
Canadense torna-se o primeiro remador PCD a atravessar os Grandes Lagos
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Um desafio que começou como um simples treino de resistência acabou se transformando em uma façanha. No último fim de semana, o remador amador Thiago Vasconcelos percorreu sozinho todo o contorno do Lago Paranoá, completando 91 quilômetros de remada ininterrupta em uma canoa V1, em quase 12 horas seguidas sobre a água.
A travessia solitária e sem apoio externo chamou a atenção da comunidade da va’a do Distrito Federal, que reconheceu no feito uma demonstração de preparo físico, mental e planejamento.
A jornada começou na Base da BPC, onde Thiago pretendia realizar um treino de cerca de 50 km pelo lado norte do lago, seguindo o sentido horário. Mas, ao chegar à Ponte JK, com 66 km percorridos, o plano mudou.
“Cheguei à Ponte JK com 66 km e pensei: já tô aqui… o lado norte foi gigante… por que não completar? Let’s bora!”, contou Thiago, com bom humor.
A decisão transformou o treino em um desafio de resistência e autossuficiência: sem paradas, sem apoio e sem qualquer tipo de abastecimento fora da canoa.
Thiago, contudo, estava preparado para longas horas de remada. O remador levou um kit enxuto, mas cuidadosamente planejado: dois isotônicos, dois energéticos, um Hidro Protein, três carbo gels, quatro bananinhas, um pé de moça e 1,5 litro de água em uma CamelBak. O plano inicial era consumir parte dos suprimentos a cada 10 km.“Melhor sobrar do que faltar”, frisou.
Mas conforme a distância aumentava, o desgaste físico e mental também se impunha. O que era um treino passou a ser uma verdadeira prova de resistência, exigindo atenção constante à técnica e à economia de energia.
Já no km 75, exausto, Thiago avistou sua esposa, Glacy Vasconcelos, que o aguardava na península com mais água. A ajuda seria bem-vinda, mas o remador optou por manter o desafio completamente independente: “Olhei pra ela e falei: tô bem. Pode voltar que eu termino sem levar mais nada.”
Dali em diante, a travessia tornou-se um exercício mental. Sem energia, com o telefone descarregado e já à noite, Thiago seguiu apenas guiado pelo brilho da orla e pelo som distante do evento Na Praia, que indicava a proximidade da chegada.
“O lago me mostrou que resistência não é sobre força; é sobre continuar mesmo quando tudo já acabou”, refletiu após o desafio.
Após 11 horas e 48 minutos, Thiago voltou à rampa da base onde iniciou a jornada, já sem luz, som ou público. Um encerramento silencioso para uma conquista monumental.
“Foram 91 km de aprendizado. Mais do que remar, foi sobre estar presente, testar limites e respeitar o lago. Terminei exausto, mas grato. A volta ao Paranoá agora é parte de mim”, concluiu.
Com 48 km² de espelho d’água e mais de 90 km de contorno navegável, o Lago Paranoá é o coração dos esportes aquáticos em Brasília. O local abriga dezenas de clubes, escolas e grupos dedicados à canoagem havaiana, stand up paddle e caiaque, atraindo atletas de todas as idades e níveis de experiência.
A volta completa ao lago é considerada um marco mesmo entre remadores experientes e poucos tentam realizá-la sozinhos, e ainda menos conseguem concluir sem pausas ou apoio externo.