Quem paga a conta no mundo Va’a?

Compartilhe
Mundo Vaa
Quando falamos em “quem paga a conta”, não é só sobre dinheiro. É sobre quem sustenta o esporte de verdade, quem veste a camisa. Foto: Jonathan Borba / Pexels

No universo Va’a existe uma pergunta que todo mundo pensa, mas quase ninguém tem coragem de jogar na roda: afinal, quem paga a conta?

Porque, vamos combinar: remar é lindo, é poético, tem aquela vibe espiritual de conexão com a natureza. Mas junto vem a parte nada zen: boletos, inscrições de competições, manutenção de canoa, aluguel de guarderia, mensalidade de clube, instrutores particulares, associações, federações e custos absurdos para organizar uma competição minimamente decente.

E já aviso: não é o mar que banca isso tudo. O mar não é sócio do clube, não viabiliza competições, não dá desconto de fidelidade. O mar, no máximo, manda a fatura em forma de onda atravessada, correnteza contra ou huli inesperado. Ele só cobra — e cobra caro, com juros.

Quando falamos em “quem paga a conta”, não é só sobre dinheiro. É sobre quem sustenta o esporte de verdade, quem veste a camisa, quem mantém os clubes vivos, quem viabiliza competições e festivais. Porque sem essa galera, o Va’a seria apenas meia dúzia de canoas largadas na areia e alguns remadores jurando ser campeões mundiais… bêbados no churrasco de domingo.

A realidade nua e crua dos remadores da Va’a

De um lado, temos o remador leal, que veste a camisa do seu clube como se fosse armadura. Ele não tá atrás só de medalha de latão: o que busca é propósito, suor e desafio. É o cara que paga a mensalidade do clube antecipada e ainda agradece a cobrança.

Compra o melhor remo, o colete top, participa de todas as travessias, aparece em cada clínica técnica e ainda banca do próprio bolso sua inscrição da competição, hospedagem, transporte e o que mais pintar. O que ele ganha? Muitas vezes chegar em último. Mas tá feliz, porque o verdadeiro prêmio é desafiar seus limites.

Esse é o remador que permanece anos no mesmo clube, evolui lentamente, mas nunca desiste. Resiliente, assiste de camarote à frustração de quem abandona o esporte na primeira derrota. Ele não pergunta “quanto custa?”, mas sim “quando é a próxima?”. Ele sustenta o esporte, movimenta o mercado e ainda aplaude quem chegou depois. Não é cliente: é pilar. Sem ele, não existe Va’a.

No mesmo clube, aparece aquele remador “super atleta” de ego inflado. O sujeito que acha que rema tanto que o simples fato de aparecer já deveria contar como pagamento.

Esse quase nunca paga mensalidade. “Pra quê?”, ele pensa. Treina cada dia numa equipe e em clubes diferentes, e quando chega a competição, é o primeiro a soltar: “quem vai bancar minha inscrição?”, “a organização vai oferecer algum benefício?”. Porque, na cabeça dele, é bom demais pra gastar do próprio bolso.

É o que pede desconto em tudo, mas na hora de competir aparece como se fosse patrocinado pela Red Bull: Track&Field da moda, colete Vogah, reminho Viper brilhando e, claro, chegando de carrão — ou até com uma canoa de carbono milionária.

É também o remador que veste camisa de clube como se fosse abadá de carnaval: usa, exibe e troca por uma nova de outro clube na próxima competição. Se depender dele, a Va’a vira circo: ele no picadeiro e os clubes e organizadores de competição de palhaço.

Aí, no meio desse caldeirão louco, nasce o remador pão duro. O cara que acha que GymPass e TotalPass são a chave do sucesso — não pela qualidade técnica do clube, não pela experiência dos instrutores, mas porque “é mais barato, né?”. O sujeito não percebe que esses sistemas pagam pros clubes quase ⅓ de uma mensalidade em média. É tipo pedir picanha pagando preço de salsicha.

E quando a aula lota? Ele fica indignado, sem entender como funciona o milagre da multiplicação dos bancos das canoas. Quer exclusividade pagando mixaria. Explicar pra ele que o clube não é ONG? Esquece.

E, quase no rodapé deste cardápio de personagens, surge o remador que ficou desempregado. Esse é traiçoeiro: se pintar uma indenização na conta, em pouco tempo vira “concorrente”, montando clube próprio com a fórmula mágica do “Ctrl+C + Ctrl+V”. É a franquia pirata da Va’a: hoje tá na sua canoa, amanhã inaugura a dele do outro lado da praia, com logo feita no Canva e plano “promocional” para iludir seus alunos.

Já o remador de fé é outro capítulo. Esse não tem grana nem pra balaio de açaí, mas aparece em todas. Merecia incentivo, apoio, políticas de acesso… mas o que recebe? Tapinha nas costas e muito “boa sorte aí”.

Rema com o colete que sobrou no canto do clube, pega remo emprestado que parece ter remado na ocupação da polinésia de mil anos atrás, e ainda assim dá seus pulos pra competir. Chega com nada, entrega tudo.

E o mais irônico? São justamente esses que mais surpreendem na água — e, claro, os que o meio da Va’a insiste em valorizar menos.

No fim das contas…

Enquanto uns pagam a conta com suor, dinheiro e lealdade, outros se acomodam em cima de status, favor e ego barato. Sem o remador leal, o esporte não anda. São eles que mantêm os clubes vivos, que dão fôlego às competições e que transformam a Va’a em uma verdadeira Ohana.

No fim das contas, existem muitos perfis, mas só um sustenta o remo na água. E é esse que, de fato, escreve a história da Va’a.

Já o restante só existe porque alguém banca a farra. Se o esporte dependesse apenas deles, a Va’a seria como espuma de onda: impressiona por instantes, mas desaparece sem deixar rastro.

E é aí que fica a pergunta, incômoda e sem escapatória: você é quem banca ou quem é bancado?

Não perca nada! Clique AQUI para receber notícias do universo dos esportes de água no seu WhatsApp

Compartilhe