Exercícios para Prevenção de Lesões na Canoagem
Manual desenvolvido pela Federação Portuguesa apresenta série de exercícios educativos para Prevenção de ... leia mais
Aloha Galera! Prontos para mais um artigo? Vamos continuar falando sobre segurança, mas agora falaremos sobre o Huli. Vamos aos estudos?
No artigo passado você estudou sobre os principais procedimentos de segurança e os aplicativos que podem ser utilizados na prática do va’a. Neste novo artigo você irá aprender sobre huli, ou seja, irá conhecer os principais detalhes de prevenção e recuperação do huli. Mas afinal o que é huli?
“Huli” é a palavra utilizada pelos havaianos para algo como: virar, mudar, reverter. O dialeto havaiano não é tão simples quanto o inglês ou até mesmo o português. Dificilmente eles usam apenas uma palavra com significado único, mas sim, um conjunto de palavras com uma significância maior, mais espiritual que um simples nome. Ou então uma única palavra que represente todo um contexto maior e mais abrangente.
As canoas polinésias possuem vários formatos, desde grandes catamarãs com velas, até canoas pequenas para somente um remador. No caso das canoas em formato de catamarã não é comum que elas virem totalmente, é mais comum que elas inundem. Já as canoas para seis ou menos remadores, a possibilidade de virada é mais eminente, isso devido ao seu formato constituído por somente um estabilizador/flutuador lateral (ama).
Geralmente uma canoa vira sem aviso, em qualquer momento e é algo muito rápido, exigindo uma atenção grande por parte dos remadores. No meu entendimento o huli pode acontecer em uma canoa devido a fatores internos e fatores externos. Vamos analisar estes fatores a seguir.
Fatores internos: São aqueles que acontecem dentro da canoa, ou seja, são ocasionados pelos próprios remadores. Como por exemplo, remadas aplicando peso e força excessivos do lado direito da canoa, movimento errado de retirada de água da canoa pelo lado direito, bater a ama em outra canoa ou obstáculo, desatenção dos remadores realizando algum movimento abrupto do lado direito, como por exemplo, pegar algo que caiu da canoa.
Fatores externos: São aqueles que não podem ser controlados pela tripulação. Como por exemplo, ondulação e ventos fortes vindo pelo lado esquerdo da canoa e ondas causadas por outras embarcações.
Agora que você verificou o que pode ocasionar um huli, observe quais os procedimentos necessários para fazer o huli recovery, ou seja, o procedimento de desvirar a canoa. Considere então que a canoa está virada.
Neste momento já com a canoa virada, todos os remadores precisam se posicionar entre o casco e a ama e iniciar uma contagem dos remadores. A contagem serve para conferir se todos os remadores estão próximos e em boas condições. Essa contagem pode ser mental e/ou visual, com cada remador identificando o seu par. Remadores de frente são remadores pares, da mesma forma que remadores de meio e remadores de fundo também são seus pares respectivamente.
Na sequência, os remos podem ser colocados dentro da canoa embaixo do banco ou algum remador terá que segurá-los, neste caso o banco 2 pode assumir essa função. Os bancos 1 e 6 estarão na proa e popa, direcionando a canoa para a melhor posição de acordo com as condições de mar, vento e ondulação. Os bancos 3 e 4 serão responsáveis por subir no casco da canoa de bruços, colocando um dos pés no muku e as mãos irão segurar no iaco, aguardando para fazer o movimento de puxada e alavanca de toda a estrutura. O banco 5 se posiciona no meio da ama e aguarda para empurrá-la para cima, auxiliando os bancos 3 e 4 no movimento de desvirar a canoa. ATENÇÃO: O banco 5 precisa estar atento para não ficar embaixo da ama, isso porque, em caso da ama retornar não bater em sua cabeça neste retorno.
Quando todos estiverem em suas devidas posições o banco 6 irá dar o comando para desvirar a canoa, neste momento todos precisam executar suas funções ao mesmo tempo. Enquanto a canoa estiver sendo desvirada, principalmente no momento em que a ama estiver apontada para cima, os bancos 1 e 6 devem fazer uma força empurrando a canoa para cima, evitando que neste momento não fique acumulado muita água no interior da canoa. Durante a finalização do procedimento de recuperação do huli, os bancos 3 e 4 precisam garantir que ama não bata com força na água, visto que, esse movimento poderá causar a rachadura da ama em sua emenda.
Agora, com a canoa já desvirada, o banco 5 deve ir em direção da ama e ficar segurando para garantir que ela não volte a virar. Logo após, os bancos 3 e 4 podem embarcar na canoa e rapidamente começar a retirar a água usando os baldes. Caso a canoa esteja com uma grande quantidade de água acumulada, somente um destes remadores deve embarcar e após uma certa quantidade de água já ter sido esgotada é que o outro banco deve subir. Enquanto isso o banco 2 pode colocar os remos e outros objetos dentro da canoa. Agora já com os bancos 3 e 4 embarcados e retirando continuamente a água acumulada os outros remadores podem embarcar. O banco 5 deve ser o último remador a embarcar na canoa, pois ele fica protegendo a ama enquanto todos os outros remadores embarcam e estejam posicionados no interior da canoa, evitando um novo huli.
