Aloha Spirit Festival terá 4 etapas em 2020. Confira as datas
Maior festival de esportes de água do mundo, Aloha Spirit Festival, confirma a realização de quatro ... leia mais
Mesmo não sendo a prova com o maior número de inscritos da história do prone paddleboard brasileiro, o Molokabra deixa um legado importante para a modalidade
O paddleboard brasileiro vive um momento muito importante após a realização do Molokabra 2020.
Não pelo número de participantes inscritos (17 no total) que, apesar de expressivo para a realidade do prone, não foi a competição nacional com mais atletas.
Na verdade, o Molokabra está atrás de competições no passado, como o Festival Floripa Surf Lifesaving, em 2016, que reuniu 36 remadores na Praia Mole de Florianópolis (SC), inclusive com a participação do nosso colunista Patrick Winkler,.
Fundamental mencionar o pioneiro evento de remada realizado por Mauricio Abubakir, nos anos 2000, na Bahia, reunido 21 remadores de paddleboard para uma travessia em Salvador.
Outro evento emblemático para o prone foi o Festival da Remada, em Santos, em 2008, com mais de 20 remadores disputando a raia da praia da Aparecida.
Há também competições tradicionais, como o Aloha Spirit Festival, que já registrou números semelhantes de participantes, geralmente com 15 inscritos na categoria, nos anos em que o prone paddleboard foi incluído ao evento.
Além disso, as provas de Triatlo Water Man, que incluem o prone paddleboard entre as categorias, colocam sempre mais de dez pessoas na água.
Mas, então, o que muda para o prone paddleboard brasileiro após o Molokabra 2020?
Se olharmos por uma perspectiva histórica, o esporte se desenvolveu isoladamente, em determinadas regiões do país.
Rico de Souza era conhecido pelas travessias que fazia pela orla do Rio de Janeiro, desde os anos 1980, nos dias de flat, como forma de manter o preparo físico em dia. Não eram exatamente pranchas de remada, mas, o princípio do prone paddleboard estava ali.
No início dos anos 2000, um grupo de surfistas em Santos (SP) criou uma das primeiras comunidades dessa modalidade de que se tem notícia.
Eles passaram a promover desafios de remada, como a Volta a Ilha de São Vicente, em 2003, que muito contribuíram para atrair cada vez mais adeptos à modalidade.
Por uma dessas causalidades que impulsionam movimentos para frente, nessa mesma época, o ciclista norte-americano Johnathan Goldberg, conhecido como Johnny G, que é ninguém menos do que o inventor do Spinning, passou uma temporada no Brasil, morando alguns meses no Guarujá (SP).
Johnny G usava o prone paddleboard como complemento aos treinos de Spinnig e estava à procura de uma prancha para remar em águas brasileiras.
Então ele contatou Adriano Teco, da Silver Surf, para encomendar um paddleboard. Contudo, a partir desse encontro, Teco teve acesso a muitas informações sobre a construção de pranchas de prone até então desconhecidas por aqui.
A partir desse encontro, a modalidade ganhou novo impulso chegando a outras praias do litoral paulista e também subindo a Serra, quando Ricardo Allmada deu início ao uso do paddleboard como ferramenta de treinamento a pessoas com deficiência em um projeto muito bem-sucedido que existe até hoje na Billings.
Enquanto isso, a centenas de quilômetros de distância, na Bahia, um núcleo forte de paddleboard se formava comandado pelo legend Maurício Abubakir.
Esse grupo cresceu e relevou o grande nome da modalidade até os dias atuais: Sinara Pazos.
Mais do que isso, em Salvador, o prone paddleboard floresceu atraindo um grande número de praticantes dedicados à modalidade.
Contudo, assim como ocorrera no litoral paulista, foi um fenômeno isolado.
Da mesma forma, os guarda-vidas de Santa Catarina, através de intercâmbios com os clubes de Surf Life Saving australianos, introduziram as pranchas de paddleboard em diversos postos de salvamento do estado e passaram a realizar competições da modalidade.
