Onde anda Babi Brazil?

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Nosso editor bate um papo com Babi Brazil, pentacampeã brasileira de SUP, para saber o que tem feito uma das mais importantes atletas da história do stand up paddle nacional

Recordista de títulos nacionais de SUP Race, Babi Brazil garante que não irá abandonar as competições. Foto: AP

Babi Brazil dispensa apresentações. Cinco vezes campeã brasileira de SUP Race profissional, recordista nacional de medalhas conquistadas no Mundial da ISA, além de uma histórica 5ª colocação geral na M2O, Babi, em 2018, não tem mais sido vista com frequência em competições nacionais.

Para esclarecer o “mistério”, na entrevista a seguir ela fala sobre isso e também seu envolvimento crescente com o va’a e a repercussão acadêmica de seu doutorado que une música à periodização de treinamento. Confira:

Indo direto ao ponto: Você abandonou as competições de SUP race?

Não, de jeito nenhum! Este ano estou escolhendo mais de quais provas participar. Estou com várias demandas e bem focada na minha segunda graduação, em Educação Física, então o tempo está mais dividido. E participar de uma competição envolve treino, planejamento, enfim, tem uma coisa que desanima um pouco também que é viajar com prancha. Pra quem mora aqui na Bahia é complicado, pois as cias aéreas criam várias barreiras e como tem pouca gente que compete fora do estado, rachar um frete em um caminhão de transportadora convencional gera um custo muito alto. Falta um “Sunset Transboards” aqui! 

Então, é muito estressante você pagar um preço alto numa passagem de avião e não saber se vai conseguir embarcar ou trazer a sua prancha. Aí, somando isso com várias atividades em paralelo, trabalho, estudo, família, treino, e o fato de que as competições de SUP deram uma esfriada esse ano, eu resolvi dar uma reduzida no ritmo em 2018.

Mas não abandonei as competições de SUP race não! Tem uma coisa que ainda me motiva muito em competir no SUP, que é o nível do profissional feminino, acredito que chegamos numa fase em que temos grandes atletas na disputa, e isso dá gosto em competir!

Outra coisa é o nível dos equipamentos, veja que a maioria dos atletas de destaque nacional usa equipamentos “Made in Brazil”, a exemplo do Ratones, que tem desenvolvido modelos incríveis de pranchas Race, no meu caso, estou sempre trocando uma ideia com ele, e ele consegue fazer a prancha ideal para aquela situação e sempre inovando, isso também dá gosto em competir!

Cada vez mais envolvida com o va’a, hoje babi comanda os treinos da Equipe Inaê, do Yacht Clube da Bahia. Foto: AP

Por outro lado, temos visto você cada vez mais envolvida nas competições de va’a. Você pretende se dedicar mais à canoa polinésia agora?

Minha relação com va’a começou em 2014 e desde 2011 eu acompanho a evolução do esporte aqui, vendo a galera da Canoa Bahia, que foi primeiro clube de canoa havaiana do estado, só que meu foco sempre foi o SUP.

Mas em 2015 eu tive a oportunidade de compor uma equipe pra competir o Sul-americano de va’a lá em Santos (SP), a convite da Monica Pasco, e então eu tive a oportunidade de vivenciar essa cultura da canoa polinésia com mais intensidade num lugar onde ela é muito forte, que é Santos.

Então eu comecei a me envolver mais com o esporte aqui na Bahia e vi que também se abria um mercado de trabalho. Nas minhas viagens seguintes ao Havaí, absorvi mais dessa cultura e então passei a me dedicar a formar equipes e treinar remadoras em Salvador com o foco no va’a, a exemplo da Equipe Inaê, do Yacht Clube da Bahia. Mas sigo também treinando SUP, que é meu “esporte de raiz”.

O va’a está crescendo muito em Salvador não é?

Sim. Aqui está crescendo muito e essa demanda foi aguçando meu interesse. E sempre que eu foco em alguma coisa, vou a fundo. Então, passei a remar mais de va’a, comprei uma OC1, comecei a usá-la pra fazer um cross-training e a trabalhar também com a canoa. 

Marcelo Esquilo e Babi: uma parceria que tem gerado bons frutos. Foto: AP

Como foi que começou essa sua parceria com o Esquilo Sports Club?

Conforme eu fui me envolvendo mais com a canoa, foram surgindo convites para fazer leme em outras equipes, de outros estados.  Em relação ao (Marcelo) Esquilo, eu sempre vou ao Rio de Janeiro, pois tem uma parte da minha família que mora lá, e quando estou lá, costumo visitar a base do Esquilo, que é um cara que eu acho muito massa, sempre foi muito educado comigo, além do que eu admiro muito ele como profissional. Lembro de uma palestra que ele fez no Rei de Búzios que foi legal pra caramba, enfim, a gente acabou criando um laço forte de amizade e ele fez o convite pra ajudar no meu treinamento e com esse trabalho eu aprendo como profissional e como atleta, também passei a integrar o leme da equipe feminina dele e a gente está indo super bem no Estadual de Va’a do RJ. Só não vou poder participar da última etapa porque a data bateu com o Baiano de SUP.

