Va’a solidário
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Tempos atrás, em uma ótima conversa com um grande parceiro do esporte, o qual respeito muito – afinal, ele é um grande incentivador do paddle pelo seu trabalho como instrutor e organizador de provas (deixarei seu nome no anonimato, para evitar uma exposição desnecessária), recebi uma crítica muito construtiva.
Críticas são importantes, principalmente oriundas de quem tem fundamento e conhecimento no assunto. Se for respeitosa, ganha ainda mais estrelinhas no meu caderno. Tapinhas nas costas, rostos alegres de mensagens de parabéns são energéticas, mas também tem um grande potencial de te deixar em uma falsa zona de conforto.
A crítica foi a seguinte: “Bonfá, você é um cara que sabe entreter as pessoas com suas piadas e brincadeiras, mas certas vezes sinto uma deficiência sua na parte técnica esportiva, acho que você poderia se empenhar um pouco mais nisso pra melhorar o seu trabalho”. Suas palavras inicialmente foram um verdadeiro banho de água gelada, algo como virar uma canoa numa praia do Alasca, trajando apenas uma sunga cavadinha. Mas foi importantíssimo pra refletir e buscar melhorar essa deficiência de alguma forma. Além disso, trouxe-me também uma importante reflexão: qual o papel dos organizadores de eventos em prover conteúdo e estrutura para que seus profissionais de comunicação desempenhem brilhantemente seus trabalhos?
Confesso que ainda sou um menino das cavernas no quesito autopromoção e marketing pessoal. Quando saio pra remar, surfar, ou fazer alguma atividade, faço questão de deixar os gadjets devidamente desligados. Tem horas que é importante puxar o fio, apertar o “off” pra vida ficar mais interessante.
Ficar hiperconectado com celulares, tablets, notebooks, e-books, câmeras e o escambau, cansa a vista e a própria existência. Além disso, a promoção pessoal tem uma linha tênue entre a necessidade profissional e o egocentrismo, que eu não me arrisco em cruzar. Tem gente que me pergunta se sou do esporte, se eu pratico mesmo ou apenas um cara que sabe bem da vida dos outros.
Eu tenho 12 anos de vida no paddle, 11 deles praticando va’a, uns 9 no SUP e alguns meses no surfski. Já tive a oportunidade de competir como amador nas “vacas magras” das provas, onde mal tínhamos água e medalhas pra atletas; acompanhei o início do SUP race no Brasil, inclusive testando protótipos de pranchas que ficaram consagradas no mercado; já remei e aprendi muito com atletas de alto nível como Alessandro Matero, Sérgio Prieto, Rafael Leão, Alan Reynol, Cauê Serra, Vinícius Sanchez, Everdan Riesco, Totó Bonfá, Luiz Guida, Felipe Neumann e Sebastian Quattrin; participei de treinos e clínicas com nomes gringos como John Puakea, Nephi Tehiva, Jim Terrel e Jack Dyson; gastei centenas de reais e horas pesquisando em publicações e portais como Pacific Paddler, SupClub, SUPJournal, SUP Magazine, SUP Racer,Ocean Paddler, Blog do Sestaro, SUP Connect, livros do Steve West e o escambau!
Acredito que tenho um pouquinho de conhecimento nesse universo, só que bradar isso constantemente me parece algo absolutamente mala e desnecessário. Ou estou errado?
CONTEÚDO É TUDO
O que venho trazer nessa coluna é a seguinte recomendação a todos que trabalham, organizam ou se envolvem profissionalmente com competições: olhem com carinho para seus locutores, narradores, comentaristas, mestres de cerimônia, jornalistas e assessores de imprensa.
Pelo que eu saiba a maioria não foi aluna do professor Xavier pra ser mestre em telepatia. Nós precisamos ser alimentados de conteúdo e estrutura pra realizarmos nossos trabalhos.
Acompanhar apenas a largada e a chegada não nos basta, queremos mais. Listinha com o número e nome dos competidores é o básico. Microfone posicionado longe da chegada já me dá princípios de infarto. Precisamos saber o que acontece lá fora, o que rola quando o bicho pega no marzão.
Por isso tenho priorizado realizar algum tipo de registro, que seja apenas um vídeo feito do próprio celular. Com o acesso tecnológico que temos atualmente, um gadjet na mão e uma ideia na cabeça podem fazer e muito a diferença.
Competições como a Travessia Salvador-Morro de São Paulo, ou a Volta a Ilha de Vitória, foram ótimas oportunidades de fazer registros ao vivo para as pessoas que não estão in loco na hora que o bicho pega. Não dá embarcar? Um áudio com a parcial da prova vindo dos barcos de apoio ajuda bastante.
Precisamos comunicar pras pessoas o quão empolgantes são esses momentos, mostrar o porquê dos paddle sports serem tão legais.
As transmissões ao vivo do Aloha Spirit e etapas da CBSUP são também um caminho importante pra isso. Realizar parcerias com os veículos especializados também é uma ferramenta chave pra garantir uma cobertura com quem te conhecimento de causa no assunto, a mídia segmentada precisa de fomento e informação.
Trazer soluções alternativas como a realização do “Apoio Repórter”, lançada por mim e pelo Marcos Moller na Volta de Ilhabela, em que os apoios das equipes foram estimulados a produzir vídeos dos seus próprios times durante a competição, podem ser soluções criativas e de baixo orçamento, onde todos tem a ganhar, inclusive os patrocinadores – importantes mecenas que também precisam ser valorizados.
Lembrar do ‘sponsor’ só na hora de pedir a bufunfa não rola, my friend. Conteúdo é tudo nesse negócio. Quando vejo o famoso jornalista roliço José Luiz Datena bradando as palavras: “me dá ibagens, me ajuda aí”, não é à toa. Não é a sua forma física que lhe dá fama e prestígio, mas sim uma equipe de produção focada em trazer notícias e imagens fresquinhas pra ele palpitar.
Ajuda eu também, garanto que vai ser duca! Caso contrário, certamente vai imperar aquele preenchimento de linguiça artesanal, em que o humor vem como o tempero salvador de uma iguaria sem sabor. Segue o jogo!