
Com transmissão ao vivo, Brasiliense de va’a rola neste final de semana
Neste final de semana Brasília será palco da Primeira Etapa do Circuito Brasiliense de Va’a 2025, ... leia mais

Vamos ser sinceros: muita gente que rema por aí não faz a menor ideia de onde é norte, sul, leste ou oeste. E não estou falando de iniciantes. Estou falando de lemes, capitães, instrutores, gente com anos de remada no lombo mas que, se as nuvens cobrirem a costa, fica mais perdido que cego em tiroteio.
E aqui vai a verdade que ninguém gosta de admitir: se você não sabe se localizar no mar, também não sabe interpretar a previsão do tempo no aplicativo de forma realmente útil. Porque não adianta ler “vento nordeste” no aplicativo se você não faz ideia de onde o nordeste está na prática na hora da remada.
Sim, é duro ouvir isso. Mas é mais duro ainda estar no mar, sem referência, sem GPS e sem saber para que lado remar com segurança.
É fácil se sentir no controle quando o mar oferece pontos de referência claros: prédios, montanhas, ilhas. Mas o que acontece quando o cenário se apaga numa neblina?
Quando o vento sopra de onde você não espera, a maré começa a empurrar na direção contrária e o horizonte se transforma numa linha infinita, sem pistas, sem respostas… você consegue manter o rumo? Ou vai remar guiado apenas pelo instinto (que, no mar, quase sempre é só a ilusão de que você está no controle)?
Porque é nesses momentos, quando tudo o que era familiar desaparece, que a verdadeira habilidade de um remador se revela.
E aí não é sobre força, é sobre leitura. Não é sobre técnica da remada, é sobre sobrevivência.
Hoje, muitos clubes colocam quase toda a ênfase na técnica de remada, na cadência perfeita e no sincronismo da equipe, mas negligenciam algo que, no fim das contas, pode significar a diferença entre chegar ou não: a leitura do mar.
Vejo lemes que sequer sabem identificar corretamente os pontos cardeais, (inclusive dentro da Bravus) muito menos algo básico, como o fato de que o sol nasce aproximadamente ao leste e se põe no oeste.
Remadores que tratam “ponto cardeal” como papo ultrapassado de velho lobo do mar, algo dispensável — até que chega o dia em que a visibilidade desaparece e o mar cobra a conta.
E é aí que a verdade se impõe: a canoa deixa de avançar com propósito e começa a ser empurrada ao sabor das ondas, desperdiçando energia e tempo sem chegar a lugar nenhum.
No mar, remar bem é importante, mas não saber para onde ir é um erro caro… e, muitas vezes, imperdoável.
No mar, força sem direção é só desperdício de energia. Remar de verdade não é apenas mover a canoa para frente: é saber exatamente onde você está e para onde vai.
Essa habilidade não nasce do treino físico sozinho. Ela vem da atenção plena: observar a dança do vento, sentir a pressão da corrente, notar o ângulo do sol e decifrar o som das ondas. É um diálogo silencioso com o oceano, onde cada detalhe conta.
Porque atravessar o mar qualquer um atravessa; ler o mar, entender sua linguagem e usar isso para guiar o caminho… isso é o que separa um remador comum de um verdadeiro navegador.
No mar, um segundo de descuido pode custar caro. Ele não perdoa a desatenção, não aceita desculpas e, quando decide testar você, não dá aviso prévio.
Se um dia o GPS falhar, a costa desaparecer na neblina e o vento virar contra, não será a sua força, resistência ou até mesmo uma equipe experiente que vai garantir a sua chegada. O que realmente vai te salvar é saber se orientar — ter a capacidade de ler o mar, identificar sua posição e traçar o rumo certo, mesmo quando tudo à sua volta parece igual.
E se você não domina isso, está apostando a sua segurança e a dos seus remadores no jogo perigoso da sorte. Porque no oceano não há atalhos, e a confiança cega pode ser tão letal quanto a ignorância.
Então eu te pergunto: você é só mais um remador… ou é um navegador de verdade?