Crônica da remada | O melhor pai do mundo
A relação de admiração de um filho por seu pai inspirou Roberto Melchior a escrever essa bela crônica ... leia mais
Indo direto ao ponto: outrigger é a designação mais conhecida mundialmente para o tipo de canoa que tem flutuadores laterais ligados ao casco, ou o corpo principal, e pode estar em um ou ambos os lados.
Essas canoas são encontradas desde os tempos antigos, nas primeiras migrações humanas na costa do sudeste asiático (arqueólogos datam sua origem em aproximadamente 5000 anos) e, posteriormente, no Pacífico sul: Melanésia, Micronésia e Polinésia – onde se estima que chegaram há 3000 anos.
No entanto, há também relatos de historiadores apontado para o uso de canoas com a mesma composição desde a antiguidade em regiões mais distantes do Índico como as ilhas africanas de Madagascar e Zanzibar, na Tanzânia.
Projetada para ser capaz de lidar com as condições mais adversas de mar, como aquelas encontradas no oceano Pacífico, esse tipo de embarcação foi fundamental para que as regiões da Micronésia, Melanésia e Polinésia fossem alcançadas e ocupadas por esses povos.
A vela era usada para viagens mais longas e os remos para distâncias mais curtas, como no caso da pesca. As canoas outrigger também inspiraram os polinésios a criar um modelo que séculos mais tarde seria conhecido como “catamarã”, onde dois cascos são unidos pelos iacos (astes) substituindo o flutuador. Esse modelo de canoa foi fundamental para a ocupação do Triângulo Polinésio, sobretudo das ilhas mais distantes.
Foi no Triangulo Polinésio que esse tipo de canoa ficou mais integrado à cultura de seu povo, passando a ser utilizado não só para atividades pesqueiras e de exploração, mas, também em rituais e competições esportivas.
Em 1779, quando o explorador inglês James Cook chegou às ilhas havaianas, ele relatou ter visto mais de 1500 canoas “outrigger”. O avistamento do mesmo tipo de canoa seria reportado por sua tripulação em todas as outras ilhas da polinésia por onde passaram.
Nos tempos antigos, a canoa era feita de árvores, principalmente os troncos de árvores Koa e com algumas diferenças em termos de curvatura de cascos e número de flutuadores dependendo das características geográficas das ilhas em que se encontravam (mar agitado, águas mais abrigadas, ventos, etc.).
Com o passar dos anos e a ocupação das ilhas pelos europeus, as culturas e os conhecimentos de ambos os povos se mesclaram e acabaram por influenciar diretamente na construção dessas canoas, tanto em termos de materiais, quanto em design.
Hoje, elas são feitas principalmente de fibra de vidro, material que garante mais flutuabilidade, além de possibilitar que métodos industriais sejam aplicados em sua construção. Ainda, que, felizmente, a tradição de reverência e respeito a esse tipo de canoa ainda seja mantido por seus praticantes.
Em termos de design, as diferenças também se acentuaram e cada ilha ganhou um tipo de canoa outrigger. As Va’a, no Taiti; Wa’a, no Havaí; Waka, na Nova Zelândia; e Hoe Vaka, na Ilha de Páscoa, são exemplos das diferentes designações que as canoas recebem – e que não se restringem aos nomes – em diferentes ilhas da Polinésia.
Todas têm em comum o fato de serem “Canoas Polinésias” e que, por sua vez, em um sentido mais amplo, são classificadas como “Canoas Outrigger”.
E a palavra “Outrigger”, por ser de origem inglesa, ganhou o mundo e ficou mais fortemente associada ao Havaí. É por isso que as Wa’as também são conhecidas pela sigla “OC”, de “Outrigger Canoe”. Já o número que vem em seguida serve para designar o número de pessoas que a embarcação comporta: 1, 2, 3, 4, 6 ou 12.
Outra diferenciação das canoas havaianas está no uso de lemes em canoas individuais ou duplas, que não foi adotado em outras ilhas, como o Taiti, por exemplo. As “V” taitianas, por outro lado, são consideradas as mais arrojadas em termos de evolução de design dos cascos. Mas isso é assunto para outro artigo!