VIBE 2019 | Mais de 20 equipes confirmam participação em Ilhabela
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Nosso parceiro Marcelo Dias, que há anos toca com muita competência o projeto “A Remada Perfeita”, fez um alerta ontem em sua conta no Instagram sobre um problema que notou ser cada vez mais recorrente na va’a brasileira: “As pessoas estão parando de remar”.
Dias, que viaja pelo Brasil realizando treinamentos para atletas e clubes de canoa polinésia, acredita que a falta de experiência e maturidade esportiva está gerando cada vez mais conflitos e animosidade entre remadores e clubes e, consequentemente, afastando pessoas do esporte.
“A pessoa começa a remar e ganha saúde, condicionamento físico e qualidade de vida e então começa a competir. Nesse momento vejo muita gente se desapontar, por causa da pressão e cobrança de treinadores sem experiência, ego e também pelo clima pesado em competições”, explica Marcelo Dias em sua live.
O treinador revelou que tomou a iniciativa de fazer o alerta após receber um número crescente de mensagens de seus atletas, nas quais expressavam a intenção de abandonar o esporte após uma série de frustrações vivenciadas em competições.
Um dos problemas apontados por Dias, educador físico com mais de 20 anos de experiências em competições, é o fato de que pessoas com pouquíssima experiência esportiva estão à frente de clubes e treinando remadores, colocando uma pressão desnecessária sobre seus alunos: “Vejo gente que participa de competições há quatro anos e se acha super experiente, gente, quatro anos não é nada! Vamos ter mais humildade”.
A questão levantada por Dias é há muito apontada como uma ameaça ao desenvolvimento da canoagem polinésia no Brasil em artigos do Aloha Spirit Midia. Clubes são criados “do dia para a noite” e até hoje não há nenhum tipo de controle por parte da confederação brasileira – CBVA’A. Basicamente, qualquer pessoa, sem nenhum tipo de experiência prévia, pode criar uma base, colocar pessoas na água a bordo de uma canoa e “realizar treinamentos”.
É um alerta que precisa ser levado a sério. Uma pesquisa feita no Google Trends por termos como “canoa havaiana” e “canoa polinésia” mostra que, nos últimos cinco anos, após um crescimento contínuo nas buscas por assuntos ligados a esse esporte no Brasil, a partir de 2023, houve uma estabilização nesse crescimento, apresentando uma leve tendência de queda. Obviamente, esses dados não significam que a va’a brasileira está entrando em declínio, mas tampouco devem ser ignorados.
O poder de inclusão proporcionado pela va’a, quando direcionado exclusivamente para o ambiente competitivo, é outro ponto que merece ser repensado. Sem dúvida, é lindo ver equipes compostas pelas mais variadas faixas etárias competindo, mas quando todos acreditam que são a peça mais importante de uma engrenagem, temos um problema. Como no mundo real há uma hierarquia de interesses que naturalmente se estabelece em termos de atenção (vide atenção gerada em torno de equipes como Shell Va’a versus outras equipes), a frustação de quem está buscando motivação pelas razões erradas acaba sendo inevitável. Na outra ponta dessa corda, atletas juniores e em formação, recebendo cobranças excessivas por resultados, não costumam ir muito longe na carreira esportiva.
Outra questão levantada por Marcelo é o fato de que essa mentalidade excessivamente competitiva está negligenciando aspectos muito importantes que são intrínsecos à va’a, como a ancestralidade e a colaboração: “Estão colocando o remador na frente da canoa, mas o remador é a última parte. Primeiro vem a ancestralidade, as lições que se aprende, o respeito à canoa, o espírito de equipe; o remador vem só depois disso”.
Por fim, é crucial lembrar que são muitos os exemplos de outros esportes bem maiores e mais populares que, após um período de auge, entraram em crise e encolheram. O grande trunfo da canoagem polinésia, a sua carga cultural, é também sua fortaleza. Esta característica, portanto, não deveria ser negligenciada ou corremos o risco de ver a va’a brasileira seguir o mesmo caminho.