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Às 7h do dia 14 de julho, quando a escuna Sabiá deixou o trapiche do Sava Clube, em Porto Alegre (RS), o termômetro marcava 10ºC, temperatura um pouco mais amena que a das manhãs anteriores. O barco de apoio acompanharia o trajeto de uma canoa havaiana e outra taitiana, ambas OC6, da base POAVA’A/Sava Clube, e o surfski com o canoísta olímpico Gilvan Ribeiro.
Na tripulação, equipes de filmagem, fotografia, imprensa e convidados. Todos dividiam espaço (e se revezavam em volta do fogão à lenha do barco) para ver e registrar de perto o percurso dos atletas até o Arroio Araçá, na Barra do Ribeiro. A expedição nas águas do Lago Guaíba marcaria, a um só tempo, uma das maiores distâncias percorridas pelas ainda jovens equipes da Escola POAVA’A/Sava Clube, e o coroamento de uma semana repleta de trocas, crescimento pessoal e esportivo para os atletas. Seria a despedida da Capital gaúcha do atleta santista André Gomes, pertencente à Canoa Brasil, base criada pelo precursor da canoagem oceânica no Brasil, Fábio Paiva.
Os dias passados em Porto Alegre, a convite de Glauco Schultz, um dos remadores da base de canoagem POAVA’A, tiveram de tudo: clínicas de técnica de remada, bate-papos informais, observação atenta da performance de cada remador – e dicas valiosas para otimizar o rendimento individual e da equipe -, relatos de experiências em competições e treinos, e confraternizações, é claro, com muito churrasco e chimarrão.
“Em Santos, 18ºC já é frio. Então remar nessas temperaturas, com vento e chuva como nos primeiros dias aqui, foi um desafio diferente, é gelado”, contou André, que treina em canoa havaiana desde 2009 e hoje é instrutor na Canoa Brasil.
O intercâmbio entre as bases nacionais, cuja semente foi plantada nesse encontro, pode representar, segundo ele, uma nova etapa para a canoa havaiana no Brasil. “A iniciativa da POAVA’A é importante porque ainda não temos a cultura de trocar experiências, de ouvir os relatos de remadores de outros estados, que vivenciam situações bem diferentes das nossas. As bases ainda são muito fechadas. Esse é um aprendizado essencial, e eu sempre digo: aproveitem o contato com outros atletas nos campeonatos, conversem, perguntem, com humildade e respeito. Isso não é importante só para fortalecer a base, mas para consolidar o nosso esporte no Brasil também”, acrescentou.
Do convívio com os atletas do Sava Clube, o santista destacou a “fome de aprender”, a harmonia do grupo, força física e a rápida formação de equipes, para uma base que recém completa um ano e já disputou a Volta à Ilha de Santo Amaro, mais extensa prova de canoa havaiana do mundo.
A cada apontamento com a finalidade de “lapidar” a base porto-alegrense, transpareciam o conhecimento técnico e a paixão pelo esporte de quem vive a canoa havaiana 24h por dia. “Não basta chegar no clube, colocar o equipamento, remar e só aparecer no horário da próxima aula. Essa é uma modalidade que tem uma cultura própria, que exige que se conheça detalhes que vão desde formas de amarração na canoa até a conservação do equipamento; que a equipe vivencie o sentido de coletividade tanto em tarefas de rotina, como organização e funcionamento da escola, até o respeito pela alma da canoa”, ressaltou. No universo da canoa havaiana há um código de conduta, como um “manual de etiqueta” que propõe cuidados e reverências à embarcação que, além de proporcionar desafio e aventura, mantém seguras as vidas dos atletas e acesas as tradições da Polinésia.
Dada a largada, além dos veteranos André Gomes e Gilvan Ribeiro, os atletas da POAVA’A/Sava Clube – homens e mulheres, com idades entre 35 e 60 anos, diferentes profissões e a paixão pela remada em comum -, iniciavam o percurso com a sorte de contar com um dia ensolarado e águas calmas. No trajeto estavam previstos revezamentos e trocas de embarcações (da canoa havaiana para a taitiana ou o surfski).
