
Cidades do litoral de SP oferecem aulas gratuitas de canoa havaiana
As cidades litorâneas de São Paulo, Santos e São Sebastião, estão oferecendo aulas gratuitas de canoa ... leia mais

Lembra quando treinar huli era coisa séria? Quando um clube decente tratava o “desvira a canoa aí, campeão” como parte do kit básico do remador, no mesmo nível de saber passar protetor solar sem ficar com a cara parecendo máscara de carnaval? Pois é… ficou no passado. Hoje o huli virou quase lenda urbana: todo mundo jura que domina, mas quando o mar pergunta “e aí?”, a maioria faz aquela cara clássica de quem não estudou pra prova.
E vou além: se amanhã o VAARJ ou o Brasileiro resolvessem brincar de professor carrasco e mandassem um teste surpresa — tipo “bora dar huli nessas canoas rapidinho, meus jovens?” — ia virar um barata voa geral. Tem equipe que travaria, equipe que entraria em negação e uma galera respeitável que não conseguiria nem desvirar a canoa de volta… quanto mais virar a chavinha da consciência.
A verdade é dura e sem romance: canoa NÃO vira em mar lisinho, sem vento, vibe de spa. Ela vira quando a natureza acorda azeda. Ventão, ondão, arrebentação com aquela cara de “tô só esperando você piscar” pra dar um croquezinho pedagógico. E é aí que se separa quem treinou de verdade de quem só treinou pra fazer foto sorrindo no Instagram.
E não é exagero, não. Já vimos huli feio em prova grande, em longa distância e até no Brasileiro. E não tô falando daquele huli didático, fofinho, instagramável. É aquele que te lembra em três segundos que o mar é sincero — e que flexão de ego não salva ninguém.
O mais absurdo? Isso deveria ser obrigatório, igual colete, apito e o mínimo de juízo. Mas seguimos naquela preguiça institucionalizada. Clubes — e aqui eu me incluo, sem frescura — penam pra praticar a manobra com regularidade.
De um lado, as equipes de competição que se acham tão acima do bem e do mal que huli virou “coisa de iniciante”. O papo é remar forte, remar rápido, remar bonito. Desvirar a canoa? “Relaxa, irmão, isso não vira com a gente.” Beleza. Depois manda uma carta psicografada para sua mãe quando virar.
Do outro, os remadores mais novos, que quando ouvem “vamos treinar huli” já começam a montar tragédia: “E se o iako bater na minha cabeça?”, “E se eu não conseguir subir na canoa?”, “E se entrar água no ouvido?” A criatividade deles pra criar pânico é maior que a força pra remar.
E aí vem a cereja do bolo: a quantidade absurda de remadores de lagoa que nunca treina huli. E o problema começa quando essa galera sai da lagoa achando que tem passe livre no mar.
E pra completar o bingo, ainda tem instrutor que pula essa parte do treino porque “é arriscado demais”. Irônico, né? A manobra criada justamente pra evitar problema sendo deixada de lado por medo… do problema.
Resultado: seguimos empurrando com a barriga, fingindo que tá tudo sob controle… até o mar decidir ensinar, do jeitinho dele, como as coisas realmente funcionam.
Porque no fim das contas, huli não é só técnica. É humildade. É aceitar que a canoa vira, que o mar não tá nem aí pra vaidade de ninguém, e que saber desvirar salva treino, salva prova e, em certos dias, salva vida.
Ainda dá tempo de resgatar essa cultura antes que vire peça de museu. Huli não dói. Dói é colocar todo mundo em risco.
* Este é um artigo de opinião. As ideias aqui expressas são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a posição editorial do Aloha Spirit Mídia.