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Considerado o melhor técnico do mundo de canoa polinésia, o taitiano David Tepava está passando uma temporada no Brasil a convite da Passaúna Composites para realizar treinamentos de va’a. Na primeira fase de sua viagem, iniciada em dezembro, ele realizou treinos fechados com a equipe Team Mirage em Curitiba e Guaratuba.
Jornalista e diretor de conteúdo da plataforma Aloha Spirit Midia, Luciano Meneghello acompanhou esses treinamentos durante uma semana, ocasião em que realizou a seguinte entrevista com David Tepava:
Como a canoa polinésia entrou na sua vida?
Meu pai era pescador e pescava com canoa. Então, desde muito cedo eu tive esse contato. Eram canoas bem pesadas, feitas de madeira. Quando você passa muito tempo no mar, pescando nesse tipo de canoa, você desenvolve seus sentidos em relação aos elementos a sua volta. É diferente de estar na água com uma canoa ultraleve feita em fibra de carbono focado em seu treinamento. Para pescar, é preciso desenvolver seu ‘feeling’ para mover a canoa e encontrar os peixes. É uma sensação (feeling) que você desenvolve. Eu também gostava de acompanhar meu pai e de estar numa canoa.
E como você se tornou um competidor de va’a?
Foi para me testar. Como acontece com vários garotos. Você vai experimentando diferentes esportes e se testando. Percebi que era bom na va’a e passei a me dedicar às competições, mas, naquela época, eu não imaginava que chegaria onde cheguei.
Quando a Shell Va’a entrou na sua vida?
Em 2002, quando tinha 20 anos, recebi o convite para entrar para a equipe B da Shell, fazendo leme. Com o tempo, migrei para a equipe principal e segui competindo com eles, até receber a proposta para atuar também como treinador, posição que ocupo atualmente.
Na sua opinião, que qualidades um bom líder de uma equipe de va’a deve possuir?
Para ser um bom chefe de equipe você precisa ser experiente e contar com um bom número de ferramentas. Para ser líder você precisa ter muito o que compartilhar e, portanto, muito conhecimento. O que eu falo e peço, eu sei fazer e um bom líder faz isso. Não dá para ser um bom chefe dizendo para sua equipe fazer algo que você não sabe fazer. É preciso ouvir sua equipe, entender suas necessidades, e então usar suas ferramentas para ajudá-los a alcançar um objetivo.
Muita gente no Brasil não faz ideia da popularidade que a Shell Va’a tem no Taiti, talvez, a comparação mais próxima seja com um time de futebol brasileiro que há anos lidera a primeira divisão. Nesse sentido, como você lida com a pressão por resultados e a exposição de sua equipe? Como fazer para manter seus remadores com os “pés no chão” focados nos treinos e com o ego sob controle?
Bem, posso responder completando um pouco o que disse na resposta anterior. E para liderar, você precisa também dar o exemplo. É preciso manter a calma mesmo com toda a pressão em cima da gente. Se eu entrar em pânico, isso vai afetar diretamente minha equipe. Quando eu dou um conselho sobre a pressão que eu sofro, eu também estou respondendo com a minha atitude em relação a essa situação e isso influencia todo o grupo.
Você é conhecido por ser muito dedicado ao seu trabalho com a Shell Va’a e raramente aceita convites para treinar outros remadores. Por que tomou a decisão de passar essa temporada no Brasil?
Nos últimos anos eu realmente recebi muitos convites para realizar clínicas em diferentes lugares e recusei, mas chega um momento na vida em que é preciso tentar novas experiências. Fiz treinamentos na Austrália e Califórnia, mas nunca tinha vindo ao Brasil. Vi que era uma oportunidade para ajudar a elevar o nível da va’a em seu país e também de conhecer um lugar que nunca tinha vindo. Então aceitei o convite.
E como você se sente vendo um esporte que é tão representativo para os taitianos, como a va’a, ter tantos admiradores em um lugar distante como o Brasil?
A va’a tem muito significado no Taiti, é o “esporte rei”, e estou impressionado com a quantidade de pessoas no Brasil interessadas em tudo que envolve o universo da canoa, na sua história, fundamentos e técnica. Talvez até mais interessadas na cultura da canoa do que no Taiti!
Que conselho você daria para remadores que acabaram de montar uma equipe de va’a?
Antes de tudo, va’a não é só um esporte. É uma arte. Para começar a remar é preciso entender isso. Como a canoa reage, como ela desliza. É preciso entender as sensações que ela traz. Desenvolver uma conexão. É preciso respeitar a canoa. Depois vem a preparação física. Mas se você focar somente na condição física, você não entendeu nada.
NOTA – A partir de 04 de janeiro, Tepava realizará uma série de treinamentos abertos ao público que tem início em Florianópolis, seguindo para diversas cidades brasileiras (saiba mais aqui).