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Em muitos esportes ao redor do mundo, é comum que um atleta represente o clube onde treina regularmente nas competições locais. No entanto, no universo da canoa polinésia, as competições e formações de equipes tomaram um rumo preocupante. Em vez de manter uma afiliação consistente com seu clube de origem, hoje um atleta pode alternar entre diferentes clubes e equipes em provas estaduais de maratona ou sprint, no campeonato brasileiro, e até em festivais.
Resumindo, um atleta pode representar o clube A na prova estadual de sprint, o clube B no estadual de maratona, o clube C no campeonato brasileiro, e nos festivais pode até mesmo representar dois ou mais clubes em cada etapa dentro do mesmo ano.
Se a constante troca de clubes pelos atletas já não fosse suficiente, surgem então as equipes independentes. Essas equipes, muitas vezes formadas dentro dos clubes, após amadurecerem, optam por se tornarem independentes. Elas adotam um nome próprio e possuem uniformes distintos, mas, para cumprir as exigências regulamentares das competições, inscrevem-se nas provas sob o nome de um clube de fachada.
Além disso, existe o perfil do atleta migratório, que decide abrir mão de competir em seu próprio estado para se juntar a uma equipe mais forte em outro, com o objetivo de subir ao pódio mais facilmente. Embora essa prática seja regulamentada pelas Federações e pela Confederação, ela carece de fiscalização adequada, o que novamente desequilibra o cenário competitivo.
Toda essa “flexibilidade”, criada para viabilizar a formação de equipes com potencial competitivo e elevar o nível das provas, é vista com bons olhos. Temos observado resultados promissores nas competições estaduais, no Campeonato Brasileiro, no Pan-Americano e até no Mundial, o que leva muitos a acreditar que este é, de fato, o caminho certo a seguir.
Por outro lado, enfraquecer os clubes, que são o berço do desenvolvimento desses atletas, treinados por educadores físicos dedicados que muitas vezes investem seu tempo e recursos próprios para formar equipes e colocá-las em competições, pode, a médio prazo, desmotivar esses profissionais a continuar o excelente trabalho que nos trouxe até aqui. Sem eles, não teremos novos atletas, não formaremos novas equipes independentes e nem teremos atletas migratórios.
Atualmente, ser um dono de clube bem relacionado para atrair e formar equipes é mais valorizado do que ser um profissional técnico dedicado à formação de novos atletas e equipes. Esses valores, distorcidos pelos regulamentos atuais, prejudicam todo o trabalho de base, que é fundamental para o crescimento e fortalecimento do esporte.
É necessário que as Federações, a Confederação e até mesmo os organizadores dos festivais implementem mecanismos para equilibrar melhor o cenário competitivo. A situação atual fragiliza o processo, pois, em vez de reconhecer o melhor clube e o trabalho técnico de formação de novos atletas/equipes, acabamos premiando o clube que melhor capta remadores de diversos lugares, destruindo o tal do espírito Va’a.