“Guató: uma remada no tempo” e a riqueza de um Pantanal que virou cinzas

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Raízes da remada em pé
Ancestralidade e modernidade fundem-se em uma só vibração. Foto: Cesinha Feliciano

Era para ser uma série sobre as raízes da remada em pé praticada há séculos no coração do Pantanal Sul-Mato-Grossense.

Contudo, “Guató: uma remada no tempo”, série de oito capítulos que estreia no canal Off, dia 23 outubro, ainda que involuntariamente, é um manifesto por um santuário hoje tomado pelas chamas – e que talvez nunca mais volte a ser o que era.

Dirigida pelo carioca Rico Faissol, a série de oito capítulos retrata o encontro da campeã pan-americana, Lena Ribeiro, e de seu treinador, Américo Pinheiro, com a comunidade indígena dos guató. 

A viagem, mostrada em primeira-mão e com exclusividade aqui no Aloha Spirit Club, foi feita antes das queimadas que vêm devastando a região e da pandemia do novo coronavírus.

Os guató são uma etnia originária do Pantanal que se locomove remando em pé numa canoa de madeira, ou seja, uma espécie de SUP primitivo.

+ Informação: Uma viagem às raízes da remada em pé

Dessa forma, durante 15 dias, Rico Faissol e sua equipe acompanharam Lena e Américo nesse encontro com os guató em meio a uma natureza exuberante.

Raízes da remada em pé
Américo Pinheiro, Rico Faissol e Lena Guimarães. Foto: Cesinha Feliciano

Pelas fotos divulgadas, fica evidente a beleza única do lugar que hoje está tomado pelas chamas das queimadas que consomem o Pantanal.

Sinto uma tristeza profunda ao pensar que grande parte daquele cenário da série virou cinzas. Ainda estou trabalhando na edição e, em alguns momentos, é difícil. Tem horas que eu vejo as imagens, paro, dou uma respirada e aí continuo. É impossível prever os efeitos do que vem acontecendo na região e por quanto tempo o equilíbrio da natureza vai ser prejudicado. Mas estou torcendo para que o Pantanal se regenere usando sua imensa força de renovação“, diz Rico Faissol, diretor da série.   

+ Informação: Remadores do pantanal falam sobre a rotina de treinos em tempo de queimadas

Américo Pinheiro recorda com preocupação do trajeto percorrido por ele e Lena na companhia dos indígenas, hoje transformado em cinzas:

Foram mais de 300 km de remada. Praticamente todas as regiões por onde remamos foram atingidas pelas queimadas. Isso provoca um sentimento de angústia muito forte, pois, a cada notícia que vejo, a destruição só aumenta”, revela Américo, que cita alguns exemplos de lugares visitados:

Nós percorremos praticamente toda a Serra do Amolar, uma região belíssima que está sendo consumida pelo fogo. É realmente muito triste”.

Raízes da remada em pé
Indígena guató exibe sua técnica ancestral de remada em pé praticada há séculos no Pantanal. Foto: Cesinha Feliciano

Todavia, para além da natureza, a equipe também teve um contato muito próximo com os habitantes da região, cujo destino também preocupa:

Tivemos contato com pessoas muito especiais. Por exemplo, conhecemos um dos últimos indígenas que fala a língua guató. Então, isso deixou a gente bastante sensibilizado com o que está acontecendo lá”, relata Américo.

Portanto, “Guató: uma remada no tempo”, além de ser um registro precioso sobre as raízes da remada em pé, assume o papel de testemunha ocular de beleza de nosso Pantanal e de como devemos nos empenhar para protege-lo, de forma que as tristes cenas geradas pela devastação provocada pelas queimadas nunca mais se repitam.

Torço realmente para que toda aquela natureza volte a ser aquilo que conhecemos, pois o Pantanal e seus habitantes originários merecem toda nossa consideração e respeito”, finaliza Américo.

Ficha técnica – “Guató: uma remada no tempo”

Quando: 23 de outubro;

Onde: Canal Off;

Direção: Rico Faissol;

Estrelando: Lena Guimarães, Américo Pinheiro e a comunidade indígena guató.

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