Todas na mesma canoa contra o feminicídio

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Feminicídio
O mar nos convida a enxergar outro lado da história: aquele em que mulheres se levantam, se unem e se reconhecem como parte de uma mesma travessia. Foto: Reprodução

Na va’a, cada remada carrega uma história. Entre as mulheres da canoa, essas histórias são, muitas vezes, feitas de resistência, reconstrução e coragem silenciosa. Em um Brasil marcado por números alarmantes de feminicídio, mulheres arrancadas de suas vidas, de seus sonhos e da própria voz, a canoa havaiana se transforma em algo maior do que um esporte: torna-se um território de cura, fortalecimento e pertencimento.

Enquanto o país enfrenta uma crise de violência que cresce ano após ano, o mar nos convida a enxergar outro lado da história: aquele em que mulheres se levantam, se unem e se reconhecem como parte de uma mesma travessia.

A força feminina que o mar desperta

Quando uma mulher entra na canoa, ela não apenas segura um remo, ela reencontra sua potência. Ali, cada batida sincronizada revela algo poderoso: o ritmo que nasce quando mulheres apoiam mulheres. No mar, não existe competição pela sobrevivência; existe colaboração para avançar.

Para muitas remadoras, a canoa representa exatamente o oposto do que a violência tenta destruir: autonomia, liberdade, movimento, vida.

É o espaço onde elas voltam a respirar, a confiar no próprio corpo e a encontrar a força que muitas vezes a vida tentou calar.

Enquanto as equipes femininas crescem, os noticiários também crescem em tragédias: mulheres que não tiveram tempo de pedir socorro; famílias devastadas; comunidades inteiras buscando respostas.

Falar de canoa e de mulheres é também assumir responsabilidade social. É reconhecer que, enquanto celebramos vitórias no mar, ainda perdemos vidas na terra. É compreender que o esporte, a cultura e o espírito Aloha precisam ecoar além da água, precisam se transformar em voz ativa contra qualquer forma de violência. Na canoa, somos todas uma só.

Se há algo que a va’a ensina é que nenhuma remada sozinha muda o rumo da travessia. Mas quando todas remam juntas, o barco ganha direção e propósito.

Assim, também deve ser nossa postura diante do feminicídio uma remada coletiva, feita de educação, respeito e mudança cultural. Defender a mulher é defender a vida. É defender a sociedade que queremos deixar para as próximas gerações.

Nas equipes femininas, vemos mulheres que escolheram ocupar o mar como quem ocupa um lugar no mundo: com dignidade, com coragem e com voz.

Para cada mulher que sofreu violência, há outra que se levanta na água, honrando sua memória e empurrando o barco da esperança adiante.

Para cada história interrompida, há outras tantas que resistem, que sobrevivem, que se reinventam.

A canoa é, então, metáfora e realidade: um instrumento que rompe ondas e, ao mesmo tempo, rompe silêncios.

Que nossa remada também seja luta.

Que as mulheres da canoa continuem a inspirar o país com sua força.

Que seu espírito Aloha ecoe nas margens onde ainda há dor.

Que cada travessia nos lembre que nenhuma violência é aceitável, que nenhuma vida é descartável e que nenhuma mulher pode ser esquecida.

E que, acima de tudo, nossa voz chegue nos lares, nas comunidades, nas políticas públicas, nos corações que ainda precisam despertar para o valor e para a vida.

Porque quando uma mulher cai, todas sentimos. Mas quando uma mulher se levanta, ela ergue o mundo inteiro com ela.

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