Até o que não estava no script, uma virada de canoa na água gelada, ao chegar na Ilha de Chico Manoel, contribuiu para tornar o dia mais divertido e relaxar a equipe, que fez bonito: 64 km em 6,5h (sem contar as paradas. Duração total da travessia: 10h), com pausas para almoço e contemplação da paisagem.
As equipes do POAVA’A têm enfrentado as baixas temperaturas bravamente e com muita disciplina. Afinal, não são poucos os desafios pela frente: vem aí o circuito nacional Aloha Spirit, a próxima Volta à Ilha de Santo Amaro e diversas regatas e provas regionais e nacionais no calendário de esportes aquáticos.
E se engana quem pensa que as mulheres ficam atrás na coragem e disposição: o mesmo treinamento e preparo fora da água por qual passam os atletas masculinos, elas também encaram. De musculação à natação e treinamento funcional, lá estão as meninas, em número inclusive superior aos homens. “Muito do boom dos esportes na água nessa última década se deve às mulheres. Lá atrás, quando o Stand Up Paddle ‘estourou’ no Brasil, foi assim. A gente olhava as pranchas deslizando no mar e só davam elas”, conta Gomes.
Mas esporte náutico não e só exercício. É prazer, relaxamento, sentir a natureza, recarregar energias e se reconectar consigo mesmo. Em Santos, há grupos de canoa havaiana específicos para a melhor idade, assim como é possível encontrar avôs e netos remando na mesma embarcação, ou pessoas que encontraram na remada uma terapia coadjuvante na recuperação de doenças, físicas ou mentais. Esse é o caminho: aproveitar (e agradecer) a todos os benefícios que o esporte proporciona: amizade, saúde, disciplina e superação.
Para Glauco Schultz, a oportunidade de integração dos remadores do POAVA´A com um instrutor de canoagem que atua em Santos (SP), na Canoa Brasil, base de canoagem que trouxe a primeira canoa para o Brasil:
“É de um significado imenso para todos nós, por três motivos principais. Primeiro por fomentarmos o aperfeiçoamento técnico dos remadores, visando a prática do esporte com segurança, por longo tempo e sem lesões, fato que geralmente afasta as pessoas dos esportes em geral. O segundo motivo refere-se aos treinamentos físicos focados na melhoria de desempenho na canoa, individual e coletivamente. O POAVA´A realiza passeios, aprendizado das técnicas de remada e também treinamentos voltados para as equipes que querem competir, daí a importância de diversificar e direcionar o aprendizado para diferentes situações. As orientações que recebemos durante a semana foram importantes para identificarmos o que precisamos fazer para garantir uma boa participação nos campeonatos regionais e nacionais”, conta Schultz.
Por fim, o remador gaúcho destaca o estado de espírito que o esporte proporciona para as pessoas, e como devemos encará-lo, outro tema recorrente nos debates da semana. “O André conseguiu cumprir com esses três objetivos durante esses dias em Porto Alegre: repassar conhecimentos técnicos, construir estratégias de treinamento e expressar a energia da cultura polinésia no cuidado dos equipamentos, da natureza e das pessoas. Não é somente uma atividade física, mas também a preservação de uma tradição, de valores e de uma filosofia de vida que devemos conhecer, praticar e promover com as pessoas com quem convivemos. São esses os pilares da base de canoagem POAVA´A/SAVA Clube, que foram fortalecidos durante essa semana de integração com o atleta e instrutor de canoagem de Santos” .
Remadores e remadoras do POAVA´A que participaram da travessia: Cris Viana, Adriana Peppl, Alexandre Derivi, Sandra Valente, Caroline Techio, Eduardo Becker, Glauco Schultz, Igor Monteiro, Leide Oliveira, Nilton Marcon, Regis Fonseca, Xuxu (Evandro Almeida), André Gomes, Rejane Mattos Rosa, Andressa da Rosa Vega, Luciano de Lima Pinto e Gilvan Ribeiro.
No POAVA’A/Sava Clube, da Sociedade Amigos da Vila Assunção, é oferecida a prática de canoa havaiana, surfski, caiaque e stand up paddle, com saídas diárias e horários variados, além de passeios regulares, mediante agendamento. Não é necessário ter equipamento próprio para iniciar a atividade.
Informações pelos telefones: (51) 99997-6585, (51) 99296-0355 ou (51) 32691980 – E-mail: poavaasavaclube@gmail.com
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