Após 8000 km, remadoras da Cap Optimist chegam à Polinésia Francesa
As seis remadoras do projeto “Cap Optimist” completaram neste sábado (25) a travessia de metade do Oceano ... leia mais
Um presente do destino: nem cinco minutos de conversa foram gastos entre três amigos, Raquel Daoud, Zizo e Thiago Pustiglione para decidirem contornar a Ilhabela (SP) na remada.
A ideia seria realizar a expedição de remada, de aproximadamente 90 km, revezando uma prancha de prone paddleboard em apenas um dia.
Raquel resume bem a relação dos amigos com o prone paddleboard através de sua própria experiência com a modalidade:
“O paddleboard foi apresentado para mim como mais uma modalidade de esportes aquáticos, que eu amo, e com o tempo fui percebendo a real conexão que ele proporciona. É o nosso corpo em conta com a água de uma forma que, para mim, é melhor do que a própria natação e posso falar porque também sou nadadora. Com a prancha você consegue apreciar o visual e sentir o balanço do mar e ter essa conexão maravilhosa”, conta a remadora.
Após avaliarem as condições climáticas de ventos, ondulação e correntes, os amigos chegaram à conclusão de que nas próximas 72 horas, haveria um dia excelente para realizar o desafio.
Foram, portanto, apenas dois dias para tomada de decisão e preparação com toda logística necessária entre barco de apoio, alimentação, equipamentos ideais e itens de segurança.
Após tudo arranjado, os remadores optaram por fazer a travessia pelo sentido sul.
As trocas seriam a cada 20 minutos e a pilotagem do barco seria revezada entre os três remadores.
A partida foi às 5h20 da manhã, da Prainha de Santa Tereza, com a lua cheia ainda presente em um céu rosa, que anunciava o amanhecer de um lindo dia de sol.
O início da remada foi um pouco puxado. A corrente de sul estava mais forte do que o esperado e a ausência de uma brisa refrescante naquelas primeiras horas da manhã foi sentida.
Por isso, até a Ponta da Sela, eles remaram bem próximos à costa para sobretudo amenizar os efeitos da corrente.
À essa altura o vento começou a soprar mais forte, contudo, ao alcançarem a Vista, outro ponto de referência, o vento passou a soprar de forma favorável, o que acabou surpreendendo a todos, já que a previsão era a de que ele continuasse soprando contra durante aquele trajeto.
Sendo assim, os amigos não perderam a oportunidade para fazer um downwind irado ao longo de cerca de 15 km até alcançarem a praia do Bonete.
Nesse ponto, impossível não mencionar a imponente visão do “Buraco do Cação”, uma encosta com fendas enormes, sinistras e com histórias incríveis.
A temida Ponta do Boi, já na metade da travessia, é sempre uma incógnita, pois, é a região mais exposta da ilha e de mar mais revolto.
Nesses pontos, mesmo as previsões mais precisas podem não condizer com a realidade do momento. Portanto, toda cautela é necessária para que tudo corra da melhor maneira.
Não por acaso, da Ponta do Boi até Pirabura, a natureza se mostra imponente e onde a travessia se torna mais desafiadora.
Ali há inúmeros casos de naufrágios famosos, incluindo o do luxuoso transatlântico Príncipe de Astúrias, considerado a maior tragédia marítima brasileira.
E de fato esta foi considerada a parte mais crítica e decisiva de todo trajeto:
“Entramos na parte de superação pessoal. Desistir não seria mais uma possibilidade, pois metade da remada já havia sido feita”, revela Raquel Daoud.
Após alcançarem Pirabura, aproximadamente 60 km de remada já havia sido concluída. A essa altura tornou-se evidente que uma boa alimentação e hidratação seriam fundamentais para seguir em frente.
Afinal, o corpo deveria corresponder aos anseios da superação mental.
Deste momento em diante, Raquel, Thiago e Zizo já estavam há mais de seis horas em movimentação contínua, entre remadas e trocas, balanço do mar e pilotagem – E agora debaixo de um sol escaldante.
Na Baia de Castelhanos, o trio foi surpreendido pela aproximação de um grupo de golfinhos.
Porém, a aparição e a aproximação repentina das toninhas (espécie de golfinhos ali presentes) rendeu sustos no primeiro momento, mas risadas e motivação logo em seguida. Sem dúvida um bom presságio.
O trio seguiu em frente, controlando a mente e o corpo, à essa altura já dando sinais de fadiga. Contudo, ao passarem pela Serraria, a visão das ilhas de Búzios e Vitória, trouxe novo gás.
Determinados em virar a próxima “esquina” da ilha, a Ponta do Mar Virado, eles seguiram em frente, prontos para contornar o lado ilha.
“Passando por praias paradisíacas como, Poço, Fome, Jabaquara, tivemos a extraordinária sensação de que estávamos mais próximos de realizar nosso sonho”, conta Raquel.
Ao avistarem a Ponta das Canas, que marca o retorno ao canal, e agora nas águas abrigadas do lado sul da ilha, Raquel, Thiago e Zizo remaram bem próximos a costa novamente, para anemizar a corrente contra, que outrora os ajudara.
E assim completamente exaustos e realizados e felizes, após aproximadamente 12h30m de remada eles completaram a volta de Ilhabela remando com uma prancha de prone paddleboard em apenas um dia.
“Quem sabe agora podemos incluir mais esse desafio no calendário dos water sports do Brasil!”, finaliza Raquel Daoud.
Raquel Daoud é educadora física e remadora de SUP, Va’a e Prone paddleboard. Foi vice-campeã sul-americana Máster de V1, Top 5 SUP Race Feminino Profissional, em 2015, vice-campeã Waterman e Paddleboard do Aloha Spirit em 2018, além de ter feito a Volta a Ilhabela por quatro vezes (2x em OC-6, 1x em OC-1 e 1x de Paddleboard). Instagram @raquel_daoud.
Thiago Pustiglione é Guarda-Vidas e waterman, ex competidor do Brasileiro de SUP Race Profissional, duas veze finisher do Ironman Florianópolis, bicampeão Waterman Alma Surf Maresias, campeão Waterman Aloha Spirit e já fez a volta a Ilhabela oito vezes (6x em OC-6, 1x de SUP e 1x de paddleboard). Instagram @thiago_pustiglione.
Zizo é praticante armador de esportes aquático, surfista, remador de canoagem polinésia desde 2004 junto a Kanaloa (Florianópolis, SC), hoje atleta da Dos Reis Vaa (Ilhabela, SP). Instagram @zizo_vaa.