Família de remadores é rodeada por tubarão-branco (drone registra tudo)
Imagens de uma família de remadores sendo rodeada por um tubarão-branco na Califórnia viralizaram na web. ... leia mais
Aloha Galera! Nossa jornada rumo ao conhecimento do va’a vem a cada artigo sendo enriquecida com diversas informações importantes, desta forma, vamos nos tornando remadores melhores e mais completos.
No artigo desta semana, vamos encontrar informações importantes e detalhadas sobre a função de cada banco (noho) de uma canoa polinésia. Então vamos lá, boa leitura!
Por André Leopoldino, capitão do Tribuzana Va’a e instrutor/desenvolvedor do Curso Básico de Va’a
Como já sabemos, a prática de remar em uma canoa polinésia é realizada em conjunto, em equipe, de forma sincronizada e até mesmo com uma certa espiritualidade envolvida nesta atividade. Lembrem que, toda canoa possui um “mana”. No passado as canoas eram construídas a partir de uma árvore de Koa e para o povo polinésio, tudo na natureza possui um “mana”. Sabendo disso, temos que entender a responsabilidade que cada remador assume ao sentar-se em uma canoa.
A escolha do banco para cada remador vai muito da sua personalidade, estilo de remada e biotipo. Podemos separar a canoa em três partes para entender melhor o perfil de remadores sugeridos para cada banco, vejamos a seguir:
Remadores de frente: São os remadores do banco 1 e banco 2, localizados na frente da canoa e que são responsáveis pela cadência e ritmo das remadas.
Remadores de meio: São os remadores do banco 3 e banco 4, localizados entre os iacos e são responsáveis pelo equilíbrio da canoa, além de força.
Remadores de fundo: São os remadores dos bancos 5 e 6, localizados na parte traseira da canoa. São responsáveis pelo equilíbrio, força e direcionamento da canoa.
Tendo como base estas três divisões, fica mais fácil definir a posição de cada tripulante na canoa. Por exemplo, definir um remador forte e com um peso maior para os bancos de frente não seria o ideal, para isso os bancos de meio seriam mais indicados.
Agora que já entendemos um pouco mais sobre o assunto, vamos estudar com mais detalhes as funções de cada banco.
Banco 1 (voga):
O remador do banco 1, juntamente com o banco 2, pertence ao grupo de remadores de frente. Ele tem a função principal de ditar a cadência e ritmo, ou seja, a frequência de remadas para o restante da canoa. Para cumprir com esse objetivo, o banco 1 precisa ser um remador motivado, com foco e ser persistente em seu objetivo. No Brasil costuma ser chamado de “voga”. Quando estamos remando em lados intercalados, o voga determina o ritmo para os bancos 3 e 5.
Como características, esse remador precisa ter uma visão mais apurada dos detalhes que envolvem tudo ao seu redor e ao redor da canoa, ele precisa sentir a canoa, entender as condições de vento e ondulação para saber quando imprimir um ritmo mais forte ou mais cadenciado.
Uma outra função importante do voga é servir como os olhos do leme (banco 6), estando sempre atento a possíveis obstáculos como pedras, tocos e outros que podem surgir a frente da canoa. Quando isso ocorrer ele deve avisar o leme ou em uma situação que exige rapidez no movimento, ele pode chegar ao ponto de necessitar fazer o que chamamos de leme de proa. Nestas situações, o voga irá “espetar” seu remo na lateral da canoa, travar seu remo em 90º, ou ainda fazer uma remada lateral em 45° ou 90° a fim de evitar o choque com tal obstáculo.
Em momentos de baixa velocidade, ancorar a canoa em trapiches ou quando a canoa está parada, o voga auxilia o leme na movimentação em água remando também em 45º e 90°. Quando a canoa está sendo preparada para o embarque dos remadores o voga deve estar atento aos comandos do leme, justamente para auxiliá-lo na movimentação em águas rasas, embarque e início da atividade de remada. O mesmo acontece ao ancorar a canoa em terra, onde o voga precisa estar sempre atento e protegendo a proa da canoa. Pode ser o penúltimo remador a embarcar na canoa (antes do leme) e o segundo a descer da canoa (após o leme), e sempre sob orientação dos comandos do leme.
