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Com certeza você já tentou ou ao menos viu alguém pegando onda com o próprio corpo, não é mesmo?
Conhecido popularmente por muitos aqui no Brasil como “jacaré” ou “surfe de peito”, o bodysurf é um dos esportes aquáticos mais antigos da humanidade.
Na tradução literal “bodysurf” significa surfe de corpo, ou seja, é você utilizar o próprio corpo para pegar ondas e se divertir no mar.
Sem dúvidas, o bodysurf é uma das formas mais básicas de surfar, mas curiosamente é difícil encontrar documentos confiáveis que sejam capazes de informar com exatidão quando as pessoas começaram a praticar esse esporte.
O que se sabe é que o surfe tradicional, segundo antropólogos da Universidade do Havaí, teria surgido há pelo menos 2 mil antes de Cristo e que com certeza os havaianos praticavam o bodysurf antes de criarem as pranchas de surfe.
Existem relatos de que o capitão britânico James Cook, primeiro europeu ter contato com as ilhas da Polinésia, chegou ao Taiti em 1777 e, ao presenciar os nativos deslizando sobre as ondas, com alaias, canoas e o próprio corpo, teria experimentando o bodysurf.
Cook então seguiu viagem em busca de uma nova rota do Pacífico Norte para o Atlântico. Após quase um ano sem sucesso, o capitão decidiu retornar e fazer a primeira visita europeia oficialmente registrada às ilhas havaianas.
Ele e sua tripulação chegaram ao Havaí em 1778, e os registros feitos mostram o quão profundamente enraizado o surfe estava na cultura desse povo, sendo muito mais do que uma prática esportiva, deslizar pelas ondas estava associado até com práticas religiosas nativas.
Ainda, de acordo com esses registros, o bodysurf começou devido aos movimentos que alguns animais faziam no mar.
As pessoas ficavam na areia e dentro d’água observando o comportamento principalmente dos golfinhos, mas também das focas. E depois tentavam reproduzir alguns movimentos.
E como naquela época as rotas de navegação e comércio faziam com que as pessoas mostrassem suas culturas e conhecessem outras diferentes, rapidamente o bodysurf começou a ser praticado em vários lugares do mundo.
O que facilitou também essa propagação do esporte foi o fato de até então não haver a necessidade do uso de equipamentos.
Depois, claro, o pé de pato foi inventado e os bodysurfers passaram a utilizar esse equipamento.
Ao longo dos anos o bodysurf foi se desenvolvendo.
Em 1931 foi publicado um livro-guia para iniciantes de bodysurf, filmes e documentários foram lançados também, assim como campeonatos foram realizados na Califórnia e no Havaí.
No entanto, ainda não existem atletas profissionais, mas sim adeptos que levam a sério essa modalidade, são patrocinados e que vêm se destacando.
É o caso do carioca Henrique Pistilli, o “Homem Peixe”, que impressionou o mundo ao surfar as cinco ondas mais perigosas do planeta apenas com pé de pato.
Inclusive, no ano passado pude conhecê-lo pessoalmente e entrevistá-lo para o canal Ela No Mar.
Pistilli passa boa parte do seu dia na praia da Cacimba do Padre, em Fernando de Noronha, mesmo local onde gravou alguns episódios do até então programa “Homem Peixe” do Canal OFF.
Não é à toa que o número de brasileiros adeptos do bodysurf cresceu muito a partir de seu programa, que repercutiu fortemente.
Além disso, uma jovem e notória referência tem atraído os olhares do mundo para o bodysurf.
Kalani Lattanzi nasceu no Havaí, mais precisamente na ilha de Maui, mas foi nas ondas de Itacoatiara, em Niterói, em que cresceu e se fez um exímio waterman – ele pratica bodysurf, bodyboard e surfe.
Não bastasse encarar as ondas pesadas de Itacoatiara, Kalani dropou uma onda num swell gigante em Puerto Escondido, no México, além de desafiar constantemente as ondas de Nazaré das três formas citadas anteriormente, especialmente de bodysurf.
Quando se fala em bodysurf é impossível deixar de mencionar as lendas Mark Cunningham e Mike Stewart, que muito contribuíram — e ainda contribuem — para a expansão da modaldiade no mundo todo.
Dois bodysurfers fantásticos, bastante conhecidos pelos incontáveis tubos que já surfaram em Pipeline, bem como outros picos famosos.
Outra lenda é ninguém menos que Mel Thoman, local de “The Wedge”, uma onda perigosa que requer muita leitura e… coragem!
Afinal surfar apenas com o corpo uma onda de 35 a 40 pés não é para qualquer um, mas Mel já o fez.
Quantos às mulheres brasileiras, Briguitte Linn (Garopaba – SC) é um nome forte que está ativo no cenário há muitos anos.
Ela já competiu várias vezes no campeonato de Oceanside chegando às finais, assim como em Pipeline, no Havaí.
No Brasil, ela vem estimulado a realização de eventos competitivos, assim como tem competido junto com sua filha, Alice Latuf, também bastante talentosa.
Briguitte é uma mulher corajosa que já percorreu o mundo atrás das melhores ondas e tem inspirado as gerações mais novas, inclusive homens.
Falando em “safra nova”, impossível não mencionar Gabriella Matos (Itaipuaçu – RJ) que aos 13 anos venceu o Circuito Kpaloa Brasileiro de Bodysurf em 2019.
Rayza Silveira (Itacoatiara – RJ) é outra atleta que se destacou ao vencer uma das etapas do mesmo circuito, mostrando muita vontade e habilidade no mar.
No cenário internacional, Makena Magro, de Oceanside, Califórnia, já se consagrou três vezes campeã mundial e Meredith Rose quatro vezes em sua categoria.
Pouco a pouco as mulheres estão deixando de ser anônimas nesse esporte maravilhoso, o que é algo encantador.
Por fim, o bodysurf tem se popularizado a cada dia e se espalhado para todos os “cantos” do mundo.
Afinal de contas, viajar carregando consigo apenas um par de pés de pato é fantástico, não?
Então comece você também a praticar o bodysurf e desfrute do mar de uma forma mais íntima e simplista. Esse é o espírito.
Aloha, até a próxima!
Leticia Parada
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