Lena e David classificados para as finais do Race Técnico
Lena Ribeiro e David Leão conquistam uma vaga para as finais do SUP Race Técnico no Mundial da ISA nesta ... leia mais
Foram quase dois anos de silêncio, mas a Confederação Brasileira de SUP – CBSUP voltou a se manifestar publicamente no dia 15 de abril, através de sua conta de Instagram.
A postagem rememora a primeira competição oficial de SUP Race realizada pela entidade, em 2011, no Rio Grande do Sul. Nos dias que se seguiram, outras postagens comemorativas foram feitas enaltecendo mais dois eventos desse mesmo ano, duas associações estaduais, uma rápida entrevista com o maior vencedor de títulos brasileiros da história, Luiz Carlos Guida, e a promessa de “reestruturar o Stand up Paddle no Brasil”, endossada por três federações (FESUPRJ, FESUPAM, FSMSUP) e duas associações (ASUP-CE e ABASUP).
O discurso é de “união” e da importância de um legado. Nas entrelinhas, contudo, a impressão que se tem é que se trata de um recado à nova gestão da CBSurf e seu recém anunciado novo circuito brasileiro de SUP: “Estamos aqui”.
Essa “volta” da CBSUP, no entanto, tem gerado dúvidas e questionamentos em relação às suas pretensões e quem, efetivamente, está no comando.
O último edital publicado no site da entidade é de novembro de 2019. Trata-se de uma convocação de eleição feita por um Administrador Provisório da Confederação Brasileira de Stand Up Paddle, no caso o próprio Ivan Floater, presidente da entidade desde a sua fundação, em 2009, na época ainda na forma de uma associação (ABSUP).
Não há, contudo, informação sobre o cumprimento do edital, pois, como dito no parágrafo anterior, não houve continuidade na comunicação oficial.
Esse cargo de Administrador Provisório teria como função manter o funcionamento da entidade até que a eleição para a escolha de uma nova diretoria seja feita – o que, de acordo com o estatuto da CBSUP, deve ser realizado ao final de cada ciclo olímpico.
Informalmente, o que se diz (já que nenhum ofício foi publicado) é que Ivan Floater teria renunciado e José Augusto, vice-presidente da CBSUP, assumido o cargo. Na ausência de ofícios, resta o trabalho de apuração do fatos e conversas com atores envolidos no processo.
Sabe-se que nessa operação de retomada das atividades, José Augusto conta com o apoio de algumas pessoas, entre elas, o blogueiro e competidor de SUP Race, Alex Araujo, a quem, segundo reportado por uma fonte que preferiu não se identificar, ficou delegada a função de cuidar da maioria das postagens do Instagram e coordenar reuniões com dirigentes estaduais.
A CBSUP não realiza um evento oficial desde agosto de 2019, quando encerrou o circuito brasileiro daquele ano, em Campo Grande (MS).
Naquela época, muitos atletas já mostravam preocupação com os rumos do SUP nacional, que dava claros sinais de que estava perdendo fôlego e enfrentando uma debandada de competidores para outra modalidade de esporte de remada: a canoagem polinésia.
Esse cenário motivou um grupo de atletas a criar um movimento chamado “Unidos Pelo SUP”, com o propósito de ajudar a confederação a fomentar o esporte.
Uma campanha institucional criada pelos próprios atletas passou a ser veiculada a princípio com o apoio da confederação; reuniões entre Ivan Floater, José Augusto e integrantes do movimento, passaram a ser realizadas.
Contudo, a chegada da pandemia de covid-19 e as incertezas geradas por esse cenário acabaram por esfriar as coisas nos primeiros meses de 2020, até que o conturbado processo de votação para a escolha de uma nova diretoria da Confederação Brasileira de Surfe – CBSurf frente à gestão de Adalvo Argolo, reavivou a interação entre os integrantes do movimento Unidos pelo SUP e a diretoria da CBSUP.
Antes de avançarmos, é necessário um breve esclarecimento sobre o papel da CBSurf em relação ao stand up paddle e a CBSUP.
Desde que a Federação Internacional de Surfe (ISA) passou a realizar mundiais de SUP, em 2012, a CBSurf, como representante legal da entidade no Brasil, é quem tem a palavra final sobre a definição de uma seleção brasileira em eventos internacionais aos quais a ISA está integrada (hoje eles são, além do mundial, o PASA, os Jogos Pan-Americanos ligados ao COI e possivelmente os Jogos Olímpicos nos próximos anos).
Com o tempo, a relevância da ISA em relação ao stand up paddle se tornou maior com a entrada do surfe nas olimpíadas e seu trabalho para uma possível inclusão do stand up paddle nos jogos futuramente. Situação essa que gerou uma batalha entre ISA e ICF (Federação Internacional de Canoagem) pelo direito de representar o SUP nas Olimpíadas.
A disputa foi vencida pela ISA em 2020. Desde então, aos olhos do Comitê Olímpico Internacional e do Tribunal de Arbitragem do Esporte (CAS), a entidade internacional de maior instância na justiça esportiva, a ISA passou a ser reconhecida como a entidade global mais importante do stand up paddle.
