Desafio em Canoas Havaianas agita o Va’a paraense
Realizada no último dia 08, a mais tradicional competição de canoagem polinésia da região Norte ... leia mais
Aloha galera!
Começando essa semana com um assunto extremamente importante e que mexe muito com o brio individual de cada um: Qual a sua relação com o medo?
Essa semana li um artigo muito maneiro no site magicseaweed.com que mostrava como os surfistas de onda grande lidam com as situações de estresse e como o nível de segurança aumentou com as perdas de nomes como Mark Foo, Milosevsky, entre outros big riders.
Após esses fatos, grandes nomes como Danilo Couto somaram forças com o mestre de resgate Brian Keaulana para que os surfistas tenham as habilidades necessárias para resgatar uns aos outros em situações de alto risco.
Essas atitudes fizeram uma revolução no mundo do surf e atualmente quase não se perde surfistas em condições extremas.
Lendo esse artigo decidi trazer isso para o mundo da canoa…
Comecei a levantar alguns pontos interessantes no que tange ao medo.
Particularmente, acho que ter medo faz parte da vida. Sentir medo não é vergonha nenhuma.
Sendo assim, voltando ao caso do surfe, atualmente uma onda de 6, 8 pés, para mim, que estou fora do ‘rip’, é uma onda grande e tenho medo.
Já para surfistas mestres como meu irmão e ídolo Alemão de Maresias, Gabriel Sampaio, e muitos outros que vivem do surf, é onde a brincadeira está apenas começando.
Quando vamos para o mar devemos ter ciência dos riscos em que estamos no colocando, senão, não tem como fazer uma avaliação e aí apenas vamos.
Quanto mais passamos por situações em que dizemos “Ufa foi por pouco”, mais queremos evitar passar por isso novamente.
Depois de algum tempo ou quando chego de algum objetivo, costumo ouvir das pessoas se eu me considero corajoso por isso. Na verdade eu me torno mais medroso e cauteloso e por medo eu me resguardo de inúmeros itens de segurança, para evitar que passe por algum apuro.
Um exemplo claro aconteceu recentemente quando estava eu, Peixe, Gustavo Alvarenga e Anderson.
Um dia de mar grande, saímos da boca da barra da baia de Guanabara e o parafuso do Iako saiu da canoa e ficamos a deriva ali.
Bem, como estávamos calmos conseguimos resolver e sair daquela situação critica e a conclusão que chegamos era que se estivesse sozinho, o problema teria tido outra dimensão.
Nessa semana que passou fui sair sozinho novamente em um dia de mar agitado, de muita força de água, em função da lua.
Quando cheguei na boca da barra, vi que as condições estavam muito parecidas com a que vivemos no outro dia e decidi não sair.
Sim, tive medo, um lugar que frequento e passo quase todos os dias da minha vida. Naquele dia ele disse: Não vá! E eu tratei de voltar para casa.
E cheguei inteiro e feliz. Talvez se eu não respeitasse os avisos a história que eu estaria contando aqui seria outra…
Mas quais são os riscos que lidamos antes de ir para o mar e que devemos ter medo?
Bem, eu poderia citar inúmeros, mas vamos a alguns:
Quantos relatos de remadores que chegam até mim que não sabem nadar e saem sozinhos em uma V1, uma OC1… Pessoal, saber nadar é o primeiro passo para ir para o mar!
Imagina sair pelo trânsito sem saber que o sinal vermelho significa “pare” e o verde significa “siga”, imagina inverter essas cores!
O acidente é certo e muitas vezes fatal. No mar existem essas regras também, uma pessoa que as desconhece está fadada a se dar mal.
Uma coisa muito ampla, como correntes, nuvens, ventos, ondulações, salvam vidas. Saber prever um nevoeiro, saber antecipar um swell, saber que o Sudoeste antecipa, saber que o Leste atrasa…
Para ir para o mar em segurança devemos antes de tudo ter ciência do nosso condicionamento físico para saber até onde ir.
Não se engane, vá devagar e quando for extrapolar o limite tente ir com mais alguém.
Cada tipo de embarcação oferece um risco diferente e para evitar acidentes os itens que podem quebrar devem estar em redundância.
Porém, antes de tudo, sempre vale fazer um check list ao singrar o mar!
Existem outros inúmeros pontos de medo que devemos tomar cuidado antes de irmos para o mar.
É muito complicado vermos alguém ir para longe e não poder ir, e aí entra o problema. Aquela pessoa que está indo ou ela sabe o que está fazendo ou então está sendo imprudente. Não devemos agir igual.
Quando somos mais jovens, tendemos a ser mais ousados e com o tempo de mar ele vai nos colocando no nosso lugar realmente – isso quando temos sorte.
Quando o tempo passa, vamos aprendendo os recursos para usarmos em situações de necessidade, mas não por vontade.
Isso muda tudo. Essa mudança de prisma muda tudo!
O problema do medo é que normalmente ele vem acometido de uma vergonha em assumi-lo. No mar não há espaço para isso.
O medo, contudo, não deve nos impedir de fazer as coisas que queremos. Ao contrário, deve ser um estimulo para fazermos tudo o que queremos de uma outra forma, nos preparando, nos qualificando, e a partir daí, superarmos nossos limites, conscientes!
Tenho de mar mais de 30 anos, e de canoa mais de 15 anos.
Todos os dias faço meu check list antes de sair pro mar, por medo, por respeito, por cautela.
Medos que me farão voltar quando meu coração apertar. Medos que, com toda certeza, me farão mais do que singrar, chegar de volta ao meu lar!
E você caro leitor, conte para nós uma situação em que o medo foi impeditivo, uma situação em que você superou seu medo, e qual seu maior medo no mar?
Grande Aloha, do seu colunista,
Douglas Moura
Capitão Amador