Além disso, Mark Jacola, lendário shaper havaiano que havia morado no Brasil nos anos 1970, produzindo pranchas da Lightning Bolt, fixara residência em Florianópolis nos anos 1990, e começou a produzir aquelas que são considerados as primeiras pranchas de prone paddleboard feitas no Brasil.
Contudo, o esporte não se desenvolveu no Sul do Brasil com a mesma intensidade que na Bahia.
No entanto, o prone caiu no gosto dos guarda-vidas catarinense, e os campeonatos anuais de Surf Life Saving, em Florianópolis, costumam reunir muitos participantes, geralmente surfistas e bombeiros.
Contudo, são competições que não costumam atrair remadores de outros estados, salvo raras exceções, como no caso de nosso colunista Patrick Winkler, que em 2016 participou de um desses eventos.
O próprio Patrick, que sem dúvida é um dos maiores embaixadores brasileiros desse esporte, conheceu o prone paddleboard na Austrália, nos anos 1990, mas só tomou conhecimento desses movimentos poucos anos atrás.
Mas, então, o que aconteceu?
É difícil fazer uma afirmação de forma assertiva, contudo, um panorama geral da evolução dos water sports no Brasil a partir dos anos 2000 pode nos dar algumas pistas.
Em 2008, o Festival da Remada em Santos colocou mais de 20 pessoas para remar de forma pronada na água, todavia, esse mesmo evento realizou a primeira prova brasileira de uma modalidade que já era febre no Havaí: o stand up paddle.
Pouco tempo depois, o SUP explodiu por aqui. Pelo menos em Santos, onde fui testemunha ocular da chegada desse esporte, vi muita gente que estava remando de Prone, migrar para o SUP.
Mesmo na Bahia, onde a modalidade fincou suas raízes mais fortes, nomes como Babi Brazil, então uma praticante assídua de paddleboard, migrou para o SUP race, colocando seu nome na história do esporte com cinco títulos nacionais.
É de se presumir, portanto, que o prone paddleboard perdeu gás no momento em que estava prestes a decolar.
Felizmente, personagens centrais na evolução desse esporte continuaram levando a bandeira do paddle adiante, entre os quais destaco: Maurício Abubakir, Sinara Pazos, Patrick Winkler e Ricardo Allmada.
O trabalho dessa galera foi fundamental para manter a chama acessa enquanto o esporte, ainda em uma velocidade mais lenta, continuou a crescer no Brasil.
É nesse momento que chegamos ao Molokabra 2020.
Como vimos, o Molokabra não foi a maior prova da história do prone paddleboard brasileiro, mas denota um aspecto muito mais importante.
Pela primeira vez, tivemos uma disputa realmente nacional da modalidade com um número expressivo de competidores vindos de várias partes do Brasil.
Isso significa que, naturalmente e sem a atuação de uma organização própria, a modalidade retomou uma forma de crescimento mais robusta e está prestes a alçar voos mais altos.
O próximo passo deverá ser institucionalizar o prone paddleboard brasileiro com a criação de uma federação nacional.
Certamente é um passo importante e deve ser tomado com muito cuidado pois a política, como sabemos, pode ser extremamente nefasta.
Outro ponto é a promoção do esporte através da criação de eventos próprios, o que normalmente se dá por meio de patrocínios de empresas do segmento e/ou do setor público.
Como o mercado do prone paddleboard é ainda muito pequeno, a institucionalização do esporte através de uma federação própria muito ajudaria na legitimação da captação de recursos para a criação desses eventos.
Enfim, são passos importantes que, mais cedo ou mais tarde, serão necessários para que o prone paddleboard brasileiro possa alçar voos mais altos ainda.
Afinal, o sucesso da modalidade no Molokabra 2020 mostrou que os ventos estão soprando de forma bastante favorável.