Parte dessa estratégia foi convencer o CAS de que o SUP é, na verdade, uma modalidade de surfe. E aqui não interessa o que eu e você pensamos a respeito. O fato é que a ISA foi bem-sucedida e desde então, perante os tribunais internacionais, o entendimento é o de que o stand up paddle é uma modalidade de surfe.
Essa decisão deu ainda mais força e legitimidade à CBSurf e o reconhecimento do Comitê Olímpico Brasileiro a ela, como único órgão com legitimidade para representar o stand up paddle no Brasil, mesmo com a existência da CBSUP (de novo, são questões jurídicas, portanto, legais, que nem sempre refletem o senso comum), o que também se traduz na promessa de grandes investimentos.
Felizmente, o que poderia gerar uma briga institucional entre ambas as confederações resultou em um acordo de parceria, uma vez que José Augusto, vice-presidente da CBSUP, era também o coordenador nacional de SUP dentro da CBSurf durante a polêmica gestão de Adalvo Argolo. Mas esse quadro mudou com a chegada das novas eleições na confederação brasileira de surfe e a possibilidade da derrota de Argolo, aliado de Ivan Floater.
As eleições para escolha de uma nova diretoria da CBSurf foram extremamente tumultuadas, com ações judiciais, cancelamentos, eleições anuladas, enfim, um processo tão longo e tortuoso que não cabe entrar em detalhes aqui, mas você pode se inteirar sobre o que aconteceu lendo alguns artigos, como esse publicado no site da Hardcore.
A chapa vencedora, Nação Surfa Brasil, presidida por Teco Padaratz e apoiada por uma legião de atletas, ex-atletas, venceu a eleição por 14 votos a zero, colocando fim à “Era Adalvo Argolo”, que estava há mais de 10 anos no comando da CBSurf. Participaram das eleições, além das federações estaduais ligadas à CBSurf, representantes dos atletas para cada modalidade de surf ligada à entidade, entre elas, o SUP.
Este foi o ponto da discórdia entre CBSUP e os integrantes do movimento Unidos Pelo SUP, pois o grupo, além de não concordar com posição da entidade de nomear, à revelia, seu presidente, Ivan Floater, como “representante dos atletas” na eleição, não concordava com seu apoio à chapa de Adalvo Argolo e, consequentemente, à José Augusto, então coordenador de SUP da CBSurf.
A posição do grupo de atletas era favorável à chapa Nação Surfa Brasil, que tinha Américo Pinheiro como coordenador nacional de SUP, e queria mandar um representante escolhido pelos atletas para votar não foi respeitada.
Mais de dez reuniões foram feitas entre a diretoria da CBSUP (Ivan Floater e José Augusto) e os atletas do movimento Unidos pelo SUP. Todas registradas em atas, que podem ser lidas no grupo de Telegram Unidos Pelo SUP. Não houve um acordo e a questão acabou sendo resolvida na justiça, através de uma ação movida pela Chapa Nação Surf Brasil, que legitimou o direito dos atletas de SUP a escolherem seu representante para a votação.
A partir de então, Ivan Floater rompeu relações com todos e deixou de seguir o grupo, não mais respondendo às mensagens enviadas pelos atletas, e nem de Américo Pinheiro, eleito novo coordenador nacional de SUP, pela CBSurf.
E assim chegamos ao momento atual.
Pode até ser coincidência, mas o fato é que a CBSUP voltou a se manifestar publicamente, através de seu Instagram, logo após o anúncio de que a CBSurf iria realizar um circuito brasileiro de SUP sem a participação da CBSUP, nas modalidades Wave e Race, este ano.
Claro que a notícia de que a confederação brasileira de SUP está se reorganizando é, a princípio, positiva. Porém, antes, há uma série de questões em aberto e que precisam ser respondidas.
A começar pela necessidade de maior transparência. Afinal, se José Augusto assumiu o cargo de presidente, em que momento isso ocorreu? E onde estão os editais registrados em cartório dando publicidade ao fato?
E quanto às eleições para a escolha de uma nova diretoria da CBSUP, que devem ser realizadas ao final do ciclo olímpico, conforme rege o estatuto dessa entidade? Quando, afinal, serão realizadas?
Igualmente importante é saber quem são as federações e associações oficialmente filiadas à CBSUP? Elas cumprem os requisitos impostos pelo próprio estatuto? Como, por exemplo: “Ter, pelo menos três associações praticantes desportivas inerentes ao Stand Up Paddle, legalmente em funcionamento”, conforme determina o Artigo 13, inciso III do estatuto da CBSUP?
Quem é o atual representante dos atletas dentro da CBSUP? E como ficará a relação da entidade com a CBSurf, que já anunciou um calendário brasileiro? De que forma a CBSUP pretende se reestruturar sem estar subordinada à CBSurf, como era até o fim da era Argolo?
Impossível também não eximir a responsabilidade das federações e associações estaduais e seu papel regulador, colaborando com a regularização da CBSUP antes de qualquer ação ou promessa.
Por fim, sabemos que otimismo é importante, porém, é fundamental que frases de efeito e promessas de uma “nova era” sejam seguidas imediatamente por ações concretas, pois a ninguém interessa uma guerra de narrativas e muito menos uma disputa institucional entre entidades, sobretudo no momento delicado em que o stand up paddle atravessa. A responsabilidade, senhoras e senhores, é enorme.