Banco 2 (contra voga):
O banco 2 é o remador que auxilia o voga, por isso pode ser chamado de contra voga. É um banco de extrema importância com relação a sincronia da canoa, isso porque, o contra voga vai ditar o ritmo para os bancos 4 e 6 quando remamos em lados intercalados. Para que isso ocorra o contra voga precisa estar extremamente concentrado no ritmo do voga, precisa garantir o mesmo tempo de entrada da pá na água (catch) e o mesmo tempo de saída do remo da água, garantindo assim, a sincronia para seus bancos pares e evitando que eles remem em ritmos diferentes que os bancos 1, 3 e 5.
Igualmente ao voga, o contra voga auxilia o leme nos momentos de manobras da canoa em água, podendo ser necessário fazer uma remada lateral em um movimento sincronizado com o banco 1. Em momentos de curva de boia em competições, os remadores de frente (banco 1 e 2) são responsáveis em conjunto com os remadores de fundo (leme e contra leme), em fazer um movimento acertado e rápido de contorno.
Outras funções do contra voga englobam motivar o voga e auxiliá-lo na constância do ritmo de remada, garantindo que este ritmo seja o mesmo para cada ciclo. O contra voga deve também estar atento ao movimento da canoa prevenindo que ela vire, e para isso, deve proteger o iaco dianteiro, sendo necessário debruçar-se sobre ele evitando o huli.
Banco 3:
O remador do banco 3, juntamente com o banco 4, pertence ao grupo de remadores de meio. Os remadores de meio são remadores que se concentram em movimentar a canoa para frente, mantendo o equilíbrio e garantindo também a potência nas remadas. São geralmente os remadores mais fortes do grupo.
Como função adicional, o banco 3 é responsável por chamar as trocas de lado, garantindo assim que os remadores possam remar igualmente para os dois lados da canoa. Conforme já estudamos anteriormente, o banco 3 utiliza um comando para chamar essa troca. No Havaí é muito utilizado o comando “hut”, já no Taiti é utilizado o comando “hee”. Aqui no Brasil é mais comum usar o comando “hip” para iniciar a troca, podendo de forma opcional, os outros remadores responderem com o “ho”.
Algo importante nas chamadas de troca é a entonação do comando. Um banco 3 experiente deve ter uma voz forte, que inspire e motive os outros remadores. Importante também fazer um comando curto ao invés de um comando longo, algo do tipo “Hip” e não algo como “Hiiiiiip”. Este comando de troca deve ser realizado no exato momento que o remo entra na água, na fase do catch, onde todos os remadores terminam essa remada e após remar mais uma vez iniciam a troca de lado.
Geralmente em equipes de competição o banco 3 faz a chamada da troca com 10 remadas. Já para turmas de clubes, o banco 3 pode fazer a chamada de troca entre 13 e 15 remadas. Um banco 3 experiente sabe o momento certo de chamar a troca de lado, onde não necessariamente fará a chamada na décima ou décima terceira remada. Isso porque, o banco 3 deve levar em consideração as circunstâncias do momento, como por exemplo, ele não deve chamar a troca em conflito com a entrada em um “bump” de onda, muito perto ou longe de uma virada de boia ou quando o capitão estiver emitindo algum comando. Nestas circunstâncias o banco 3 deve aguardar o momento correto de fazer o chamado de troca, independente da quantidade de remadas.
O banco 3 precisa ainda estar atento ao movimento da ama, em uma possibilidade de ocorrer um huli, ele deverá apoiar o seu remo no cabo instalado entre os iacos (cabo anti-huli), quando da existência dele. Em futuros artigos falaremos mais detalhadamente sobre huli.
