Entrevista | Tristan Boxford e os rumos da APP World Tour

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CEO da Association of Paddlesurf Professionals (APP) bate um papo com nosso editor sobre rumos do circuito mundial entre outros assuntos

Tristan Boxford em ação no Havaí.  Ex windusrfista profissional, CEO da APP tem uma relação genuína com o SUP e os watersports em geral. Foto: AP

Inglês de nascimento e há muitos anos residente no Havaí, Tristan Boxford é um ex-windsurfista profissional com vasta experiência na produção de programas de comunicação voltados aos water sports que encarou a missão de levar o stand up paddle ao maior número de pessoas – e segue firme em seu propósito.
Na posição de CEO da Association of Paddlesurf Professionals (APP) desde o início, quando o circuito mundial de SUP atendia pelo nome de Stand Up World Tour, Tristan teve a ideia de unificar as duas vertentes mais populares (Wave e Race) em um único circuito visando levar o esporte às massas.
Na entrevista exclusiva concedida ao Aloha Spirit Club, Tristan fala sobre os planos da entidade para os próximos anos, o futuro do SUP Wave, atletas brasileiros, SUP Foil entre outros assuntos

Pranchas de SUP em meio à paisagem tipicamente londrina. Levar o esporte a grandes centros urbanos está entre as apostas da APP para a sua popularização. Foto: Reprodução APP World Tour.

Nesses nove anos organizando o circuito mundial de SUP, antes como Stand Up World Tour e agora renomeado APP World Tour, como você avalia a evolução do stand up paddle mundialmente?

O esporte se desenvolveu muito nos últimos nove anos e tem sido uma evolução emocionante. Desenvolvemos seu lado competitivo através do nosso World Tour de Race e Wave levando o SUP para os quatro cantos do mundo e descobrimos talentos incríveis em todo mundo.

No caso do SUP Wave, a evolução mais notável foi em relação ao equipamento e ao estilo de surfe. As pranchas no começo variavam de 8 a 9 pés de tamanho, mas rapidamente foram diminuindo e proporcionando um desempenho melhor, mais radical e também manobras aéreas.

No evento mais recente da APP, competidores como Luis Diniz tinham pranchas com tamanhos entre 6 a 7 pés.

Uma mudança e tanto…

Sim. Nos primeiros anos havia mais um “cross over” de atletas envolvidos, vindo de esportes como longboard, windsurfe, kite e shortboard, enquanto agora temos competidores focados no stand up paddle.

Para mim, Sunset Beach (Havaí) ainda define o padrão do stand up paddle e é uma onda perfeita para o esporte, mas beach breaks como Long Beach e os que tivemos nas etapas brasileiras também influenciaram na evolução do esporte e ajudaram a melhorar a performance nas manobras.

O Havaí parece um caldeirão de talentos e desenvolvimento nos últimos nove anos, mas desde que Leco conquistou seu título mundial, em 2012, não há dúvida de que o Brasil realmente está liderando a disputa em ondas de beach break, em particular – e os resultados em Long Beach foram uma prova disso – (frisa), e de que o nível de performance dos SUP surfistas brasileiros está muito forte e é muito empolgante vê-los em ação!

Wellington Reis durante o NY SUP Open: “A presença brasileira no Tour está sendo empolgante em todos os aspectos”. Foto: APP World Tour

O que você achou do desempenho dos brasileiros na etapa de Nova Iorque?

Espetacular. Nós estávamos muito animados com o grande número de SUP surfistas do Brasil inscritos na competição e ficamos impressionados com o nível apresentado.

Foi irônico que tenha sido o primeiro ano em que Caio Vaz não esteve presente praticamente desde o início do Tour, mas a presença brasileira foi mais forte do que nunca. No Round 4 tínhamos quatro brasileiros na disputa e o mais incrível é que nenhum deles era o Leco Salazar, que, aliás, está muito melhor do que nunca!

Fiquei particularmente impressionado com o surfe de Wellington Reis e, claro, Luiz Diniz. Matheus Salazar também surfou muito bem e continua a evoluir. Eu acredito que é um momento emocionante para o SUP Brasileiro e eles continuarão sendo uma força dominante no Tour com a quantidade de talentos que estamos vendo sendo revelados.

Já em relação às mulheres, foi ótimo ver Nicole Pacelli tão focada em recuperar o título mundial, além disso, o retorno de Aline Adisaka, e a ascensão de novos talentos como Gabriela Sztamfer me parecem um bom presságio.

A presença brasileira no Tour está sendo empolgante em todos os aspectos.

Nos últimos anos, apesar de continuarmos revelando novos talentos no SUP Wave brasileiro, essa modalidade não cresceu tanto quanto a SUP Race. Essa realidade também está presente em outras partes do mundo?

Penso diferente.  Na verdade, em todo mundo as vendas de pranchas de SUP direcionadas para o surfe são maiores que as de Race. Acontece que as provas de Race são mais comuns e mais fáceis de serem realizadas e consequentemente atraem mais gente e chamam mais atenção. Porém, em todo o mundo estão surgindo novos talentos no Wave e o esporte segue evoluindo, principalmente na Europa, América e Austrália.

