Forte no braço, fraco na bússola

Compartilhe
forte no braço bússola
Muitos clubes colocam quase toda a ênfase na técnica de remada, mas negligenciam algo que, no fim das contas, pode significar a diferença entre chegar ou não: a leitura do mar. Foto: Imagem gerada com IA.

Vamos ser sinceros: muita gente que rema por aí não faz a menor ideia de onde é norte, sul, leste ou oeste. E não estou falando de iniciantes. Estou falando de lemes, capitães, instrutores, gente com anos de remada no lombo mas que, se as nuvens cobrirem a costa, fica mais perdido que cego em tiroteio.

E aqui vai a verdade que ninguém gosta de admitir: se você não sabe se localizar no mar, também não sabe interpretar a previsão do tempo no aplicativo de forma realmente útil. Porque não adianta ler “vento nordeste” no aplicativo se você não faz ideia de onde o nordeste está na prática na hora da remada.

Sim, é duro ouvir isso. Mas é mais duro ainda estar no mar, sem referência, sem GPS e sem saber para que lado remar com segurança.

A ilusão do “sei me virar”

É fácil se sentir no controle quando o mar oferece pontos de referência claros: prédios, montanhas, ilhas. Mas o que acontece quando o cenário se apaga numa neblina?

Quando o vento sopra de onde você não espera, a maré começa a empurrar na direção contrária e o horizonte se transforma numa linha infinita, sem pistas, sem respostas… você consegue manter o rumo? Ou vai remar guiado apenas pelo instinto (que, no mar, quase sempre é só a ilusão de que você está no controle)?

Porque é nesses momentos, quando tudo o que era familiar desaparece, que a verdadeira habilidade de um remador se revela.

E aí não é sobre força, é sobre leitura. Não é sobre técnica da remada, é sobre sobrevivência.

O problema começa dentro dos clubes

Hoje, muitos clubes colocam quase toda a ênfase na técnica de remada, na cadência perfeita e no sincronismo da equipe, mas negligenciam algo que, no fim das contas, pode significar a diferença entre chegar ou não: a leitura do mar.

Vejo lemes que sequer sabem identificar corretamente os pontos cardeais, (inclusive dentro da Bravus) muito menos algo básico, como o fato de que o sol nasce aproximadamente ao leste e se põe no oeste.

Remadores que tratam “ponto cardeal” como papo ultrapassado de velho lobo do mar, algo dispensável — até que chega o dia em que a visibilidade desaparece e o mar cobra a conta.

E é aí que a verdade se impõe: a canoa deixa de avançar com propósito e começa a ser empurrada ao sabor das ondas, desperdiçando energia e tempo sem chegar a lugar nenhum.

No mar, remar bem é importante, mas não saber para onde ir é um erro caro… e, muitas vezes, imperdoável.

Remar não é só força no braço

No mar, força sem direção é só desperdício de energia. Remar de verdade não é apenas mover a canoa para frente: é saber exatamente onde você está e para onde vai.

Essa habilidade não nasce do treino físico sozinho. Ela vem da atenção plena: observar a dança do vento, sentir a pressão da corrente, notar o ângulo do sol e decifrar o som das ondas. É um diálogo silencioso com o oceano, onde cada detalhe conta.

Porque atravessar o mar qualquer um atravessa; ler o mar, entender sua linguagem e usar isso para guiar o caminho… isso é o que separa um remador comum de um verdadeiro navegador.

O mar não perdoa desatenção

No mar, um segundo de descuido pode custar caro. Ele não perdoa a desatenção, não aceita desculpas e, quando decide testar você, não dá aviso prévio.

Se um dia o GPS falhar, a costa desaparecer na neblina e o vento virar contra, não será a sua força, resistência ou até mesmo uma equipe experiente que vai garantir a sua chegada. O que realmente vai te salvar é saber se orientar — ter a capacidade de ler o mar, identificar sua posição e traçar o rumo certo, mesmo quando tudo à sua volta parece igual.

E se você não domina isso, está apostando a sua segurança e a dos seus remadores no jogo perigoso da sorte. Porque no oceano não há atalhos, e a confiança cega pode ser tão letal quanto a ignorância.

Então eu te pergunto: você é só mais um remador… ou é um navegador de verdade?

Não perca nada! Clique AQUI para receber notícias do universo dos esportes de água no seu WhatsApp

Compartilhe