Gestão de Clubes parte II | A Empresa Kanaloa
No segundo capítulo de nossa série sobre gestão de clubes de canoa polinésia assinada por Antonio ... leia mais
O renomado treinador de canoagem polinésia do Taiti, Billy Tupea, expressou recentemente sua preocupação com o que ele acredita ser um processo de elitização que está afastando os juniores das competições de va’a na Polinésia Francesa. Em uma postagem nas redes sociais, Tupea destacou fatores que, segundo ele, contribuem para essa tendência preocupante.
Ele comenta que, a cada ano, as provas de va’a na Polinésia Francesa têm menos juniores inscritos. O treinador atribui essa redução ao aumento nos preços das canoas e remos, bem como à chegada dos chamados “clubes corporativos”, super equipes formadas para vencer competições nacionais, muitas vezes sem conexão com as comunidades locais. “A permissão para a aquisição de remadores emprestados fez com que hoje talentos locais mudem de clube durante o ano. E, pouco a pouco, alguns clubes são incapazes de completar o seu próprio time, o que os leva a parar”, alerta Tupea.
No Brasil, um processo semelhante ocorre com os “catadões“, equipes formadas por remadores de diferentes partes do país visando apenas as competições. Além disso, a alta demanda por canoas tem levado o mercado a estabelecer preços exorbitantes, com canoas individuais sendo vendidas por mais de R$ 45 mil. Baseado no depoimento de Billy Tupea, é possível analisar como essa situação é ainda mais perigosa para nosso país, onde a va’a tem pouco mais de 20 anos de história, ao contrário da Polinésia Francesa, onde é uma tradição consolidada e considerado um esporte nacional.
Veja o depoimento de Billy Tupea na íntegra:
“Hawaiki 2002:
22 va’as juniores na linha de partida, cada uma com 12 remadores por canoa. Isso totaliza 264 remadores.
Hawaiki nui 2023:
8 va’as na partida com 6 remadores por canoa, apenas 48 remadores no total, é triste.
O que aconteceu? Por que essa queda? Perdemos 80% das va’as! Minha opinião:
Acho que isso se deve à chegada dos clubes corporativos. O objetivo dos nossos jovens é estar nesses clubes. Quando olhamos para os rankings da época, percebemos claramente que os clubes vinham das comunidades. Pirae, Mataiea, Faaa, Faanui, etc. Tínhamos orgulho de remar pela nossa comunidade ou ilha.
A permissão para a aquisição de remadores emprestados fez com que hoje talentos locais mudem de clube durante o ano. E, pouco a pouco, alguns clubes são incapazes de completar o seu próprio time, o que os leva a parar.
Muitas compras também. O aumento dos preços das va’as e dos remos fez com que as pequenas famílias não consigam mais comprar um V1 ou um remo. Difícil para um clube comunitário pagar por um V6.
E, com grande pesar, acredito fortemente que o dinheiro sufocou a va’a. Essa é minha opinião pessoal. Não me ataquem, por favor, mas me deem sua opinião para que possamos reerguer a va’a JUNTOS.”
Seja lá, no Taiti, ou aqui, a falta de uma base forte de juniores pode comprometer o futuro do esporte, isso é um fato irrefutável. Hoje, no Brasil, a va’a é dominada por atletas da categoria máster, o que ressalta ainda mais a necessidade de fortalecer as categorias de base. Sem uma base sólida de juniores, o esporte dificilmente alcançará a longevidade necessária para se tornar uma tradição. É crucial pensarmos juntos em medidas que ajudem a va’a se tornar mais acessível e convidativa à participação dos jovens, garantindo assim o futuro do esporte no país.