Como é que você, que provavelmente é a atleta brasileira com mais participações nos Mundiais da ISA, está vendo essa briga entre a ISA e a ICF?

Eu acho que é aquela história do menino que fica órfão e herda uma herança bem gorda e ai fica um monte de parente em cima querendo abocanhar um pedaço dessa herança.

Mas eu acho que o SUP não pode ser comparado com canoagem. Nem o va’a se enquadra nesse contexto de canoagem. A canoagem polinésia, inclusive, tem a sua própria federação internacional e aqui no Brasil a CBVAA seguiu o mesmo caminho.

Mas, enfim, isso é uma situação bem delicada. Você veja aqui no Brasil, por exemplo, várias associações representando mesmo esporte quando você poderia ter uma só.

Acho que a ISA tem feito um bom trabalho. Fui pra quatro Mundiais e gostei de todos. Foram eventos bem feitos. Então eu acho que a ISA está mais perto do nosso esporte do que a ICF.

Mas é uma pena que exista esta briga, pois quem perde com isso somos nós atletas e profissionais envolvidos com o esporte.

Levantando a bandeira do Brasil no Mundial da ISA com autoridade. Foto: Reprodução/ ISA

Você acredita que o SUP vai chegar aos Jogos Olímpicos?

Eu acho que sim. A ISA fez um bom trabalho em relação ao surfe e vem adotando a mesma estratégia com o stand up paddle. Agora está um pouco confuso por causa dessa disputa com a ICF, mas, independente disso, acredito que sim, nosso esporte vai chegar aos Jogos Olímpicos.

Pouca gente fora da Bahia sabe que você tem um doutorado em educação musical e que, inclusive, defendeu uma tese muito bem recebida pela academia, unindo conceitos de treinamento à música. Como funciona?

Sou flautista formada pela Universidade Federal da Bahia e também mestre doutora em educação. A música e o esporte sempre foram muito fortes em minha vida.

Eu sempre usei os conceitos do esporte na música, porque pra tocar um instrumento você usa o corpo, trabalha a respiração. Então, o meu mestrado foi sobre o gasto energético em músicos. Fui pra dentro de um laboratório de exercício e coloquei oito flautistas lá dentro e fiz avaliação antropométrica, coloquei eles pra tocar e medi qual o esforço feito para tocar um instrumento. Então, a partir daí eu pego os conceitos da educação física e jogo pra dentro da música, e com isso vários músicos tiveram mais conhecimento sobre o quanto do corpo eles usam.

Existe uma grande dicotomia em relação à música. As pessoas sempre dizem: “Ah, tocar um instrumento é super relaxante”. Relaxante o caramba! Você se lasca pra tocar um instrumento! Músico profissional é cheio de lesão. Isso porque a maioria esquece do corpo, ficam naquela onda de repetição, ensaios, apresentações, e têm a falsa impressão de que a música é uma atividade meramente intelectual.

Mas o corpo é muito exigido e é aí que entra a ciência do esporte. Então, no meu doutorado, eu busquei aplicar a periodização de treinamento de atletas de alto rendimento na atividade do músico. Convidei dois clarinetistas e apliquei uma periodização de treinamento físico adaptada às atividades de músico. No caso, eles começavam com um trabalho de aquecimento no próprio instrumento, além de fazerem alongamentos e até exercícios sem o instrumento.

Tudo isso aliado aos princípios da repetição, levando em conta a sobrecarga, a progressão, individualidade biológica, enfim, são milhões de conceitos que eu fui aplicando.

Eu defendi essa tese no doutorado e tive uma repercussão muito boa na universidade federal. Os músicos da orquestra da universidade hoje estão utilizando meu trabalho como um guia e de vez em quando sou convidada pra dar algumas palestras sobre o tema.

A flauta e o remo, duas marcas registradas de Babi Brazil. Foto: AP

E em relação ao esporte?

Muitos atletas acham que remar forte é sinônimo de remar rápido. Mas não é bem assim e a gente pode usar a música para explicar. Por exemplo, se você tocar uma música rapidamente e com uma dinâmica bem baixinha, ou pode tocar uma música lentamente e com uma dinâmica forte, ou seja, alta.

Então, são temas subjetivos que a gente chama em música de “dinâmica”. E é uma coisa muito bacana, porque as pessoas têm padrões de comportamento. Elas remam forte e rápido, mas têm dificuldade em remar forte e lento. Isso é muito importante, principalmente na canoa, porque você não pode ter um ritmo muito frenético, senão você passa do ponto de deixar a canoa deslizar. Tem que ter um tempo da próxima remada ali. É como andar de bicicleta, você tem que descer uma perna para subir a outra. Tem um ‘giro ótimo’ para aquele deslocamento, e é a mesma coisa com a remada.

A música ajuda muito nisso. Tenho conversas com meus alunos sobre essa dinâmica e tem outros elementos que a música traz para o esporte que ajuda muito. Não é ouvir música remando. Não tem nada a ver! O que estou falando aqui são de elementos da performance musical virem para o esporte. É você tirar um pouco daquela coisa prática e mecânica e trazer mais para o mundo subjetivo. Basicamente, é isso.

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