Há um revigoramento da categoria no APP World Tour que começou este ano. Acredito que esse impulso ajudará a consolidar o desenvolvimento dessa modalidade e veremos ainda mais talentos surgirem no Tour em 2019.

É uma forma tão versátil de surfar e apenas arranhamos a superfície do verdadeiro potencial que o SUP Wave tem.

Tristan Boxford ao lado de Leco Salazar em Abu Dahbi levando o SUP ao Oriente Médio: “Nossa missão é levar o SUP aos quatro cantos do mundo”. Foto: Reprodução

Teremos mais etapas em 2019?

Estamos recebendo uma injeção de entusiasmo e crescimento do SUP Wave este ano e estamos planejando um Tour com quatro etapas em 2019, com eventos em Sunset Beach, Nova Iorque, Barbados e Gran Canaria. Vai ser um ano emocionante e o nível de performance nunca foi tão alto.

Em relação às provas de Race, o formato do City Paddle Festivals foi um grande sucesso, permitindo-nos atingir os principais mercados e introduzir o esporte de forma significativa para um grande público, algo que pode realmente estimular o crescimento do esporte.

Com a Red Bull Heavy Water definimos os limites de resistência e adrenalina e fornecemos uma etapa emocionante ao calendário do Tour.

Nós trabalhamos o cronograma para que cada evento ofereça algo valioso e extremamente exclusivo para o Tour, para o esporte e seus atletas, fornecendo uma plataforma dinâmica e empolgante para a mídia e espectadores em todo o mundo.

O que podemos esperar da etapa das Ilhas Canárias?

A onda é bem parecida com Sunset Beach. Talvez não tão grande e volumosa, mas é uma onda pesada que quebra para a direita e que também forma uma esquerda boa quando está menor.

As Ilhas Canárias estão localizadas no meio do oceano Atlântico e estão, portanto, muito expostas a toda a energia do inverno no Mar do Norte, por isso, esperamos ver ondas sólidas e uma grande pista de prova para os melhores do mundo. 

Além disso, é uma excelente localização turística, com opções bem econômicas para os atletas e uma final adequada para o Tour. Temos um compromisso mínimo de três anos para a realização do evento por lá, então, será uma parada regular da APP World Tour por muitos anos.

“Em relação ao SUP Foil downwind, acredito que apenas começamos a ver o potencial”. Foto: Reprodução/ Stand Up Magazin.

Como a APP está assistindo ao surgimento do SUP Foil? Existe a possibilidade de um campeonato mundial dessa modalidade?

Eu acho que a evolução do foil é muito interessante, mas dentro de um formato de surfe competitivo, eu acredito que seja limitado. Isso não quer dizer que não seja possível, apenas que não tenho certeza de que ele realmente se tornaria um produto dinâmico pela perspectiva de julgamento de surfe que estamos habitados a ver.  Mas nunca vou dizer nunca, pois vai depender da maneira como o surfe de foil evoluir.

No entanto, em relação ao downwind, acredito que seja super interessante e nós apenas começamos a ver o potencial. Esta é uma possibilidade real para o futuro e não apenas por causa de o tamanho das pranchas, mas também pela natureza dinâmica do surfe em mar aberto. Essa é uma evolução realmente empolgante.

A APP é oficialmente sancionada pela ISA, que visa levar o SUP às Olimpíadas. Você acredita que chegaremos lá?

Sim, eu acho que o fato de a ISA ter conseguido levar o surfe aos Jogos Olímpicos foi um grande passo, e o stand up paddle é uma escolha muito mais lógica para o COI, dada a viabilidade e facilidade de uso, assim como a participação mundial, que certamente eclipsará o surfe nos próximos anos.

Estamos fazendo tudo o que podemos para apoiar os esforços do ISA, pois, embora não seja essencial para o nosso esporte estar nas Olimpíadas e realmente não afeta o que estamos fazendo no Tour profissional, não há dúvida de que sua inclusão traria mais olhares para o stand up paddle e proporcionaria um destaque adicional e mais credibilidade. Por isso estamos entusiasmados com uma inclusão que poderá ser breve, como em Paris 2024!

Luciano Meneghello (editor do Aloha Spirit Club, à esq.) ao lado de Tristan Boxford trabalhando nos bastidores do Alagoas Pro, em 2014, na última vez em que o Tour Mundial passou pelo Brasil: “Não é um país simples para trazer um evento”. Foto: Reprodução

Existe alguma possibilidade do Tour ser realizado no Brasil novamente?

Nós gostaríamos de trazer a APP World Tour de volta ao Brasil. Nós amamos o país e as pessoas, e acreditamos que isso deve acontecer dada a quantidade de talentos que estão surgindo no seu país.

No entanto, tudo se resume a recursos financeiros e o Brasil certamente não é um lugar simples para fazer negócios e trazer um evento.  Nós acompanhamos o episódio que envolveu a mudança de lugar da prova do Mundial da ISA, de Búzios para a China. Esse acontecimento foi uma verdadeira vergonha e impacta organizações como a APP por razões óbvias.

Nós passamos por muitas situações como essa, então, trazer a APP de volta ao Brasil exigiria uma proposta muito sólida. Eu posso te dizer, porém, não há nada que eu amaria mais do que fazer uma nova etapa da APP World Tour no Brasil!

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