Bodysurf nas Olímpiadas: sonhos e possibilidades

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João Bazelatto, bicampeão brasileiro de bodysurf
João Bazelatto, bicampeão brasileiro de bodysurf. Foto: Maíra Kellermann

Bodysurf e Jogos Olímpicos. Só de ler estas duas palavras tão próximas na mesma frase sinto um frio na barriga. Não sei explicar ao certo, mas o misto de sentimentos se faz presente.

Anos atrás, pouquíssimas pessoas acreditavam que o surfe, por exemplo, poderia um dia tornar-se um esporte olímpico. O mesmo aconteceu com o skate. Ambos esportes rotulados negativamente, os atletas sequer eram vistos e aceitos como atletas, muitos eram tidos até como marginais e desocupados.

Porém muita coisa mudou de lá pra cá. As entidades passaram a representar a luta e direito dos atletas, mostrando ao mundo que essas modalidades também eram dignas de respeito e profissionalização. Grandes investimentos foram feitos em campeonatos e a mídia começou a se voltar para estes esportes dando-lhes alguma visibilidade.

E onde entra o bodysurf ou surfe de peito — como também conhecido — nessa história? Alguns dias atrás, li um artigo escrito por John P. Murphy, norte-americano que vive em Puerto Escondido, México. O escritor levantou um grande debate na comunidade do bodysurf, acendendo chamas de esperança até mesmo naqueles que não acreditavam em um circuito mundial, quem dirá então nos Jogos Olímpicos.

Nilton Luis campeão da categoria Heróis Guarda-Vidasdo Kpaloa Brasileiro de Bodysurf
Nilton Luis campeão da categoria Heróis Guarda-Vidasdo Kpaloa Brasileiro de Bodysurf. Foto: Reprodução

Antes de tocar nesse assunto, precisamos apresentar um recorte do cenário atual. Há quem chame o bodysurf de “primo pobre do surf” por sua simplicidade, mas principalmente pela falta de apoio que o leva a ser o último da fila digamos assim. Para os não adeptos, o bodysurf é apenas o jacaré, aquela brincadeira que provavelmente você já experimentou algum dia na vida quando era criança, mesmo sem saber direito o que estava fazendo.

Para praticantes de outros esportes de onda, talvez o bodysurf não passe disso e seja uma modalidade praticada por quem carece de habilidade para surfar uma onda a partir de uma prancha.

Mas se pegarmos o dicionário da Língua Portuguesa, encontramos que a definição do verbo surfar é o “ato de deslizar uma onda”. Em outras palavras, se você utiliza uma canoa para deslizar uma onda, você está surfando. Se você faz uso do seu corpo para deslizar uma onda, você também está surfando. Então surfar não se limita a utilização de uma prancha para tal. Surfar é muito mais que isso. Para se ter ideia da dimensão desse esporte no Rio de Janeiro, a lei de 7669 de 28 de agosto de 2017 declara o surfe de peito como Patrimônio Cultural de natureza imaterial do Estado do Rio de Janeiro.

Rodrigo Carrajola, bicampeão português de bodysurf.
Rodrigo Carrajola, bicampeão português de bodysurf. Foto: Arquivo pessoal

E nessa trajetória do bodysurf sobre estar no ponto A com o desejo de chegar em B, vale também observar dentro de cada país como as coisas se encontram. Citarei Portugal em um primeiro momento, que possui um circuito nacional um tanto consolidado e de ótima organização mostrando sua força no esporte há um bom tempo.

Em extensão territorial, Portugal é menor do que o estado de Pernambuco, aproximadamente 92.212 km² versus 98.312 km². Isto é, lidar com um circuito nacional em um país menor torna o trabalho menos árduo, o que não invalida, é claro, os esforços envolvidos para sua concretização.

Mas e o Brasil? Em 2019, um evento deu um passo gigante no desenvolvimento do bodysurf em nosso país. O Kpaloa Brasileiro de Bodysurf fez história com suas 5 etapas, cada uma realizada em um ponto geográfico diferente: Guarda do Embaú (SC), Cupe (PE), Itacoatiara (RJ), Barra do Jucu (ES) e Saquarema (RJ). Com uma excelente organização, premiações atrativas e a presença de grandes atletas, o sucesso foi inevitável.

Gabriella Mattos e João Bazellatto, campeões brasileiros de 2019 ao lado de Augusto Conti
Gabriella Mattos e João Bazellatto, campeões brasileiros de 2019 ao lado de Augusto Conti (Fundador da Kpaloa) e Alexandre Conti (CEO da Kpaloa). Foto: Reprodução

Mas é óbvio que para um evento de tal porte ter acontecido, um grande investimento precisou ser feito por pessoas que realmente acreditavam no esporte. E se não fosse pela pandemia, em 2020 o evento aconteceria novamente, tendo uma das etapas válidas para o campeonato mundial.

Com um formato nunca visto antes aqui no Brasil na cena da modalidade, o Kpaloa Brasileiro de BodysurfF serviu de estímulo, motivação e inspiração para que novos atletas surgissem e acreditassem na profissionalização desse esporte. Assim como o número de bodysurfers não-competidores vem aumentando em larga escala, simplesmente por apreciarem a leve sensação de surfar com o próprio corpo.

Então como o surfe de peito poderia estar nos Jogos Olímpicos? Quais os principais critérios para um esporte tornar-se olímpico? Essas perguntas e outros questionamentos foram abordados nesse vídeo abaixo, onde alguns atletas já emitiram suas opiniões sobre o tema. Logicamente, seria relevante se mais pessoas participassem dessa discussão a fim de fortalecer o esporte:

A propósito, deixo aqui alguns tópicos para reflexão e comentários no vídeo citado anteriormente: quais seriam os pontos positivos caso o bodysurf entrasse para os Jogos Olímpicos? Existem pontos negativos? Faria sentido um desmembramento de categoria bodysurf e handsurf visando igualar as condições dos atletas?

Diversos são os pontos de interrogação, mas hoje a chama olímpica se acende no bodysurf e se mostrarmos nossa força com o esporte merece, ninguém será capaz de apagá-la.

Aloha!

Letícia Parada

Conheça o canal de Letícia Parada no YouTube: Ela No Mar.

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