Já com o remador do banco 5 embarcado os bancos 1, 2, 5 e 6 podem começar a remar, enquanto os bancos 3 e 4 continuam tirando o restante da água do interior da canoa. O banco 3 volta a remar quando perceber que a quantidade de água é menor, enquanto o banco 4 continua até que a quantidade de água no fundo da canoa não seja mais um problema.
Após finalizado todo o procedimento de recuperação do huli e a canoa estar em uma situação segura é recomendado ancorar a canoa e realizar uma conferência das condições em que ela se encontra. O procedimento de recuperação de huli pode provocar alguma trinca e/ou rachadura que possam comprometer a continuidade de uma remada mais longa.
Para evitar que o huli aconteça, temos que primeiramente treinar o comportamento de todos os remadores para que evitem os fatores internos que levam a ele. Todos os remadores precisam ter em mente que a canoa, apesar de segura pode vir a virar e nosso comportamento dentro dela é um dos fatores que levam a essa situação. Vamos ver em detalhes como evitar cada fator de risco, tanto interno quanto externo.
Remadas do lado direito da canoa: As remadas de lados intercalados acontecem justamente para evitar que todos os remadores remem ao mesmo tempo do mesmo lado da canoa. A situação descrita em destaque na primeira imagem deve sempre ser evitada, onde os remadores de fundo (bancos 5 e 6) precisam estar atentos e mudar o lado da remada caso a situação aconteça. Nos casos em que ela é inevitável, os remadores dos bancos 2, 3 e 4 precisam defender a ama caso apresente indícios de um possível huli.
Retirada de água da canoa: Uma das funções do banco 4 é justamente retirar a água acumulada no fundo da canoa. Ao realizar esse movimento, o banco 4 deve evitar jogar a água para o lado direito, visto que, esse simples movimento em conjunto com outros fatores pode ocasionar o huli. Para evitar que isso aconteça o banco 4 e eventuais outros remadores devem realizar o movimento de retirada de água pelo lado esquerdo da canoa.
Bater a ama em outra canoa ou obstáculo: Em competições, principalmente em largadas e curvas de boia é comum o choque entre canoas adversárias. Quando isso acontece pode ocasionar um huli, justamente da canoa que entra em choque com sua ama na lateral de outra canoa. Para evitar esse comportamento, a equipe e principalmente o leme precisam evitar o contato com outras canoas, remando de forma defensiva. Fora de competição o huli pode acontecer quando a canoa bate com sua ama em algum obstáculo, onde a tendência é que ama levante, ocasionando o huli.
Movimento desatento dos remadores pelo lado direito: Esta situação ocorre quando vários remadores realizam algum movimento exagerado para o lado direito da canoa, como por exemplo, o banco 1 devido ao vento perde seu boné e em um movimento de reflexo vários remadores tentam alcançar o boné do companheiro e exercem uma força excessiva para o lado direito ocasionando o huli. Em situações como esta os remadores precisam estar atentos para que somente um remador busque o boné do companheiro, ou até mesmo deixar para pegâ-lo em outra oportunidade.
Ondulação e ventos fortes vindo pelo lado esquerdo da canoa: Esta é uma situação ocasionada por um fator externo, ou seja, os remadores dificilmente conseguem evitá-la, mas pode ser possível contorná-la. Duas são as formas de se contornar esse fator externo. A primeira seria o leme fazer um percurso evitando deixar a canoa sofrendo a influência das ondulações e ventos fortes sobre a lateral esquerda da canoa diretamente, podendo realizar um percurso em diagonal e triangular, subindo e descendo o vento. A segunda forma de se evitar o huli nesta situação, seria os remadores de todos os bancos, em especial os do banco 2, 3 e 4 protegerem a ama a todo momento.
Ondas causadas por outras embarcações: Outra situação externa que pode ocasionar um huli são as ondas criadas por outras embarcações quando passam muito próximas de uma canoa. Para evitá-la, o leme pode direcionar a canoa perpendicular as ondas e não paralelamente, além disso, todos os remadores precisam estar atentos para proteger a ama evitando um possível huli.
Neste artigo você aprendeu os procedimentos realizados para recuperar uma canoa de um huli e posteriormente aprendeu também algumas formas de evitá-lo. Após este estudo, você deve treinar o huli na prática para total aprendizado.
Como um bônus, estamos disponibilizando uma videoaula do Curso Básico de Va’a sobre o huli. Acesse a videoaula no link abaixo para entender em detalhes cada etapa do huli:
Um big aloha e até a próxima semana!