuína e de um certo código não escrito entre aqueles que dividem a mesma paixão.

Não importava se você era iniciante ou campeão mundial. No final das contas, todos estavam juntos por um mesmo motivo: o amor pela canoa, pela natureza e por algo que ia muito além de medalhas ou curtidas. Mas alguma coisa mudou. E não foi sutil.

“Hoje, há muitas equipes de competição, mas pouca conexão. Muita técnica e preparo, mas pouca empatia. E uma pressa absurda por visibilidade, reconhecimento e aplauso”

Hoje, o que se vê é uma disputa velada — e, em alguns casos, escancarada — por espaço e prestígio. A Va’a virou palco. E palco, muitas vezes, é território de ego, ciúme e vaidade. O que antes era “aloha” virou uma competição tóxica. Clubes que se fecham, atletas que se sabotam entre si, equipes que recrutam na surdina remadores, e amizades que desmoronam por causa de disputa.

O espírito de  “ohana” se perdeu entre interesses pessoais e rivalidades mal disfarçadas. E aquele discurso bonito de “espírito va’a” virou apenas legenda de Instagram — enquanto, nos bastidores, muita gente torce é pra ver o outro afundar.

Aonde foi parar o espírito Va’a?

Talvez o problema não seja a competitividade — porque ela é natural e até saudável. O problema é quando a competição corrompe os valores que fizeram esse esporte ser o que é. A Va’a nunca foi sobre ser apenas o melhor. Sempre foi sobre fazer o melhor junto com os outros. Foi sobre remar com quem nunca remou, ensinar sem esperar algo em troca. E, claro, festejar a vitória dos outros como se fosse a nossa.

Hoje, há muitas equipes de competição, mas pouca conexão. Muita técnica e preparo, mas pouca empatia. E uma pressa absurda por visibilidade, reconhecimento e aplauso — mesmo que isso custe o que havia de mais bonito nesse esporte: o senso de pertencimento.

Então, o que fazer?

Resgatar o espírito da Va’a não significa bater tambor em nome de uma cultura que muitos mal conhecem ou terão o privilégio de vivenciar de perto. Significa voltar ao essencial: ajudar sem interesse, remar com humildade, respeitar quem veio antes e abrir espaço para quem está começando agora. Significa parar de transformar o esporte em um campo de guerra e lembrar que, no fim das contas, estamos todos na mesma canoa — literalmente.

O espírito da Va’a pode até ter ido remar… Mas ainda dá tempo de remar atrás dele — e trazê-lo de volta.

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