“Guató: uma remada no tempo” e a riqueza de um Pantanal que virou cinzas
Série do canal Off sobre as raízes da remada em pé mostra a exuberância do Pantanal e de seu povo pouco ... leia mais
Recentemente estive em minha primeira expedição de va’a em grupo, isso aconteceu na Ilha Grande, Rio de Janeiro.
Convidado pelos amigos “Fogo” e Jorge Freitas (BRA Va’a), lá comecei a ver a canoa de uma forma diferente, ou diria, da forma que ela sempre esteve, mas eu precisava estar no momento certo para poder enxergar.
Nesta viagem incrível fiz muitos novos amigos. Pessoas que mesmo há mais de 12 anos orbitando dentro do mesmo universo que eu, dos eventos, ainda não conhecia.
Então, uma entre as várias novas amizades que fiz lá, lembrou de mim e fez um convite para conhecer a Chapada dos Veadeiros através da a expedição Serra da Mesa.
Mais uma expedição ou experiência realizada pela Jampa Va’a e Brasília Paddle Club.
“Ok! Eu vou!”, foi o que disse quase logo recebi o convite. Passagem ‘ok’. Estadia ‘ok’. Valor da expedição ‘ok’. Tudo certo, vamos que vamos!
Deu até tempo do meu novo remo da Rumo ficar pronto, a fábrica enviou por uma conhecida remadora, a Lolita, da Vagalume Va’a que também estava indo pra lá.
Agora começa a parte interessante. Localizada na parte nordeste de Goiás, na “borda” da Chapada dos Veadeiros, é o quinto maior lago do Brasil formado principalmente pelos rios Tocantins, Das Almas e Maranhão, um lago posicionado na região com um dos mais importantes biomas do país.
Lá, contudo, não se avistam os cânions característicos da chapada, mas é na mesma região.
É muito quente por conta do relevo mais baixo e vegetação devastada pela agroindústria e desmatamento.
O lago é belíssimo e já foi o maior do mundo, porém, sem a mata suficiente para segurar a humidade, a cada ano que passa vem secando mais. Este lago jamais voltou a ter sua cota máxima. Daí a importância do reflorestamento, pois são águas que escorrem para o norte, sul e oeste.
Contudo, a região, felizmente, ainda mantém uma beleza ímpar. Remar neste quase infinito lago regado com cachoeiras e pequenos cantos, onde a paisagem é diferente das que estamos acostumados, é uma experiência única.
Uma bela imersão, que nos faz repensar qual o nosso papel neste planeta e o que estamos fazendo para mantê-lo saudável.
As remadas, 25 Km no sábado e 15 km no domingo, foram feitas principalmente em canoas OC6 Mirage e V3 Genesis, mas houve quem se arriscasse na OC1, OC2 e V1, sob um calor para gente grande.
Existem os passeios imperdíveis na região. E são muitos: diversas cachoeiras, trekking, visita a comunidades e à história do Brasil e do nosso diversificado povo e origens.
Desta vez, nós, do “quarteto Fantástico”, composto por mim, Noa Moreno, Fernanda Figueiredo e Juliana Oliveira, todas remadoras cariocas, tivemos tempo para visitar e passar horas no Vale da Lua (joguem no Google e vejam o motivo deste nome) e na Pedra Bonita. Os dois lugares não dão vontade de ir embora.
Uma expedição assim tem muito mais coisas legais que acontecem para além das paisagens e da remada.
Sexta à noite, tomando algumas cervejas com as meninas, surge o músico Bruno Dourado, fundador da banda Nativos, que depois se tornou Natiruts.
Amigo da Noa há mais de 20 anos, Bruno juntou-se a nós e sacou um pequeno violão, mandando um repertório digno do lugar, ali mesmo no chão da pousada, onde todos nós estávamos jogados.
Vale dizer que além de ser um belo músico e ter uma bela história, é um cara de um astral tão bom, que conquista você com o primeiro sorriso, antes do primeiro acorde. Ele esteve comigo na V3 e remou também com muita vontade por aproximadamente 7 Km.
Sábado à noite foi a vez de Bruno e a Dj Ana Christina, de Brasília, animarem a festinha organizada na pousada, onde mais uma vez dançamos carregados pela energia do dia que tivemos.
O va’a se espalha cada vez mais rápido, cumprindo o seu papel. É o que tenho notado. Nesta experiência tivemos 23 remadores de Brasília, 10 iniciantes, 2 de Ilha bela, 3 do Rio, 1 de vitória, 6 de Colinas, mais alguns iniciantes e 10 crianças da comunidade.
Dessa forma, o va’a em expedições assume o seu papel impondo a sua origem, o seu DNA do desbravamento, da aventura e da união.
Fortalecimento de laços entre os remadores ou pessoas, assim como os polinésios que desbravavam e se aventuravam pelos oceanos.
O que eu tenho notado talvez de maneira tardia e que desta vez ficou muito claro, é a importância dessas expedições, passeios, aventuras, experiências, ou seja, lá como desejem chamar.
Hoje as competições acontecem, e foi assim, principalmente, que a canoa ficou mais conhecida e cresceu no Brasil. Mas ter feito a viagem para Ilha Grande e agora Goiás, me fez perceber a importância dessas expedições de va’a, atendendo um público mais diversificado.
Na verdade, este já é um novo modelo de negócio para muitos remadores, que não tem mal algum ser explorado, desde que bem construído e conduzido por pessoas apaixonadas e sérias, que garantam a segurança e, consequentemente, uma ótima experiência.
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