Banco 4:
Da mesma forma que o banco 3, o remador do banco 4 é um remador de meio, sendo assim, é responsável pelo equilíbrio da canoa e principalmente pela força. Geralmente é indicado para ser ocupado por um remador forte com função de garantir potência na remada.
Como função adicional o remador do banco 4 protege a canoa colocando seu corpo sobre o iaco traseiro, evitando assim o huli. Além disso, esse remador tem a função de retirar a água acumulada no fundo da canoa, usando para isso o “hand bailer”, que é o recipiente utilizado para retirar essa água que se acumula durante a remada.
Banco 5 (contra leme):
Juntamente com o banco 6 é um remador de fundo, e por estar próximo ao leme, tem uma noção maior do que os outros remadores, da direção que a canoa está tomando. Principalmente em remadas em mar aberto e com grandes ondulações, esse remador pode auxiliar o leme, por isso é também chamado de contra leme. Caso algo aconteça com o leme, o remador do banco 5 é geralmente indicado para assumir a sua função no direcionamento da canoa.
Uma função adicional do contra leme é vigiar a ama da canoa, onde por estar em uma visão privilegiada pode observar o momento exato de um huli e para evitá-lo, poderá se debruçar no iaco traseiro, auxiliando o banco 4 nesta função. Também é comum que o contra leme possa remar sem respeitar as trocas de lado, a fim de garantir um maior equilíbrio da canoa quando em mar aberto e instabilidade da mesma.
Mesmo não sendo um remador de meio, o banco 5 é considerado um remador de potência e para isso é indicado ser um remador forte.
Banco 6 (Leme):
O banco 6 é ocupado pelo remador responsável em fazer o leme da canoa, ou seja, ele é o responsável por “direcionar” a embarcação. Devido a essa função de grande importância, o leme precisa entender de diversos detalhes que influenciam em sua função e estar sempre em alerta, garantindo uma navegação segura para todos os tripulantes. O leme precisa entender de condições meteorológicas como previsão de vento, chuva, raios, além de condições e regras de navegação.
Por ser o responsável pelo direcionamento da canoa, o leme não precisa remar do mesmo lado do banco 2 e 4, visto que, as condições de vento e ondulação podem não permitir que ele siga esta regra. Mas por estar no último banco da canoa o leme tem uma visão completa da sincronia e outros detalhes que envolvem a técnica de cada remador, sendo assim, pode atuar como um agente motivador para os outros remadores.
Geralmente é o capitão e instrutor da canoa, mas em algumas situações outro banco pode assumir a função de líder da equipe, desde que, previamente acordado entre as partes. O mais comum é que o papel de capitão seja desempenhado pelo leme. Algo importante dentro de uma canoa é que todos os remadores precisam se manter concentrados na remada e o único a falar é o leme/capitão da canoa e suas orientações não costumam ser contrariadas.
Importante entendermos que, o remador do banco 6 por ser o leme e geralmente o capitão e instrutor de um determinado clube de va’a, carrega consigo uma enorme responsabilidade. O que descrevemos aqui são funções gerais do remador que utiliza o banco 6, mas fazer o leme em uma va’a não se resume somente a estas funções.
Neste artigo você conheceu com mais detalhes as funções de cada banco de uma canoa polinésia. Viu quanto assunto interessante? Em sua próxima remada, lembre dos conceitos relacionados ao banco que você estará ocupando e entenda as responsabilidades inerentes a cada um deles. Lembre-se também, que todo esse material e muito mais, está disponível no Curso Básico de Va’a e lá você poderá aprofundar-se em todos estes assuntos.
Um big aloha e até o próximo artigo!
WEST, Steve. Outrigger Canoeing The Ancient Sport of Kings – A Paddlers Guide. 2ª Ed. Batini Books, 2010.
Pukai, Mary Kawena and Elbert, Samuel H. Hawaiian Dictionary – Hawaiian language and English language. Edição Revisada e Ampliada, 1986.