‘No mar’: documentário fala sobre natação em águas abertas e capacitismo
Um olhar poético e bastante reflexivo sobre os desafios de nadar em águas abertas. É o que nos propõe o ... leia mais
No primeiro artigo desta série você foi apresentado a uma breve história do va’a no mundo e pôde entender melhor como tudo começou, há mais de 3 mil anos. Neste segundo artigo, vamos falar sobre como o esporte chegou aqui no Brasil. Você está pronto para mais uma jornada? Bora lá, remador…
Por André Leopoldino, capitão do Tribuzana Va’a e instrutor/ desenvolvedor do do Curso Básico de Va’a.
Sabemos que o estudo da história é dinâmico e, não raro, novas descobertas e mudanças de pontos de vista alteram rumos e o entendimento sobre determinados fatos.
Contudo, no meu entendimento, a história do va’a no Brasil teve seu início em setembro de 2000, com a chegada da canoa Lanakila. Mas entendo que há quem possa considerar que essa história começou antes, quando remadores brasileiros tiveram contato pela primeira vez com a canoagem polinésia em viagens ao exterior, ou através de imagens em revistas e vídeos.
No entanto, é fundamental reconhecer a importância da chegada da Lanakila. Ela não foi somente a primeira canoa a navegar em águas brasileiras, mas a primeira a navegar no continente sul-americano. Assim como a Hokule’a foi importante para resgatar as tradições do povo havaiano nos anos 1970, a Lanakila foi de fundamental importância na introdução do esporte no Brasil. Mas você sabe como essa canoa veio parar em águas brasileiras?
Para contar a história de Lanakila, e por sua vez, a origem do va’a aqui no Brasil, seria interessante realizar entrevistas com dezenas de personagens que contribuíram para o nascimento do va’a brasileiro. Infelizmente não teríamos o tempo necessário para isso, mas deixamos aqui um agradecimento especial a todos aqueles que de alguma forma ajudaram neste processo de introdução e popularização do esporte. De todas as pessoas envolvidas nesta história, devemos destacar os dois protagonistas deste enredo digno de um filme, o carioca Ronald Williams e o santista Fábio Paiva.
Ronald e Paiva foram, de fato, pioneiros do va’a nacional, ambos encontraram diversas dificuldades e barreiras e nunca desistiram do sonho de trazer uma embarcação tão exótica e diferente para o Brasil. Ronald, além de trazer a Lanakila, foi o responsável pela introdução do esporte e as tradições do va’a no Rio de Janeiro e outras regiões. Já Fábio Paiva, responsável pela montagem de Lanakila e a partir dela fabricar dezenas de canoas havaianas, foi quem introduziu e popularizou o esporte em São Paulo e também em outros estados.
Inicialmente, tanto Ronald quanto Paiva tinham projetos distintos em trazer o va’a para o Brasil. Enquanto Ronald viabilizava a compra de uma canoa na Califórnia para posterior envio para ao Rio de Janeiro, Paiva buscava adquirir um molde para poder fabricar as canoas em sua fábrica de caiaques, em Santos. Foi então que Frederico Dias Peres, amigo de Paiva, conhece Ronald em um fórum internacional de discussões sobre va’a e a partir deste momento os caminhos de Ronald e Paiva se cruzam.
Ronald faz então uma visita a Fábio Paiva e juntos começam a planejar e viabilizar a vinda da Lanakila, canoa que Ronald já havia comprado na Califórnia. Ronald realizando um esforço enorme para preparar a carga e todo o transporte de Lanakila, enquanto no Brasil, Paiva preparava o terreno com seus contatos no Porto de Santos.
Então, depois de muito esforço de ambos, Lanakila chega ao Brasil em 23 de setembro de 2000 e é levada para a Opium, de Fábio Paiva. Lá, Paiva realiza toda a montagem da canoa, instalando os decks (manu) de proa e popa, o pale kai, instalação dos bancos e wae (em artigos futuros você vai saber identificar cada parte da canoa). Além da montagem, um novo molde é criado para que novas canoas pudessem ser fabricadas com o objetivo de introduzir o esporte no Brasil.
Temos como marco histórico então, a data de 23 de setembro de 2000 com a chegada de Lanakila, e depois de mais de duas décadas, estamos vivendo hoje uma grande expansão do esporte no Brasil.
Preparamos uma linha do tempo onde você poderá viajar por essas duas décadas e conhecer os fatos mais importantes do va’a nacional.
Nesta linha do tempo, procuramos mostrar as principais datas dos acontecimentos que marcaram a canoa polinésia aqui no Brasil. O objetivo desta linha do tempo não foi o de apresentar datas importantes somente para alguns clubes e atletas, mas sim, datas importantes para todo o contexto do esporte nacional.
Além das informações aqui demonstradas, algo importante no contexto nacional do va’a foi a emancipação da Confederação Brasileira de Canoagem em 2016, onde a partir de então criou-se a Confederação Brasileira de Va’a (CBVAA) em 2017. Todo o histórico de competições deste período pré CBVAA pode ser encontrado no site da CBCa, assim como, informações pós emancipação podem ser encontradas no site da CBVAA. Informações gerais do mundo do paddle sports podem ser encontradas aqui no site do Aloha Spirit Mídia.
Uma passagem importante desta história, aconteceu em 2015, onde Lanakila se envolve em um naufrágio na entrada do canal de Joatinga e grande parte de sua estrutura fica enterrada no fundo do canal. Ronald contrata dois mergulhadores e juntos conseguem recuperar as partes quebradas da canoa. Começa então um trabalho de restauração da canoa responsável pelo crescimento do va’a no Brasil, em paralelo Ronald registra toda a recuperação em vídeo.
Já em 2016, durante a restauração de Lanakila surge o documentário “Lanakila Reborn” com entrevistas das pessoas que iniciaram o esporte no Brasil, bem como, as que representam o esporte na atualidade. A proposta do documentário “Lanakila Reborn” é prestigiar a canoa que deu origem a todo o esporte no Brasil e América do Sul.
Espero ter levado até você leitor, todo um contexto da história do va’a no mundo e da origem do va’a aqui no Brasil nestes dois primeiros artigos. No próximo artigo você irá conhecer em detalhes as canoas polinésias. Lembre que todo esse material tem origem na versão do Curso Básico de Va’a disponibilizado via plataforma do Google Classroom e lá você poderá se aprofundar em todos estes assuntos, bem como, assistir videoaulas iradas e testar seus conhecimentos em exercícios de avaliação para cada capítulo do curso.
Encontro vocês lá! Um big aloha a todos!
Entrevista com Ronald Williams em 13 de junho de 2020.
Entrevista com Fábio Paiva em 17 de julho de 2020.
Consulta de datas da Linha do Tempo com Alexey Bevilacqua, Celso Filetti, Geninho (Niue) e Luciano Meneghello.
Acesso ao livro digital Canoa Havaiana, Uma década de sucesso em: https://issuu.com/phtres/docs/livro-canoa-havaiana.