Quando o rei da Inglaterra surfou e remou de canoa havaiana
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Boa tarde queridos amigos leitores!
Dando continuidade na nossa coluna, a matéria dessa semana vai ser de um fato que mostra bem como o mar é o principal professor do mar.
Caso: Quando os professores são os primeiros alunos do curso.
Durante meu processo de aprendizado na canoa polinésia, nunca me esqueço de um camarada que marcou muito minha vida, meu comandante Rodrigo Magalhães (In Memoriam).
Rodrigo não era remador de canoa polinésia, mas de caiaque oceânico e sempre pregou uma navegação segura, que começava por entender os elementos da atmosfera, saber as teorias da navegação, as regras…
Com o tempo, fui percebendo que há algumas lacunas no aprendizado dos alunos de canoa polinésia, especialmente no campo teórico e do entendimento dos oceanos e, inspirado pelo Rodrigo, comecei a dar um curso chamado “Va’a com consciência”, em 2011.
É um formato de curso que agregamos desde técnicas de remada, passando pelo Leme e muita instrução prática sobre as leis do mar, além de RCP, técnicas de salvamento e perigos escondidos.
Esses 3 tópicos ministrados por salva-vidas locais, como meus parceiros Gedeon (Salvamar de Maresias) e Péricles (Gmar de Itacoatiara).
Bem, um desses cursos foi ministrado na base do meu irmão Anamauê, José Paulo, fundador do Canoa Caiçara, Santos (SP). Um clube que segue as tradições do Va’a e se tornou um grande irmão.
Cheguei um dia antes e saímos para o Zé me mostrar um pouco do litoral de Santos, o qual não tenho (na época menos ainda) tanta familiaridade.
Saímos para uma remada tranquila de V1, eu, Zé e meu outro irmão Anamauê, Caio Guerra, fomos indo e desembarcamos no Saco do Major.
Ficamos lá um tempo curtindo a praia e o mar começou a dar sinais de subida. Decidimos que era hora de voltar.
Contudo, os quebra-cocos já estavam constantes e fortes e vimos que precisávamos nos ajudar, traçar uma estratégia, pois cada um na sua canoa seria impossível.
Montamos um plano:
Caio sairia primeiro, com eu e Zé segurando a canoa até o momento certo. Depois iria eu, e deixaria a canoa com Caio, voltaria nadando e ajudaria o Zé.
Tudo coordenado, Caio vai, sai bem. Em seguida, esperamos de novo a brecha e fui eu. Deixei a canoa com Caio e quando estava voltando para a praia, descendo uma onda para chegar no Zé, a correnteza tirou a perna dele do chão e aí ele foi com tudo para passar exatamente a onda que eu estava descendo.
Foi difícil acreditar, mas onda estourou com tudo em cima dele e o Iako partiu.
Pronto, tínhamos um problema, dois pedaços de Iako na mão e uns 6 km para voltar para a base. Nesse meio tempo, Caio se virava para segurar as duas V1 com a ondulação e o vento jogando para a praia.
Tivemos que fazer uma amarração de fortuna. Zé pegou a borracha extra, conseguiu diminuir o tamanho do Iako, amarrando uma parte por sobre a outra e aí saímos juntos.
Voltamos com a canoa totalmente torta, com vento, mas chegamos tranquilos, apesar do susto.
E na volta ficamos ali pensando exatamente isso: como o mar é forte, poderoso, e que a gente, que ia dar aula, precisava antes de uma aula, sabe-se lá porque, talvez para nos tornarmos ainda mais humildes e que apesar de professores, independente dos anos de mar que tenhamos, no mar seremos sempre ALUNOS.
Todos os dias podemos e devemos aprender com a força do mar, mesmo nos dias mais tranquilos!
Como diz Robinson Knox, no livro “Um mundo só meu”, quando conta sobre sua aventura dando a volta ao mundo em um veleiro solo:
“Com o tempo você percebe que o mar tem humores, e que mais do que qualquer coisa, esse tempo te faz aprender a lidar com os humores do mar, nunca se saberá tudo, nunca seremos capazes de desafiar o oceano. Quem vai com este pensamento de desafiar, está necessariamente fadado ao acidente, que muitas vezes será sem volta”.
Na próxima matéria, Tentativas e erros na primeira expedição de VA`A autônomo e com prancha em uma OC1!
Não perca! Aloha!
Capitão amador