Os desafios de ser um atleta profissional de SUP race
Tops do SUP race brasileiro revelam como conseguem manter uma rotina de treinos e competições de alto ... leia mais
Na última quinta-feira, 01 de agosto, o céu ganhou uma das mais belas estrelas, que a partir de agora brilhará com rara intensidade. Parafina, o cão surfista, partiu em paz, após viver uma jornada que mais parece ter sido criada por um grande romancista.
Ninguém sabe exatamente de onde veio ou quando Parafina nasceu. As recordações mais antigas do simpático cão “sem raça definida” surgem por volta de 2010, quando ele passou a acompanhar os soldados de um batalhão da cidade, que corriam na praia todos os dias pela manhã. Tentou se juntar a eles nessa atividade, mas não foi muito bem recebido pelos militares. Ficou então amigo dos guarda-vidas e passou a dormir no posto de salvamento do Parque Roberto Mário Santini, onde está localizado o famoso quebra-mar de Santos, um dos mais tradicionais picos de surfe do Brasil.
Por iniciativa própria, Parafina seguia os guarda-vidas entrando no mar e então passou a acompanhar os surfistas. Um dia, o lendário Picuruta Salazar, um dos maiores nomes do surfe brasileiro de todos os tempos, colocou o cão em uma prancha de stand up paddle, que, para a surpresa de todos, rapidamente se adaptou ao equipamento e, mais do que isso, passou a pedir a outros surfistas para acompanhá-los.
Foi então que em uma manhã ensolarada de outono, o professor de surfe Augusto Martins colocava seu stand up paddle na água quando, de repente, foi surpreendido por um cachorro pulando antes dele na prancha. Era o Parafina.
Apesar da surpresa, Augusto permitiu que o cão ficasse com ele na água. Nesse dia surfaram e remaram juntos durante duas horas no turno da manhã e mais duas no final de tarde. A partir de então, estes encontros se tornaram cada vez mais habituais. Quando o Augusto chegava para dar aulas, o Parafina estava sentado no jardim em frente ao local onde habitualmente aconteciam as sessões de surfe.
Até que em 2013, Augusto se preparava para voltar casa após mais um dia de aulas na praia, quando olhou pelo retrovisor do carro e viu Parafina parado, olhando fixamente para ele. Sentiu um aperto no coração, voltou, abriu a porta e chamou para entrar – no que foi atendido prontamente. Um momento de escolha mútua a partir do qual duas vidas passariam a ser compartilhadas não apenas dentro d’água, mas em todos os locais e instantes. Eles haviam se adotado.
Foi o início de uma bela parceria e não demorou muito para que o mundo descobrisse o talento dessa dupla. Augusto e Parafina foram quatro vezes para a Califórnia participar de competições de surf canino e voltaram com diversos títulos, inclusive o mundial. Parafina se tornou embaixador do Santos Futebol Clube, virou marca (Parafina Surf Dog), garoto propaganda, alegrou crianças e inspirou centenas de pessoas e outros cães a surfar.
Certa vez, os dois viajaram para o Rio de Janeiro para ver a etapa brasileira do campeonato mundial de surfe da WSL em Saquarema. O mar não estava pequeno, mas Augusto se recorda de que Parafina queria entrar na água. Resolveram encarar as ondas – e deram show.
Sem que soubessem, a equipe de filmagens da WSL estava realizando testes para transmissão do evento e registrando imagens do pessoal em ação na água, quando, então, a dupla surge deslizando por uma esquerda a toda velocidade. Kaipo Guerrero e o campeão mundial, Martin Potter, comentaristas da Liga, acompanhavam as imagens no estúdio e, impressionados com o que viam na tela, começaram a narrar a onda, como se fosse uma bateria do campeonato mundial. Ao final, aplaudem a performance. O vídeo correu o mundo.
Apesar de tantas glórias e de ter inspirado tanta gente a surfar e a se relacionar melhor com o mar, Augusto e Parafina nunca foram homenageados pela Associação de Surf de Santos e nem pelo Museu de Surfe da cidade, algo que considero uma das maiores injustiças do surfe santista. Mas isso, é claro, nunca fez a menor diferença para o Parafina. Ao contrário dos burocratas e suas politicagens, para esse surfista de quatro patas, o que importava mesmo era pegar onda ao lado de seu parceiro o máximo de tempo possível.
Valeu, Fina! Foi uma honra ter te conhecido! Aloha, a Hui Hou.