
6 sinais de que você está à caminho de uma lesão
Experientes treinadores falam sobre lesões em atletas e compartilham os sinais de que você pode estar ... leia mais

É aquele assunto que todo mundo acha que domina, mas quase ninguém respeita de verdade. Longe de ser especialista, médico ou dono da verdade, mas depois de quase trinta anos velejando e remando dá pra aprender algumas coisas observando padrões. Principalmente o padrão clássico: gente forte, bem treinada, com técnica boa, quebrando feio por causa de algo absurdamente básico.
Antes de qualquer coisa, vale uma dose de humildade. Cada corpo reage de um jeito. Peso, intensidade, tempo de prova, clima, taxa de suor, alimentação e até genética entram nessa conta. Por isso, o melhor conselho possível é procurar um nutricionista esportivo ou profissional da área que entenda de esporte de endurance. Não é luxo, não é frescura e muito menos modinha. É eficiência. O que funciona para um pode derrubar outro. Copiar estratégia alheia sem critério é um dos esportes mais praticados na canoa — e um dos mais perigosos.
Existe uma ilusão persistente de que a hidratação se resolve na hora. Como se o corpo fosse uma caixa d’água: você chega antes da largada, vira uma garrafa inteira goela abaixo, dá mais duas “só pra garantir” e pronto. Não resolve. O máximo que isso faz é garantir uma vontade desesperada de urinar e uma falsa sensação de preparo. O corpo precisa de tempo para absorver, distribuir e equilibrar líquidos e eletrólitos. Quem chega desidratado na largada já começou a prova em dívida.
Em uma situação típica de competição ou travessia longa, o preparo começa dias antes ou semanas. A ideia não é exagerar, é manter constância. Beber água ao longo do dia, fracionada, observar a cor da urina, ajustar a ingestão de sais e não sabotar tudo com noites mal dormidas e excesso de álcool e cafeína. Nada heroico aqui, só disciplina básica. O corpo agradece em silêncio.
No dia da prova, a hidratação antes da largada deve ser estratégica, não desesperada. Pequenas quantidades, distribuídas, com alguma reposição de eletrólitos, sem empanturrar o estômago. Chegar leve, mas equilibrado. Quem exagera nesse momento normalmente paga durante a prova, seja com enjoo, seja com queda de rendimento precoce.
Durante a remada, o corpo está queimando combustível sem parar e perdendo líquido mesmo quando o vento engana e o suor não aparece tanto. Beber só água, em grandes volumes, é outro erro clássico. Água sem sódio pode diluir o que o corpo precisa manter estável. O ideal é ingerir líquidos em pequenas quantidades, de forma constante, combinando água com eletrólitos e, quando necessário, algum tipo de carboidrato. Não é sobre beber muito, é sobre beber certo. Ignorar isso leva a cãibras, confusão mental, perda de força e decisões ruins — e no mar, decisão ruim vira problema grande.
Quando a prova termina, muita gente acha que o trabalho acabou. Na verdade, a conta só chegou. O corpo sai da canoa inflamado, desidratado e precisando de reposição. O correto seria começar a reidratação imediatamente, com água e eletrólitos, antes de pensar em comemoração. Mas o ritual costuma ser outro: cerveja, comida pesada e zero preocupação com recuperação. O resultado aparece depois, em forma de dor excessiva, recuperação lenta e queda de rendimento nos treinos seguintes. O pós-prova é parte do treino, mesmo que ninguém ache bonito postar isso.
No fim das contas, hidratação não é detalhe técnico nem papo chato de bastidor. É segurança, performance e longevidade no esporte. O mar não perdoa improviso e o corpo cobra cada descuido, cedo ou tarde. Quem entende isso continua remando por muitos anos. Quem não entende, vira história de cais, sempre contada começando com a frase: “ele estava bem preparado, mas…”.